Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Painel debate relação da imprensa com protestos políticos

Protestos violentos são capazes de atrair não apenas a mudança política, mas também a atenção da imprensa. No entanto, esta atenção tem um preço. Esta foi uma das questões abordadas pelos participantes de um painel de debates da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia na semana passada.

O evento reuniu jornalistas e acadêmicos para discutir os protestos na Praça da Independência, na Ucrânia, que resultaram na queda do presidente Viktor Yanukovych, bem como seus efeitos sobre o futuro do país e sobre os movimentos de protesto na Rússia. A violência contra jornalistas e manifestantes também entrou em pauta.

A mesa principal contou com a presença de Ann Cooper, professora de Práticas em Jornalismo Internacional da Universidade de Columbia e moderadora do painel; também incluiu a jornalista russa Olesya Gerasimenko; o sociólogo e professor de jornalismo Todd Gitlin; o jornalista Timothy Frye, diretor do Harriman Institute (instituto da Universidade de Columbia voltado a estudos da Rússia, Eurásia e Leste Europeu); além de Oxana Shevel, professora de Ciências Políticas na Universidade Tufts, de Boston.

A violência como chamariz para a imprensa

“Será que a violência é necessária para atrair interesse jornalístico ou para manter o assunto no noticiário?”. Esta foi a principal pergunta da noite, apresentada por Ann.

Oxana Shevel opinou dizendo que os protestos na Praça da Independência ajudaram a atrair a atenção da mídia e reanimaram a causa dos manifestantes. “Diante do pouco compromisso do governo durante os protestos pacíficos iniciais, a violência acabou por se tornar um passo necessário para a mudança. Se o regime tivesse se comprometido com os manifestantes antes, [Yanukovych] ainda estaria no poder”, disse ela. “Como os eventos progrediram, houve muito pouca concessão”.

“Os manifestantes estavam na linha de fogo de uma força policial particularmente brutal”, completou. “Mas não só os manifestantes sofreram; jornalistas e médicos também se tornaram vítimas da violência”.

O pacifismo em função da isenção jornalística

Já Olesya Gerasimenko disse que tem esperanças de que a Rússia evite levantes violentos similares nos próximos meses. Olesya diz que, no papel de repórter, tenta não estimular a violência através de sua retórica. Mesmo com questões ferozes envolvendo a liberdade de imprensa e os abusos dos direitos humanos na Rússia, ela disse que pretende permanecer politicamente neutra, a fim de manter-se longe de problemas com as autoridades russas, e também para produzir um trabalho mais equilibrado. “Não sou membro do movimento de oposição. Sou jornalista e tento me isentar em relação aos dois lados”, disse. “Você acaba se tornando um inimigo para ambos… mas isso é indício de um bom artigo ou de uma boa investigação.”

De acordo com Timothy Frye, Olesya não precisa se ??preocupar. Ele diz que os esforços de Putin para pintar os manifestantes russos como um grupo organizado de arruaceiros impedem que os protestos russos tomem a mesma proporção daqueles na Praça da Independência – mas também impedem a realização do mesmo tipo de mudança política significativa. “Desde 2012, os protestos têm praticamente fracassado”, disse Frye. “Há um enorme investimento da parte de Putin para ter certeza de que [os protestos] não vão acontecer”.