Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘NYT’ sofre censura em reportagem sobre a al-Qaeda

A edição de sábado [22/3] do International New York Times veiculada no Paquistão trazia boa parte da primeira página em branco. No resto do mundo, o jornal publicou, naquele espaço, uma reportagem intitulada “O que o Paquistão sabia sobre bin Laden”, que analisava a ligação entre a inteligência do país e o terrorista responsável pelos atentados do 11/9.

A matéria, assinada pela jornalista Carlotta Gall, seguia as pistas sobre a acusação de que a unidade de inteligência do Paquistão teria proporcionado abrigo ao líder da al-Qaeda antes de sua morte em uma operação militar americana em 2011.

 

 

Segundo o New York Times, acredita-se que a censura tenha sido realizada por decisão do jornal local Express Tribune, que tem um acordo de distribuição com a versão internacional do diário no Paquistão. Cerca de nove mil exemplares foram impressos com o espaço em branco na primeira página. Especula-se que o motivo de apagar a matéria sobre a ligação do Paquistão com a al-Qaeda seria o temor do Express Tribune de sofrer represálias, já que, recentemente, o jornal foi ameaçado por um grupo extremista da região.

Eileen Murphy, porta-voz do New York Times, disse que o diário não foi informado ou consentiu com o corte. Ela afirmou que a empresa compreende que seus parceiros têm de lidar, por vezes, com pressões locais, mas lamenta qualquer tipo de censura ao jornalismo.

Profissão perigo

Carlotta Gall conta que sofreu intimidação ao reportar no Paquistão sobre grupos extremistas islâmicos, e há diversos casos de jornalistas paquistaneses agredidos ou assassinados em ataques que, suspeita-se, tenham envolvimento de forças de segurança do Estado. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o Paquistão ainda é um país perigoso para repórteres, com pelo menos 46 deles mortos na última década.

Em maio de 2013, o chefe da sucursal do Times em Islamabad, Declan Walsh, foi obrigado a deixar o país logo antes da eleição nacional. Seu visto ainda não foi restabelecido, mas o governo prometeu, este mês, que iria rever o caso do jornalista.