Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Como o cinema pode influenciar a reportagem em vídeo

Durante o Festival Internacional de Jornalismo, realizado em Perugia, na Itália, na semana passada, um dos palestrantes chamou a atenção ao sugerir que o cinema deveria influenciar mais o videojornalismo. David Dunkley Gyimah, videojornalista premiado e professor na Universidade de Westminster, observou que, embora muita coisa tenha mudado na indústria de notícias, o formato e a metodologia das reportagens em vídeo pouco se alteraram.

Gyimah mencionou a criação do YouTube em 2005, citando o acontecimento como uma das mudanças mais importantes para o nicho de vídeos, mas disse que, embora a distribuição da “palavra escrita” tenha mudado muito, o “pacote padrão” para a criação e transmissão de notícias em vídeo continua o mesmo desde a década de 1950.

Para o professor, um estilo cinematográfico na reportagem às vezes pode se mostrar mais adequado. Ele citou como exemplo o caso da cidade de Beichuan, na China, destruída por um terremoto em 2008. Embora o fato já não seja mais notícia, ainda oferece informações, pois até hoje familiares de desaparecidos retornam à cidade em busca dos corpos de seus parentes. “É uma história de interesse humano, que pode ser contada através de uma visão diferente para conferir maior impacto emocional e também para inserir o espectador na história”, disse Gyimah,

Ele reiterou, no entanto, que a interpretação cinematográfica não deve seguir os moldes de Hollywood, e sim adotar o significado original do cinema que “capta um enredo dentro de determinado cenário”, filmando acontecimentos importantes e reagindo a eles, em vez de chegar com uma ideia definida, fazendo tomadas que se adequem ao modelo tradicional de reportagem.

Colaboração com elementos artísticos

O professor acredita que um fundo artístico pode conceder uma “paleta mais ampla” aos videojornalistas, de modo que as histórias sejam capazes de tocar o espectador mais profundamente. “No entanto”, frisou ele, “isso não significa o fim do papel do repórter ou correspondente. No caso de furos e de reportagens ainda em desenvolvimento, pode ser mais adequado usar de uma narrativa linear, mas quando houver informações suficientes para contextualizar os acontecimentos, tanto o jornalista quanto o cineasta podem fazer uma abordagem diferente”.

Gyimah enxerga a colaboração com os elementos mais artísticos da indústria como uma área a se explorar, bem como ocorreu em outros nichos. “Não é uma ciência definida, ela vem de discussões”, disse ele, “assim como programadores e jornalistas, que se reuniram e começaram a aprender uns com os outros, e este casamento funcionou no ramo do jornalismo de análise de dados. O mesmo vale para contar novas histórias de uma forma mais contemporânea, com as quais o público queira se envolver”.

Alguns profissionais parecem dispostos a aplicar este conceito. Os jornalistas do canal de notícias online Vice News, por exemplo, geralmente se apresentam como “cineastas”, e não profissionais de radiodifusão ou do ramo de notícias.

Gyimah sabe que questões éticas podem surgir caso as histórias sejam distorcidas para fins de “propaganda”, mas reforçou que o jornalismo-cinema é apenas uma alternativa às ideias atuais de videojornalismo, e não uma opção definitiva.

Ele acrescentou que os limites incertos entre quem é e quem não é jornalista, e o que é ou não é notícia, devem ser um motivo para experimentação e colaboração. “Tais limites foram embora em 2005 [com a criação do YouTube]. Se não houvesse a internet, por exemplo, não haveria um site como o Vice.”