Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Polícia de Nova York publica suas próprias matérias

Antigamente, o nome que se dava era press release, escreve a jornalista Alice Speri, da Vice News. Os textos vinham numa linguagem mais ou menos seca e incluíam os fatos, algumas citações e detalhes sobre como fazer contatos para uma suíte. Os jornalistas os liam com alguma dose de ceticismo e faziam sua própria investigação antes de escrever uma matéria.

Pelo menos para o Departamento de Polícia de Nova York, os tempos mudaram. A polícia nova-iorquina vem tentando modernizar sua imagem e aproximar-se do público mais jovem, adotando uma linguagem com gírias e as redes sociais. Sua assessoria de imprensa eliminou várias das etapas tradicionais com uma recente iniciativa de divulgar “matérias jornalísticas” escritas, aparentemente, pelo próprio Departamento e publicadas diretamente nas redes sociais.

O autojornalismo da polícia é um pouco como se alguém se referisse a si próprio na terceira pessoa. Na quarta-feira (18/6), o Departamento postou em sua conta no Facebook um desses textos. Dizia o seguinte:

“Na manhã de hoje, um policial novato que serve no Bronx perseguiu e prendeu um homem de 17 anos que portava uma arma e, momentos antes, disparara quatro vezes contra outro homem, que deixara como morto na rua Mount Eden. O oficial de polícia Kelvyn Vargas, de 31 anos, ouviu os tiros e foi investigar. Vargas viu Johnson – que ainda apontava a arma para a vítima – correr na outra direção e o perseguiu. Contratado pelo departamento de polícia de Nova York há menos de um ano e destacado para servir no Bronx em janeiro, Vargas gritou ‘Polícia! Não se mexa!’, mas Johnson continuou correndo e dobrou na Avenida Selwyn, segundo a polícia. Vargas dobrou a esquina e viu Johnson pular para dentro de um contêiner de lixo, onde o prendeu sem incidentes posteriores. Vargas também recuperou um revólver calibre 22 carregado.”

Segundo Christopher Robbins, que escreve no blog Gothamist, voltado a notícias de Nova York, a imprensa não recebeu qualquer release a respeito da história do policial “novato” – termo que, por sinal, não seria encontrado nos releases da polícia nova-iorquina, assim como as expressões “homem que portava uma arma” e “deixado como morto”. Os releases divulgados pela polícia sobre “prisões bem-sucedidas”, que destacam detalhadamente os atos heroicos dos policiais, são normalmente escritos numa linguagem seca e enviados aos veículos de comunicação antes de serem postados numa rede social.