Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Trabalho colaborativo ajuda a verificar informações das redes sociais

Na sequência de um acontecimento tão tragicamente incerto quanto o desastre do voo MH17 na Ucrânia, entre acusações e contra-acusações sobre de quem era a responsabilidade, torna-se cada vez mais importante que as organizações jornalísticas verifiquem a autenticidade do material das redes sociais.

É aqui que se tornam muito úteis a agência de notícias Storyful, com sede em Dublin, e sua Redação Aberta. A empresa, adquirida em dezembro de 2013 pela News Corp por 18 milhões de euros (cerca de R$ 67,5 milhões), especializa-se em investigar e verificar o conteúdo jornalístico nas redes sociais. A Redação Aberta, que a Storyful lançou no Google+ em junho de 2013, é “uma comunidade em tempo real de profissionais da informação” cujo objetivo é “desmascarar, checar os fatos, esclarecer, dar crédito e nomear a fonte” das informações.

A ombudsman do New York Times, Margaret Sullivan, disse, numa entrevista recente, que o Twitter está tão intimamente “entrelaçado com a notícia que é difícil imaginar o jornalismo sem ele”. Margaret destacou a necessidade da “velha e boa dupla checagem e transparência” e acentuou o valor de serviços de terceiros, como a Storyful – utilizados pelo New York Times e outros grandes veículos de mídia.

Em meio a uma torrente de informações não verificadas após o avião da Malaysia Airlines ser abatido, a Redação Aberta confirmou que membros da milícia separatista da República Popular de Donetsk “no mínimo” têm acesso a um sistema de mísseis antiaéreos que poderia realizar um ataque como aquele dirigido contra o avião. “Há três tipos de conteúdo – três vídeos e uma imagem – que, no caso dos vídeos, mostram definitivamente um míssil Buk (terra-ar) no território ocupado pelos rebeldes e, no caso da imagem, é igualmente quase certo que seja no território deles”, diz David Clinch, editor-executivo da Storyful.

Discussão pública

A Redação Aberta da Storyful é a mais recente experiência de alto nível em jornalismo aberto, compartilhando a informação com os leitores, que são convidados a contribuir com o processo de reportagem. O conceito não é propriamente novo, pois começou no fim da década de 90, mas tem encontrado resistência por parte de jornalistas acostumados a não mostrar emoção com furos. Também tem havido uma relutância em geral para reconhecer o conteúdo, com base na qualidade e confiabilidade. David Clinch, que já foi pioneiro na coleta de informações de redes sociais para a CNN, acredita que o jornalismo – com exceção de algumas matérias realmente exclusivas – só tem a ganhar com a abordagem aberta. “O produto final é melhor porque a discussão [inicial] é pública”, diz ele. Isso inclui, evidentemente, o produto final da Storyful, com a empresa fornecendo “conteúdo com fontes socialmente identificáveis” a seus clientes de mídia.

Mark Little, que fundou a Storyful e atualmente é seu principal executivo, diz: “A Redação Aberta proporciona uma transparência que falta ao jornalismo tradicional. Toda a decisão editorial passa por um processo de verificação e discussão. Toda a matéria evolui com a velocidade do fato, e não com comentários ou especulações.”

No caso do voo MH17, a Storyful publicou um post destacando as principais medidas que tomou na verificação da informação que coletara das redes sociais, inclusive por meio de mensagens do Twitter vinculadas à República Popular de Donetsk – muitas delas posteriormente apagadas – e procurando referências históricas aos sistemas de mísseis terra-ar, vídeos do YouTube que supostamente mostrariam o sistema de mísseis na Ucrânia oriental antes do desastre e vídeos do local da queda. Porém, somente os clientes da Storyful têm acesso total à “verificação forense” abrangendo os números de contato e os e-mails.

É uma abordagem que parece funcionar. Recentemente, a empresa anunciou o lançamento de um painel de notícias na versão 2.0 e aumentou sua equipe global, com Mandy Jenkins, que deixou o Huffington Post, assumindo como editora da Redação Aberta. A Storyful continua a desenvolver trabalho com marcas e agências, assim como vem expandindo os direitos e gerenciamento para vídeos criados por usuários.