Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jeff Zucker e a modernização da CNN

Vinte meses após tomar posse em seu cargo, Jeff Zucker – presidente da CNN Worldwide – ainda tenta definir qual o lugar da CNN num mundo de informação em tempo real ilimitado. Ele vem demitindo jornalistas e cortando despesas ao mesmo tempo em que tenta manter a relevância na era digital de um canal que já foi líder como rede de notícias. Em grande parte, seus esforços ainda continuam, com destaque para os desafios que os negócios do jornalismo enfrentam.

Em 2014, pelo menos por ora, os índices da CNN estão pairando entre os mais baixos dos últimos vinte anos. De acordo com a empresa de pesquisas Nielsen, a média de espectadores do horário nobre em 2014 caiu 6% em relação a 2013. E o total de espectadores diários caiu 7,6%, no mesmo período.

A CNN não é única nesta situação delicada, no entanto, pois a audiência total dos canais de noticiários vem enfrentando um declínio há vários anos. Neste ano, o MSNBC sofreu uma queda de 12% em relação ao ano passado, caindo para 184 mil espectadores. Na Fox News, que continua dominando a categoria, a queda foi de 1,3%, segundo a Nielsen.

A urgência de soluciona a crise na CNN tornou-se mais premente para Jeff Zucker depois que a Time Warner recusou a proposta de fusão com a 21st Century Fox. Agora, a Time Warner terá que provar a seus acionistas que pode crescer e gerar lucro.

Para 2015, 12 novos seriados

Dentre as mudanças implementadas por Zucker, estão a ênfase em noticiários de última hora, destacando a cobertura de duas ou três principais reportagens durante o dia, em vez de apresentar uma reportagem dispersa com manchetes ao longo de todo um dia, como era comum no passado. O motivo fundamental é que os espectadores provavelmente acompanham as notícias na internet ou nas redes sociais. Jeff Zucker faz questão de acompanhar o processo de perto e dirige reuniões diárias com seus jornalistas.

Zucker também ampliou a definição de notícia. Seus seriados originais agora são centrais na estratégia de crescimento. Embora já existissem projetos para alguns seriados, como “Parts Unknown”, de Anthony Bourdain, sobre viagens e comida, nenhum tinha ido ao ar antes da chegada de Jeff Zucker. Para 2015, está programada a entrada de mais 12 seriados no canal.

Jeff Zucker não quis dar declarações para esta reportagem, mas outros executivos da CNN disseram que a visão de seu chefe – misturar notícias de última hora a seriados, ao mesmo tempo em que investe pesadamente em operações digitais – vem dando mostras de sucesso e ganhando ritmo. Indo de encontro aos índices apresentados pela Nielsen, destacaram o aumento em espectadores tanto no total diário, quanto no horário nobre durante o terceiro trimestre de 2014 (se comparado ao mesmo período de 2013).

A ofensiva da CNN sobre uma programação original tem seus riscos, no entanto. O custo de produção de uma hora de um seriado original é muito superior ao de uma hora de notícias. E caso ocorra uma matéria importante de última hora, a CNN tem que antecipar os programas de entretenimento para dar espaço à cobertura jornalística. No entanto, há recompensas em potencial: Donna Speciale, presidente para venda publicitária da Turner Broadcasting, disse que os seriados e documentários ajudaram a aumentar os índices de publicidade e renderam 60 novos anunciantes.

Operações digitais são prioridade

Assim como o restante das organizações jornalísticas, a CNN priorizou a expansão de suas operações digitais. Apesar de maiores levas de demissões, a CNN acrescentou cerca de 50 empregados à divisão online nos últimos cinco meses. “De muitas formas, agora o digital é a porta de entrada para a marca da CNN”, disse Kenneth Estenson, vice-presidente e gerente geral da CNN.com.

Atualmente, a CNN está em terceiro lugar entre as empresas de maior tráfego de notícias e informação digital nos Estados Unidos, registrando 122,6 milhões de visitantes únicos em seu website em agosto de 2014, 32% a mais do que no mesmo período do ano anterior, segundo a comScore.

Christopher Geraci, presidente da emissora Omnicom, disse que embora a CNN continue sendo uma marca poderosa, a briga por espectadores e pela publicidade torna-se mais feroz a cada dia que passa. “É um mercado difícil para qualquer organização jornalística”, disse. “Há muita notícia por aí.”