Foi a morte do fotojornalista britânico Tim Hetherington em um ataque na Líbia, em abril de 2011, que inspirou Sebastian Junger a lançar uma campanha em defesa do aumento de treinamento médico para profissionais de imprensa que atuam como freelancers em zonas de conflito. O jornalista americano – que dividiu com Hetherington a direção do longa Restrepo, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2011 – alega que jornalistas contratados costumam receber este tipo de treinamento, mas que os profissionais independentes, justamente os que ficam mais expostos a riscos, não têm o mesmo privilégio.
Para reforçar seu argumento, Junger – que também é autor do livro que inspirou o filme Mar em Fúria – fundou a Reporters Instructed in Saving Colleagues (RISC), organização sem fins lucrativos voltada exatamente a este tipo de treinamento, para que jornalistas possam aplicar conhecimentos de primeiros socorros em colegas feridos.
A organização foi criada em 2012 e já formou cerca de 200 jornalistas freelancers em habilidades médicas simples e essenciais, como amarrar torniquetes e transportar feridos, medidas que podem significar a diferença entre a vida e a morte. Junger acredita que Hetherington provavelmente teria sobrevivido caso os colegas que testemunharam o ataque de 2011 tivessem conhecimentos de primeiros socorros.
Em novembro, a RISC organizou um leilão beneficente com imagens doadas por 46 fotógrafos, a fim de arrecadar verba para os treinamentos que proporciona. (Cada sessão de treinamento em Nova York custa 24 mil dólares e atende 24 alunos; se realizada no exterior, o custo sobe para 36 mil dólares). Junger diz que o levantamento de fundos a cada ano é uma luta e que os leilões são apenas mais um caminho de arrecadação.
Tim Hetherington
A relação entre Junger e Hetherington pode ser resumida em um episódio um tanto melancólico narrado pelo americano em uma entrevista ao jornal britânico The Telegraph.
Ao colher depoimentos de soldados durante a realização de Restrepo, Junger disse ter detectado um sentimento de culpa em relação aos companheiros mortos em campo. “Eu não compreendia isso. O que eles queriam dizer ao alegar culpa por ver um amigo sendo baleado na testa no meio da guerra…? O que mais poderiam ter feito?”, questionava ele. “Eu pensava assim até Tim ser morto e, indo de encontro a toda a lógica, flagrei-me experimentando exatamente a mesmíssima reação”.
Restrepo retrata a situação de jovens soldados norte-americanos no vale do Korengal, no Afeganistão. Os dois jornalistas acompanharam, durante um ano, um pelotão durante uma operação altamente arriscada contra militantes do Talibã.
Hetherington morreu em 20/4/11, durante um conflito entre rebeldes e forças do governo em Misrata. A terceira maior cidade da Líbia havia sido cercada por militares leais ao ditador Muammar Kaddafi e foi palco de violentos confrontos e centenas de mortes. Além de Hetherington, o fotojornalista americano Chris Hondros também morreu no ataque.
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