Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Criação de Ministério para controle da informação preocupa jornalistas

A criação de novos ministérios na Ucrânia tem gerado grande controvérsia no país, principalmente em relação ao novo Ministério da Política de Informação, rapidamente apelidado de “Ministério da Verdade” (em alusão ao clássico 1984, de George Orwell). Os críticos não apenas questionam o propósito do Ministério, como também se queixam da falta de transparência em torno de sua criação.

Aparentemente, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, parece estar por trás da ideia de criar o novo Ministério, que teria como principal objetivo confrontar a máquina de propaganda da Rússia, mas que, alegam os críticos, acabará por restringir a liberdade de expressão e inibir o trabalho dos jornalistas.

O Ministério será chefiado por Yuriy Stets, chefe do Departamento de Segurança da Informação da Guarda Nacional da Ucrânia e também ex-produtor-chefe da emissora Canal 5, de propriedade de Poroshenko.

A criação do novo órgão ocorre logo após a publicação de diversas reportagens que criticaram o uso de armas controversas por parte do governo no leste da Ucrânia, bem como possíveis crimes de guerra cometidos pelas Forças Armadas.

Jornalistas protestam e ironizam

Em uma manifestação em frente ao Parlamento, jornalistas ucranianos denunciaram o novo Ministério. Cerca de 40 profissionais da imprensa e ativistas seguraram cartazes com dizeres como “Olá, Big Brother”. Eles exigiam que legisladores entrassem no Parlamento antes da sessão, a fim de votar contra a nomeação de Stets.

Serhiy Leshchenko, jornalista investigativo, político e vice-editor-chefe do site de notícias Ukrainska Pravda, chamou o Ministério de “bomba-relógio” e disse que ele poderia minar a democracia na Ucrânia. Leshchenko participou da votação no Parlamento, mas se absteve de seu voto.

Seu colega Mustafa Nayyem, jornalista e também membro do Parlamento, argumentou que os idealizadores do novo Ministério podem até ter boas intenções, mas que o mesmo só deveria ter sido criado após “ampla discussão pública e profissional para esclarecer seus objetivos e, o mais importante, seu significado”. Nayyem foi o único deputado a votar contra o governo.

A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras declarou que se opõe firmemente ao Ministério da Política de Informação, alegando que colocar o governo encarregado da política de informação de um país é um grande retrocesso que abre caminho para excessos graves. “Em uma sociedade democrática, os meios de comunicação não devem ser regulamentados pelo governo”, frisou Christophe Deloire, secretário-geral da organização.

Oksana Romaniuk, diretora do observatório de imprensa local Instituto de Informação de Massa e representante da Ucrânia na Repórteres Sem Fronteiras, afirmou ao site Mashable que “primeiro o governo quer controlar as mensagens da imprensa e depois vai querer controlar o acesso às mensagens”.

A jornalista ucraniana Nastya Stanko escreveu em seu blog, no site da Ukrayinska Pravda, que o Ministério é desnecessário, pois o moral do Exército era alto. E reiterou que informações sobre o os acontecimentos no país deveriam ser fornecidas “de forma honesta e sem viés, por uma imprensa livre e sem quaisquer outros ministérios”.

Os detalhes sobre como o Ministério irá operar de fato são obscuros. Nenhum documento foi disponibilizado ao público ou mesmo aos deputados.

Redes sociais

Usuários de redes sociais ucranianos fizeram piada com o novo Ministério, cunhando o já citado termo “Ministério da Verdade” e também chamando-o de “Ministério de Propagandas de Poroshenko”.

Jornalistas também fizeram chacota em seus perfis particulares. “Quero me tornar pelo menos a vice-ministra do Ministério da Magia da Ucrânia. Por favor, considere isto um anúncio oficial”, escreveu a jornalista Kateryna Avramchuk no Facebook, acrescentando que alguns de seus amigos estavam concorrendo para os cargos de “conselheiro” e “duende sênior”.

Tatyana Nikolaenko, editora-chefe da edição ucraniana da revista Insider, também se manifestou no Facebook. “Querida equipe de Poroshenko, a busca pelo poder absoluto neste país significa fim de carreira. Se vocês criarem este ‘Ministério da Verdade’, a avaliação do presidente vai cair tão depressa quanto subiu no inverno deste ano”.

Gerenciamento

Mas Kiev vê a criação do Ministério como um movimento necessário para combater a propaganda incessante da Rússia, que tem sido particularmente bem-sucedida ao longo da crise em curso.

Stets também se manifestou suas ideias sobre o novo Ministério em sua conta no Facebook: “Enxergo isso tudo da seguinte forma: Estados diferentes, com diferentes experiências históricas e culturais em tempos de crise; veio então a necessidade de criar um órgão do poder Executivo capaz de controlar e gerenciar a segurança da informação no país”.