Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Editor-chefe do ‘NYT’ xinga professor que criticou jornal

O editor-executivo do New York Times, Dean Baquet, causou burburinho nas redes sociais ao chamar um professor universitário de “babaca” em um comentário no Facebook. O adjetivo foi uma reação a uma postagem de Marc Cooper, professor da Universidade do Sul da Califórnia, que criticava a recusa do jornalão em reproduzir as charges da revista satírica Charlie Hebdo que representavam o profeta Maomé após o brutal ataque sofrido pela publicação francesa em 7/1.

Baquet optou por não publicar os desenhos em respeito a leitores muçulmanos do Times. A decisão foi explicada pela ombudsman Margaret Sullivan: “Baquet me disse que começou aquela quarta-feira convencido de que o Times deveria publicar as imagens, tanto por seu valor jornalístico quanto pelo espírito de solidariedade para com os jornalistas mortos e o direito à liberdade de expressão […] No fim, ele decidiu por não publicá-las, afirmou, porque tinha que considerar, acima de tudo, a sensibilidade dos leitores do Times, especialmente dos leitores muçulmanos”.

Cooper então questionou: “Exatamente quantas pessoas precisam ser baleadas a sangue frio antes de seu jornal definir que você pode nos mostrar o que provocou os assassinos?”, ao que Baquet retrucou nos comentários: “Querido Marc, agradeço sua crítica com ar de superioridade sem nem ao menos considerar que possa existir outro ponto de vista. Espero que seus alunos tenham a mente mais aberta. Babaca”.

Editor disse “o que pensava”

Em análise para a Vanity Fair, o jornalista Matthew Lynch fez um paralelo curioso sobre a linha editorial / postura do Times e a “explosão” de Baquet no Facebook. “Baquet não é a primeira pessoa a usar esse tipo de linguagem para golpear um adversário nas mídias sociais. E não será a última. Mas Dean Baquet é o editor-executivo de um jornal que se recusou a publicar a palavra ‘merda’, ainda que em uma citação direta, em uma situação na qual sua utilização foi até um pouco poética”, disse ele. “Uma rápida olhada no arquivo do Times mostra a palavra ‘babaca’ sendo empregada no jornal apenas um punhado de vezes desde 1857, e, mesmo assim, a maioria em resenhas de livros”.

Dylan Byers, do site Politico, disse que Baquet se provou experiente o suficiente para fazer experiências com a publicação diretamente nas redes sociais. Já Kelly McBride, do Instituto Poynter, não se mostrou a favor do ocorrido. “Ter chamado Cooper de babaca prejudica a própria condição que Baquet e o restante do jornalismo se esforça para criar: uma cidadania informada e engajada”, criticou. “Xingamentos se iniciam quando a capacidade de escutar acaba. Ao fazê-lo, Baquet sinalizou que não estava ouvindo mais. E este é um terreno perigoso para o editor de um jornal”.

Ao perceber a repercussão de sua resposta a Cooper, Baquet justificou sua postura dizendo que o comentário do professor foi “nojento e arrogante” e que simplesmente retrucou expondo o que pensava.