Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Morte de radialista expõe riscos na fronteira entre Brasil e Paraguai

A região de fronteira entre Brasil e Paraguai é uma das mais perigosas para jornalistas na América do Sul. Pedro Juan Caballero, principal cidade do lado paraguaio da fronteira, encontra-se no centro de rotas de contrabando entre os dois países. Estima-se que, entre traficantes brasileiros e paraguaios, haja mais de 100 gangues atuando na região. Desde o início de 2014, quatro jornalistas haviam sido mortos ali.

No dia 5/3, este número aumentou com o assassinato, na cidade brasileira de Ponta Porã, do radialista paraguaio Gerardo Ceferino Servían Coronel. Segundo o delegado responsável pela investigação do caso, o crime está sendo tratado como execução. “Duas pessoas atiraram seis vezes nas suas costas e cabeça”, disse o policial.

De acordo com o analista político paraguaio Ignacio Martinez, a situação de segurança na região parece saída de uma obra de ficção. “O estado é fraco. Traficantes e outros criminosos dominam mais de 600 quilômetros de uma fronteira sem lei”, explica.

Servían, que trabalhou nos últimos anos em diversas estações de rádio em Pedro Juan Caballero, começou, no início de 2015, a apresentar um programa matinal de notícias em uma pequena estação de rádio comunitária baseada em Zanja Pytã, cidade localizada a cerca de 16 quilômetros dali. Ele havia se mudado recentemente para Ponta Porã por causa das filhas, que estudam na cidade brasileira. Seu irmão, o também jornalista Francisco Servían, afirmou à Associated Press que Gerardo não havia relatado ter recebido ameaças de morte. Ele ressaltou, entretanto, que “nessa área do país é normal que silenciem jornalistas com tiros”.

Um jornalista que não quis se identificar afirmou ao Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) que Servían tinha feito críticas ao prefeito da cidade de Zanja Pytã, Marcelino Rolón, que irá tentar a reeleição neste ano. A polícia ainda não tem suspeitos do caso.

“As autoridades de ambos os países precisam trabalhar em conjunto para investigar a morte de Gerardo Ceferino Servían Coronel e levar os responsáveis para a justiça para demonstrar que não permitirão que a imprensa seja aterrorizada”, declarou Sara Rafsky, pesquisadora associada para as Américas do CPJ.