Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A influência do império de Murdoch

Quando Rupert Murdoch apareceu em seu canal Fox News Channel na semana passada e foi questionado sobre o escândalo de grampos ilegais pelo jornal britânico News of the World, para ‘investigar’ a vida de celebridades e figuras políticas no Reino Unido, o empresário respondeu que não falaria sobre o caso – e, pensando em seu emprego, o apresentador não insistiu. Como observou Henry Porter [The Observer, 12/9/10], Murdoch é um problema para a sociedade britânica e o caso dos grampos é um sintoma da malignidade crônica de seu poder. Na opinião de Will Hutton [The Observer, 12/9/10], uma revisão sobre pluralidade envolvendo a BskyB é essencial para proteger o escopo da cobertura de TV e de jornais no Reino Unido.


Nos últimos 40 anos, os britânicos cresceram acostumados com a News International (NI). Por isso, é difícil imaginar o Reino Unido sem o poder de Murdoch. Nas últimas quatro décadas, prossegue Porter, Murdoch foi responsável pela distorção da política no Reino Unido. Não foi surpresa, portanto, quando o primeiro-ministro David Cameron escolheu o ex-editor do News of the World, Andy Coulson, que estaria supostamente envolvido no escândalo dos grampos ilegais, para ser seu diretor de comunicação. O vice-diretor de comunicação do ex-primeiro-ministro Tony Blair, Lance Price, chamava Murdoch de 24º membro do gabinete. ‘Sua presença era sentida sempre. Nenhuma grande decisão era tomada sem levar em conta a reação de três homens – [o então-primeiro-ministro] Gordon Brown, [o ex-vice-primeiro-ministro] John Prescott e Rupert Murdoch’, revelou.


Embora Murdoch e seu filho James critiquem a influência da BBC, basta comparar os gastos publicitários e lucros da BskyB e os jornais da News Corporation com os da ITV e da BBC para verificar que a maior força é, de longe, a dos Murdoch. Os diários The Times, Sunday Times, Sun e News of the World, juntos, constituem 37% da circulação de jornais do Reino Unido.


Conflito de interesses


As investigações da polícia metropolitana, lideradas por Andy Hayman, subcomissário encarregado das operações especiais da Scotland Yard, sobre o escândalo dos grampos ilegais, foram vistas por muitos, como o legislador Paul Farrelly, como inadequadas. Hayman é agora empregado do Times como colunista.


Tom Watson, ex-ministro do gabinete e legislador do partido do Trabalho, disse que Murdoch deveria ser interrogado para explicar a ação de seus repórteres e editores no News of the World. Coulson deixou o cargo de editor em 2007, depois que seu repórter que cobria a família real foi condenado por grampear mensagens deixadas em celulares de funcionários da realeza, incluindo os dos príncipes William e Harry. ‘Duvido que Murdoch soubesse dessas indiscrições, mas ele é responsável por indicar pessoas a posições de poder que deveriam ter conhecimento disso e, por estas razões, ele deve explicar suas ações’, defendeu Watson.


A polícia londrina confirmou que está considerando reabrir a investigação sobre o caso, depois que ex-repórteres alegaram que o uso de métodos ilegais era mais comum do que se pensava. Um artigo publicado no NYTimes citou o ex-repórter Sean Hoare dizendo que Coulson sabia dessas práticas. Com informações de David Stringer [AP, 9/9/10].