Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A polêmica cobertura do casamento gay

Poucos assuntos despertam tantas reações apaixonadas quanto casamento entre pessoas do mesmo sexo. Matérias publicadas recentemente pelo Washington Post sobre a lei que entrou em vigor no início de março permitindo a união homossexual na capital americana provocaram acusações de parcialidade. ‘A ousada parcialidade do Post a favor do casamento gay em suas reportagens é óbvia e, acredito eu, 100% intencional’, opinou o leitor Doug Schrader, que diz ser contrário ao casamento gay, mas não necessariamente à união civil homossexual.

Doug não foi o único. Muitos leitores protestaram contra uma foto publicada na capa da edição do dia 4/3 que mostrava dois homens se beijando do lado de fora da Corte Superior de Washington, que passou a emitir licenças para união homossexual. O conservador Instituto de Mídia e Cultura informou que, segundo sua análise, na semana após o dia 3/3, a cobertura do Post sobre o assunto totalizou quase quatro páginas, com 14 fotos de ‘celebrações gays’. Aqueles que apoiam a união homossexual foram citados 10 vezes mais que os críticos. ‘Logo que foi aprovada a lei, foi como se o Post levantasse e comemorasse’, disparou Dan Gainor, vice-presidente do grupo. ‘É claro que é notícia, mas a cobertura foi excessiva e também parcial’.

Contexto da lei

O Post nem sempre é suficientemente antenado com as perspectivas conservadoras. Mas com a cobertura do casamento gay, as acusações de parcialidade jornalística não são justificadas. A emissão de permissão para casamento entre pessoas do mesmo sexo é algo histórico e muitos na grande população gay da capital seriam diretamente afetados com a medida. Uma pesquisa realizada em outubro pelo Instituto Williams, da UCLA, estimou que em torno de 3,5 mil casais homossexuais vivem em Washington – um número maior que a média em todos os outros estados americanos.

Além disso, a cobertura do diário deveria ser vista abordando todo o contexto da aprovação da lei. Em dezembro, o debate foi mais intenso e durante este período o Post publicou cerca de 20 matérias, muitas com o ponto de vista dos críticos à legislação. Em novembro, foi divulgado um grande artigo sobre o bispo Harry Jackson, líder do movimento contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. Antes disso, foram publicados perfis de outras personalidades contrárias à legislação – o que causou, na época, críticas de grupos gays.

Em sua coluna de domingo [21/3/10], o ombudsman do Post, Andrew Alexander, aponta uma única ressalva: a falta de uma matéria que destacasse o desafio legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Críticos defendiam um referendo – que teria amplo apoio. Segundo uma pesquisa do Post em janeiro, 59% dos residentes da capital eram a favor da aprovação da lei.

Dificuldades e benefícios

As matérias, reforça ainda o ombudsman, ressaltaram não apenas motivos para comemoração, mas também informaram que os casais homossexuais não teriam direito a vários benefícios federais, que eles ainda precisam preencher formulários de impostos separadamente e que a maior parte dos estados não reconhecerá seus casamentos. Um outro artigo mostrou que se estima que a legalização do casamento gay criaria 700 empregos e injetaria US$ 52 milhões à economia local em um prazo de três anos.