Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

A importância dos jornalistas que arriscam a vida pela notícia

Em mensagem para informar à equipe do New York Times o estado de saúde da repórter Alissa Rubin, ferida em um acidente de helicóptero no Iraque na terça-feira [12/8], o editor-executivo do diário, Dean Baquet, fez uma reflexão sobre o trabalho dos correspondentes de guerra.

“Este é um bom momento para refletir sobre nossos colegas que estão cobrindo o mundo em um momento particularmente violento e tumultuado. Eu não me lembro de alguma época em que tantos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas estiveram em perigo para o Times e para outras organizações de notícias, arriscando-se e vivendo longe de suas famílias para contar importantes histórias”, escreveu Baquet, lembrando dos profissionais que na última década atuaram em países como Iraque e Afeganistão e da nova geração de jornalistas que faz a cobertura de conflitos em lugares como Ucrânia, Líbia e em Gaza, além dos países atingidos pelo vírus Ebola na África. “Temos uma grande dívida com eles”.

Alissa Rubin, chefe da sucursal de Paris do Times, é veterana na cobertura de guerra. A jornalista, de 56 anos, estava em um helicoptero que levava ajuda do governo autônomo curdo para membros da minoria Yazidi, de etnia curda, que se refugiaram do grupo militante sunita ISIS nas montanhas da cidade de Sinjar, no norte do Iraque. O helicoptero havia acabado de entregar suprimentos e de resgatar cerca de 20 yazidis quando caiu. Apenas o piloto morreu no acidente. O fotógrafo freelancer Adam Ferguson, que acompanhava Alissa, sofreu ferimentos leves. Pelo menos outros dois jornalistas estavam na aeronave.  O estado de saúde da correspondente do Times, que foi transferida para o Hospital Americano em Istambul, é estável, segundo Baquet.

Em sua nota à equipe, o editor-executivo afirmou que o jornal não seria o mesmo sem os jornalistas que arriscam suas vidas pela notícia. “Não há momento melhor para lembrar como somos sortudos por tê-los como colegas”.

Acidente na cobertura de Gaza

O jornalista italiano Simone Camilli, que cobria o conflito entre Israel e o Hamas, não teve a mesma sorte de Alissa. Camilli, que trabalhava como videojornalista da Associated Press, e Ali Shehda Abu Afash, tradutor palestino que o acompanhava, morreram na quarta-feira [13/8] na explosão de um míssil na cidade de Beit Lahiya. Acredita-se que o artefato tenha sido jogado em um ataque israelense – como não explodiu, especialistas em bomba da polícia de Gaza tentavam  neutralizá-lo quando ocorreu o acidente. Três membros da polícia também morreram no incidente, que deixou ainda quatro pessoas gravemente feridas, entre elas o fotógrafo da AP Hatem Moussa.

Moussa contou a um colega que a equipe filmava o trabalho dos especialistas quando houve a primeira explosão. Atingido por alguns estilhaços, ele começou a correr quando ouviu a segunda explosão, que o derrubou e o deixou inconsciente. O fotógrafo acordou apenas no hospital.

Camilli tinha 35 anos e trabalhava para a AP desde 2005. No ano seguinte, ele foi realocado de Roma para Jerusalém, e com frequência cobria pautas em Gaza. Apesar de ter se mudado para Beirute, o videojornalista voltou a Gaza depois do início do novo conflito, em julho.

O italiano é o primeiro jornalista estrangeiro morto no conflito em Gaza – que já deixou quase dois mil mortos do lado palestino e quase 70 israelenses. Camilli também é o segundo profissional da agência de notícias morto em 2014 durante a cobertura de guerra. Em abril, a fotógrafa alemã Anja Niedringhaus foi morta a tiros em um ataque no Afeganistão, que também feriu a correspondente canadense Kathy Gannon.