Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Al-Jazira em inglês é encerrada após expulsão de correspondente

Após a correspondente da Al-Jazira na China, Melissa Chan, ter tido a renovação do visto negada, a rede foi forçada a fechar as operações do seu canal em inglês no país. Foi a primeira ação do tipo em quase 13 anos e o sinal mais forte de desgaste na relação entre o Partido Comunista, no poder, e jornalistas estrangeiros. O canal em árabe continuará com um correspondente em Pequim.

Melissa foi obrigada a deixar Pequim na segunda (7/5) à noite, depois que o governo recusou alguns pedidos de rotina para renovar sua credencial de imprensa e para permitir que outro correspondente a substituísse. O motivo dado pelo governo não foi explicitamente divulgado. “A China agiu em conformidade com as leis – que são bem claras. A emissora sabe o que fez de errado”, afirmou Hong Lei, porta-voz do ministério de Relações Exteriores.

Especula-se, no entanto, que autoridades não gostaram de um documentário em inglês produzido pela Al-Jazira fora da China e exibido em sua rede em novembro. No documentário, os campos de trabalho – geralmente usados para punir dissidentes e outros desordeiros – foram classificados como um tipo de escravidão, no qual milhões de prisioneiros fariam produtos vendidos em todo o mundo por grandes empresas. A China nega usar trabalho escravo em suas prisões.

Em declaração, o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China – que não é reconhecido pelo governo – observou que Melissa não teve nenhuma participação no documentário em questão e que o governo não ofereceu nenhum motivo específico para negar a renovação do visto, além de violação de regras não mencionadas. A jornalista, que é americana, trabalha para o canal desde 2007. “Este é o exemplo mais extremo do padrão recente de negar vistos de jornalistas em uma tentativa de censurar e intimidar correspondentes estrangeiros na China”, disse o clube. “Acreditamos que as organizações de mídia estrangeiras – e não o governo chinês – têm o direito de escolher quem trabalha para eles na China, em consonância com padrões internacionais”.

A Al-Jazira lamentou o ocorrido e declarou que havia solicitado, sem sucesso, vistos adicionais para jornalistas para expandir a cobertura no país. O fechamento, se não for cancelado, constituirá uma perda significativa para a rede, que começou há mais de 15 anos como o primeiro canal independente de notícias no mundo árabe e conta hoje com mais de 20 canais e mais de 60 escritórios em seis continentes. “Constantemente somos a voz para quem não tem”, observou Salah Negm, diretor de notícias da Al-Jazira. “Esperamos que a China considere a integridade de nossa cobertura e nosso jornalismo”.

A China requer que todo jornalista estrangeiro renove seu visto anualmente. Em 1998, o jornalista japonês Yukihisa Nakatsu e o alemão Jürgen Kremb foram expulsos por supostamente conhecerem segredos de Estado.

Censura

A rejeição da credencial para a Al-Jazira acontece em um momento de constante sensibilidade para a cobertura estrangeira, na medida em que o crescimento chinês tornou-se um assunto de importância global e, em alguns casos, de crítica. Além do mais, em breve deverá acontecer uma transição política inédita no Partido Comunista, com uma nova geração assumindo o poder no país.

Nas últimas semanas, autoridades chinesas criticaram a cobertura ocidental da revolta com a expulsão de Bo Xilai, governador da região de Chongqing cuja mulher é acusada de assassinato. Mais recentemente, oficiais de segurança ameaçaram jornalistas estrangeiros que escreveram sobre Chen Guangcheng, ativista de direitos civis que buscou refúgio na Embaixada dos EUA depois de fugir da prisão domiciliar. Informações de Michael Wines e Sharon LaFraniere [New York Times, 7/5/12] e de Lucy Hornby e Michael Martina [Reuters, 8/5/12].