Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Além da luta pelo poder, a batalha pela informação

A última semana em Abidjan, capital comercial da Costa do Marfim, teve clima de guerra. Além da luta pelo controle da cidade, ocorre também uma batalha por controle da informação. Depois de serem usadas por propósitos de propaganda, emissoras de rádio e TV estatais foram alvos de ataques de helicópteros das forças de paz da França e das Nações Unidas no dia 4/4. A falta de notícias levou a boatos e informações sem confirmação.


A instabilidade política do país teve início depois do segundo turno das eleições presidenciais, no fim de novembro. O presidente Laurent Gbagbo não aceitou a derrota para o rival Alassane Ouattara e se recusa a deixar o poder.


O caos tem impedido a publicação de jornais. A última vez que um diário chegou às bancas foi no dia 31/3. A maior parte dos jornalistas em Abidjan não puderam se arriscar a sair nas ruas na última semana, por conta dos toques de recolher. Muitos deles trabalharam por telefone. O carro de um correspondente do diário francês Le Monde foi atacado em 31/3, quando as Forças Republicanas (FRCI), que apoiam Ouattara, invadiram a cidade. Um veículo de uma equipe de TV francesa havia sido alvejado dois dias antes. Outros jornalistas ficaram nos escritórios ou se refugiaram no campo militar francês em Port-Bouët. Cerca de 20 repórteres ficaram presos no hotel Novotel, no dia 4/4, quando o local foi invadido por homens armados.


No meio do fogo cruzado


Veículos de comunicação também se tornaram alvos das partes políticas. A emissora estatal Radio-Télévision Ivoirienne (RTI) tornou-se um objetivo estratégico para as Forças Republicanas. A luta entre a FCRI e as Forças de Segurança e Defesa (FDS), pró-Gbagbo, danificaram equipamentos e o prédio da RTI, o que impediu a transmissão no bairro de Cocody. O sinal foi cortado no dia 31/3 e só voltou no dia 1/4, à noite, por meio de um caminhão de transmissão, que enviava mensagens de propaganda pedindo aos ‘jovens patriotas’ pró-Gbagbo a irem às ruas para defendê-lo e acusando a França de planejar um genocídio na Costa do Marfim. Em discurso à Assembleia Nacional em Paris, esta semana, o ministro de Defesa Gérard Longuet disse que um dos objetivos dos ataques aéreos era destruir a antena da RTI.


A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras pediu ao governo francês que dê uma explicação imediata aos ataques. Sob leis internacionais, uma organização de mídia não constitui alvo militar legítimo, mesmo sendo instrumento de propaganda de forças inimigas. A RTI vem transmitindo uma linguagem que incita o ódio nos últimos quatro meses e, esta semana, um vídeo em seu site mostrava os efeitos da violência contra civis em detalhes gráficos, acompanhado de uma mensagem que dizia: ‘Alerta de holocausto genocida na Costa do Marfim – mais de 1,2 mil civis mortos queimados em Duékoué por forças pró-Ouattara’. Não foi possível confirmar a informação.