Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Al-Qaeda, organização de mídia

A organização terrorista al-Qaeda faz cada vez mais uso da internet e da língua inglesa para ampliar seu alcance global e arrebanhar simpatizantes fora dos países árabes. Desde os atentados de setembro de 2001 nos EUA, diversas mensagens em vídeo, áudio e texto da al-Qaeda se espalharam pela internet. Este ano, o grupo mostrou que sua estratégia midiática está mais organizada.

Há alguns meses, o braço da al-Qaeda no Iêmen lançou a primeira edição de uma revista online em inglês chamada Inspire. Entre os artigos, havia um ensinando como fazer uma bomba. A segunda edição da Inspire chegou à internet na semana passada, e instrui muçulmanos em países ocidentais a como matar pessoas em meio a multidões.

Ampliando a mensagem

‘Este é sem dúvida um novo experimento’, avalia Dominique Thomas, especialista em grupos islâmicos do Oriente Médio baseado em Paris. Thomas ressalta que esta é a primeira vez que a al-Qaeda lança uma publicação em inglês. ‘Estas mensagens têm como alvo comunidades muçulmanas que vivem fora do Mundo Árabe’. O professor da California Philip Seib, autor do livro ‘Terrorismo Global e a Nova Mídia’, vai mais longe: para ele, a rede terrorista se tornou uma organização midiática. ‘É hora de pararmos de pensar na al-Qaeda como uma organização terrorista que faz mídia e começarmos a pensar como uma organização de mídia que faz terrorismo’.

Segundo Mustafa Alani, especialista em segurança no Centro de Pesquisas do Golfo, em Dubai, a revista online significa uma mudança nas estratégias da al-Qaeda. ‘Eles nunca se importaram com os leitores não-árabes. Esta é uma nova dimensão de uma guerra global com o objetivo de fazer um recrutamento global’, afirma.

Estrategistas

Dois cidadãos americanos ligados à al-Qaeda, que acredita-se que estejam no Iêmen, são vistos como idealizadores desta nova estratégia de comunicação. Anwar al-Awlaqi é um clérigo de origem iemenita fluente em inglês e estaria ligado a um ataque protagonizado pelo militar americano Nidal Malik Hasan, que matou 13 pessoas no Texas em novembro do ano passado. Em maio, ele divulgou uma mensagem de vídeo incitando muçulmanos americanos a seguir o exemplo de Hasan.

Samir Khan, de origem paquistanesa, seria – segundo suspeitas da inteligência dos EUA – um militante que operava pela internet do porão da casa dos pais, em Nova York. ‘Tenho orgulho de ser um traidor da América’, escreve Khan na segunda edição da Inspire. ‘Tenho orgulho de ser um traidor aos olhos da América tanto quanto tenho orgulho de ser um muçulmano’. Informações da AFP [17/10/10].