Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Âncora e cinegrafista da ABC atingidos por bomba

O âncora Bob Woodruff e o cinegrafista Doug Vogt, da rede de televisão americana ABC, foram feridos gravemente por uma bomba caseira que explodiu junto ao veículo militar iraquiano em que viajavam nas proximidades de Bagdá, no domingo (29/1). Após a explosão, eles foram alvos de tiros. Insurgentes freqüentemente colocam bombas em estradas para atacar veículos militares iraquianos, mais vulneráveis do que os americanos.


Em declaração, a emissora – uma das maiores dos EUA – informou que, inicialmente, ambos estavam sendo tratados em um hospital militar americano no Iraque. Até o fechamento desta matéria, o âncora havia passado por uma cirurgia e seu estado de saúde era grave, porém estável. Woodruff e Vogt foram transferidos, na segunda-feira (30/1), para um hospital militar na Alemanha, segundo informações de David Bauder, da AP [30/1/06]. ‘Os dois estão gravemente feridos, mas estáveis’, afirmou o coronel Bryan Gamble, que chefia a equipe do Centro Médico Regional Landstuhl. Ele afirmou que ambos estão sedados e ressaltou que foram salvos pela proteção que usavam no corpo – ‘sem ela, os ferimentos teriam sido fatais’, completou.


Woodruff e Vogt chegaram a Bagdá na sexta-feira (27/1) depois de cobrir as eleições palestinas. Não há indícios de que o veículo em que eles se encontravam tenha sido atacado por carregar jornalistas. Eles faziam parte de uma equipe de quatro profissionais de mídia que acompanhava unidades da 4ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA e estavam inicialmente viajando em um blindado americano tipo humvee. Antes do ataque, os dois foram transferidos para um veículo menos seguro.


Cuidados e riscos


Embora os dois profissionais usassem capacetes e roupas à prova de balas no momento da explosão, eles estavam em pé no veículo e sofreram ferimentos na cabeça. Woodruff teve também alguns ossos quebrados, como informou a correspondente da ABC na Casa Branca, Martha Raddatz. Martha enfatizou que eles não estavam correndo riscos desnecessários e que ambos eram muito cuidadosos. A jornalista acompanhou tropas americanas no Iraque nos últimos meses. ‘Se você vai cobrir as tropas militares iraquianas, você tem de estar com elas’, opinou.


Kate Felsen, produtora da ABC que trabalha com Woodruff há dois anos, disse ter falado com ambos. ‘Doug estava consciente, e eu lhe disse que eles seriam tratados. Eu falei com Bob também e os levei ao helicóptero’, disse ela. Lara Logan, correspondente da CBS que já trabalhou no Iraque, informou que a área em que eles se encontravam é considerada particularmente perigosa por ter sido um local de armazenamento de armas de Saddam Hussein. Acredita-se que muitos dos explosivos que eram guardados ali tenham ido parar nas mãos dos rebeldes.


O presidente da ABC News, David Westin, afirmou no programa Good Morning America que equipes de mídia correm riscos todos os dias em um país onde, apenas na semana passada, foram contabilizados 221 ataques por artefatos explosivos. ‘Nós sabemos que há riscos substanciais, mas, ao mesmo tempo, o que fazemos é reportar as notícias’, concluiu, lembrando que todos os veículos de comunicação enfrentam este dilema. Brian Williams, âncora do Nightly News, da rede NBC, afirmou no domingo que estava rezando pelas famílias de Woodruff e Vogt. ‘Não há como cobrir o Iraque sem se expor ao perigo’, afirmou.


Sucessor de Jennings


Em janeiro deste ano, Woodruff e Elizabeth Vargas assumiram a bancada do telejornal World News Tonight no lugar de Peter Jennings, que morreu de câncer no ano passado. Desde então, Woodruff tem viajado de Teerã a Jerusalém para dar mais vitalidade e imediatismo ao noticiário, com o objetivo de competir com as rivais NBC e CBS. De acordo com os índices de audiência, o telejornal da ABC detém o segundo lugar na preferência do público, atrás do da NBC.


Vogt é canadense e trabalha há 15 anos na ABC News, cobrindo eventos na Europa, Ásia e Oriente Médio.Woodruff está na ABC desde 1996.


De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, no mínimo 61 jornalistas foram mortos no Iraque desde a invasão americana em 2003. Já a organização Repórteres Sem Fronteiras estima que, juntamente com outros profissionais de imprensa, este número chegue a 79. Com informações da RSF [29/1/06], Richard A.Oppel Jr. e Jacques Steinberg [The New York Times, 30/1/06] e Editor & Publisher [29/1/06].


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Al-Jazira divulga novo vídeo de repórter seqüestrada


A emissora de TV al-Jazira transmitiu na segunda-feira (30/1) mais uma gravação em vídeo da jornalista americana Jill Carrol, seqüestrada no Iraque em 7/1. Ela aparece com um lenço muçulmano na cabeça e chora enquanto fala em direção à câmera – sua voz, entretanto, é praticamente inaudível.


Segundo a al-Jazira, Jill pediria, na fita, para que os governos americano e iraquiano libertem todas as mulheres presas nos centros de detenção do Ministério do Interior iraquiano e do Exército dos EUA, e que isto ajudaria em sua libertação. Este mesmo pedido foi feito pelos seqüestradores da jornalista na divulgação do primeiro vídeo, há duas semanas. Desde então, foram libertadas cinco prisioneiras iraquianas – ação que os EUA afirmam não ter ligação com o seqüestro.


Esta segunda gravação tem duração de 30 segundos e traz a data e 28 de janeiro (sábado passado). No canto superior esquerdo da tela, vê-se a inscrição ‘Brigada da Vingança’. Este foi o único contato dos seqüestradores de Jill desde o primeiro vídeo, no qual eles ameaçavam matá-la em 72 horas caso os EUA não cumprissem a ordem de libertar as prisioneiras iraquianas.


O número de seqüestros de ocidentais no Iraque aumentou nos últimos dois meses, após um período de ‘calmaria’. Na sexta-feira (27/1), dois engenheiros alemães seqüestrados dias antes apareceram em uma gravação de vídeo pedindo que Berlim interceda a seu favor. No sábado (28/1), quatro ativistas ocidentais seqüestrados em novembro também apareceram em vídeo. Seus seqüestradores ameaçavam matá-los se todos os prisioneiros iraquianos não fossem libertados. Informações de Robert F. Worth [The New York Times, 31/1/06].