Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Apesar de críticas, americanos ainda confiam na imprensa

O Pew Research Center for the People & the Press, instituto independente que conduz estudos sobre questões ligadas a política, imprensa e políticas públicas nos EUA, divulgou na semana passada [22/9] uma pesquisa sobre a opinião do público americano sobre as organizações de notícias do país. A seguir, a tradução do resumo dos resultados encontrados pela organização. A versão integral da pesquisa pode ser encontrada aqui (em inglês).

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Opiniões sobre a mídia: 1985-2011

As opiniões negativas sobre o desempenho de organizações de notícias agora se igualam ou ultrapassam os maiores índices de todos os tempos em nove de 12 importantes medições monitoradas pelo Pew Research Center desde 1985. Entretanto, estas descobertas desanimadoras são colocadas em perspectiva pelo fato de que organizações de notícias são fontes de informação consideradas mais confiáveis do que a maioria das outras instituições, incluindo governo e empresas.

Além disso, as pessoas avaliam o desempenho de organizações de notícias em que confiam de maneira mais positiva do que avaliam o desempenho das organizações de notícias em geral.

E as impressões do público sobre a mídia nacional podem ser influenciadas mais por suas opiniões sobre veículos de notícias a cabo do que sobre outras fontes de notícias, como redes ou emissoras de TV locais, jornais ou sites. Quando questionada sobre a primeira coisa que vem à mente quando se pensa em “organizações de notícias”, a maioria do público cita um veículo de TV a cabo, com CNN e Fox News com o maior número de menções.

Fonte principal

O Pew Research Center for the People & the Press vem monitorando pontos de vista sobre o desempenho da imprensa desde 1985, e as avaliações em geral continuam bastante negativas. No total, 66% dos entrevistados dizem que matérias jornalísticas costumam ser imprecisas, 77% acreditam que organizações de notícias tendem a favorecer um lado, e 80% afirmam que estas organizações costumam ser influenciadas por pessoas e organizações poderosas.

A crença amplamente disseminada de que matérias jornalísticas são imprecisas afeta a principal missão da imprensa: apenas 25% dos entrevistados dizem que, em geral, organizações de notícias checam os fatos que reportam, enquanto 66% afirmam que as matérias costumam ser imprecisas. Há quatro anos, 39% diziam que organizações de notícias, em sua maioria, checavam as informações, e 53% acreditavam que as matérias eram imprecisas.

Mas a opinião dos americanos sobre as fontes de notícias em que confiam é muito diferente daquela sobre a mídia em geral. Quando se pede que eles avaliem a precisão de matérias das fontes de onde mais se informam, o percentual afirmando que estes veículos checam os fatos mais que dobra. No total, 62% dizem que sua principal fonte de notícias checa a precisão das informações, enquanto apenas 30% dizem que as matérias costumam ser imprecisas.

A pesquisa bienal sobre a posição dos americanos com relação às notícias foi conduzida entre 20 e 24 de julho com 1.501 adultos em todo o país, com dados suplementares coletados de outras pesquisas menores realizadas em junho, julho e agosto. Estas pesquisas descobriram que, enquanto o público ainda tem pouca consideração pelas organizações de notícias, elas são consideradas mais confiáveis como fonte de informações do que os governos federal, estaduais e locais, além da administração Obama e empresas em geral.

Quase sete em cada dez entrevistados (69%) dizem ter muita ou alguma confiança na informação que recebem de organizações de notícias locais, enquanto 59% dizem confiar em informações vindas de organizações de notícias nacionais.

Comparativamente, cerca de metade diz ter muita ou alguma confiança nas informações fornecidas pelo governo estadual (51%) e o governo Obama (50%). Percentuais menores confiam em informações de agências federais (44%), corporações (41%), do Congresso (37%) ou de candidatos a eleição (29%).

No geral, a televisão continua a ser a principal fonte do público para notícias nacionais e internacionais. Atualmente, 66% dos entrevistados dizem que recebem a maioria das notícias pela TV, enquanto 43% citam a internet como fonte primária. Enquanto houve pouca mudança com relação ao ano passado, a longo prazo a lacuna entre TV e internet estreitou-se: quatro anos atrás, o número de pessoas que citavam a TV como principal fonte de notícias nacionais e internacionais era quase três vezes maior do que as que citavam a internet (74% vs. 24%).

Redes sociais

Apesar do aumento das notícias na web, fica claro que os veículos de televisão, especificamente redes de notícias a cabo, são fundamentais para as impressões das pessoas sobre a mídia. Quando perguntadas sobre o que primeiro vem à mente quando pensam em organizações de notícias, 63% citaram voluntariamente o nome de um canal de notícias a cabo, com CNN e Fox News como os mais presentes na mente das pessoas. Apenas cerca de um terço (36%) dos entrevistados citou uma das redes de TV abertas. Menos de um em cada cinco mencionaram veículos de notícias locais e apenas 5% citaram um jornal nacional, como New York Times, Wall Street Journal ou USA Today. Apenas 3% mencionaram um site – exclusivamente da internet ou ligado a alguma organização de notícias tradicional.

A pesquisa conclui que o aumento de pontos de vista negativos com relação à mídia nos últimos anos em diversas questões-chaveocorre entre Democratas e independentes. Desde que Barack Obama assumiu a presidência, a proporção de Democratas que dizem que matérias jornalísticas costumam ser imprecisas aumentou nitidamente, e agora eles são quase tão críticos como os Republicanos.

Em 2007, 43% dos Democratas e 56% dos independentes disseram que as matérias costumavam ser imprecisas. Desde então, o percentual de Democratas expressando ceticismo sobre a precisão das notícias aumentou 21 pontos, para 64%, e o percentual de independentes dizendo o mesmo cresceu 10 pontos. As opiniões dos Republicanos mantiveram-se estáveis: 69% vêem as matérias como normalmente imprecisas, em uma pequena mudança de quatro anos atrás (63%).

Enquanto a reputação da imprensa em geral declinou em muitas áreas, a maioria dos entrevistados continua a dizer que as organizações de notícias se importam em fazer um bom trabalho (62%) e são altamente profissionais (57%). Entretanto, estas avaliações caíram levemente desde 2007.

O público também continua a enxergar a crítica da imprensa a líderes políticos como uma forma de controle a um possível mau comportamento. A maioria (58%) diz que “tais críticas são válidas porque impedem que os líderes políticos façam algo que não deveria ser feito”. Apenas um quarto (25%) afirma que a crítica da imprensa a líderes políticos os impede de “fazer seu trabalho”.

Diferenças partidárias nas opiniões sobre o papel vigilante da imprensa desapareceram nos últimos anos. Em 2007, durante a administração Bush, 71% dos Democratas e apenas 44% dos Republicanos disseram que a crítica da imprensa a líderes políticos era importante porque os impedia de fazer algo errado. Em 2009, depois da posse de Obama, mais Republicanos (65%) do que Democratas (55%) defenderam um papel vigilante para a imprensa. Na nova pesquisa, os percentuais para Republicanos (59%), Democratas (58%) e independentes (58%) em defesa do papel vigilante da imprensa são quase idênticos.

A pesquisa conclui que a maioria dos americanos prefere notícias sem pontos de vista políticos, e esta postura é particularmente disseminada no consumo de notícias online. No total, 74% dos consumidores de notícias online dizem preferir fontes de internet que não tenham um ponto de vista político. Apenas 19% preferem fontes com pontos de vista políticos.

As redes sociais se expandiram e se tornaram locais onde o público tem acesso a notícias e informações. Cerca de um quarto (27%) dos adultos diz que obtêm regularmente ou às vezes notícias ou manchetes pelo Facebook, Twitter ou outros sites do tipo. Este número aumenta para 38% quando se trata de pessoas com menos de 30 anos, mas agora também se estende a uma parcela notável de americanos mais velhos (12% acima dos 65 anos).

A maioria dos que acessam notícias a partir das redes sociais (72%) diz que, em geral, obtém as mesmas notícias e informações que obteria em qualquer outro lugar. Apenas 27% afirmam que as notícias acessadas através destes sites são diferentes das outras. E quando solicitados a descrever o que gostam no acesso a notícias pelas redes sociais e Twitter, as respostas vão de aspectos tecnológicos, como velocidade, portabilidade e concisão, ao conteúdo, mais customizado, personalizado e direto.