Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Apresentadora espancada retira queixas

A apresentadora de TV saudita Rania al-Baz, espancada pelo marido em abril deste ano, retirou as queixas que havia feito contra ele na justiça depois de sofrer pressão de clérigos ultra ortodoxos do país. Rania ficou famosa na Arábia Saudita por quebrar a tradição ao apresentar um programa no canal estatal Channel One com o rosto à mostra. Como resultado de sua ousadia, ela virou símbolo de reforma e, desde então, é duramente criticada pelos religiosos ortodoxos.

A apresentadora levou uma surra de seu marido, o cantor desempregado Mohammed Bakr al-Fallatta, em sua casa, na cidade de Jeddah. Fallatta estrangulou a mulher e bateu sua cabeça repetidas vezes contra o chão de mármore e contra as paredes. Rania quase morreu. Teve 13 fraturas no rosto e foi operada 12 vezes. Segundo seu advogado, ela ainda deverá passar por outras cirurgias e não poderá trabalhar por mais alguns meses.

Casos de mulheres sauditas espancadas pelos maridos são comuns, mas normalmente são silenciados. Rania quebrou mais este tabu: denunciou seu agressor, concedeu entrevistas à imprensa nacional e internacional e deixou que fotos suas com o resultado do espancamento fossem publicadas. O surpreendente até então, afirma Ewen MacAskill [The Guardian, 6/7/04], foi o fato de a mídia saudita dar espaço ao caso da apresentadora. Na ocasião, Rania disse que estava levando sua história a público para servir de modelo a outras mulheres sauditas que passavam pelo mesmo problema.

Fallatta havia sido condenado a cumprir seis meses de prisão, levar 300 chicotadas e pagar o equivalente a US$ 6 mil à mulher. Caso não pudesse pagar a quantia estipulada, ele deveria levar uma surra comparável à que deu em Rania. Mas no sábado, 3/7, ela foi ao tribunal retirar todas as queixas, e logo depois seu marido foi libertado, após cumprir apenas três meses de cadeia.