Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Augusto Nunes

‘Jornalistas ganham pouco, mas são muito homenageados. Nem todas as categorias profissionais têm no calendário um dia consagrado a seus integrantes. Nós temos dois. Há o Dia dos Jornalistas, comemorado em 6 de abril. E 10 de setembro é o Dia da Imprensa. Nenhum deles é feriado, os patrões não decretam ponto facultativo. E nem os chefes mais generosos ousam conceder folgas à turma para celebrar essas datas tão relevantes. Em contrapartida, ambas são grafadas em maiúsculas. É um consolo. Há outros.

Nesses dias, dirigentes de sindicatos e federações que representam a categoria são recebidos por autoridades. Então, ouvem discursos adornados por elogios ao trabalho dos bravos soldados da informação. Neste 6 de abril, por exemplo, companheiros jornalistas foram alvo de uma comovente homenagem no Palácio do Planalto. A recepcioná-los, lá estava o Presidente da República em pessoa.

Não é pouca coisa. ‘Só agora me contaram que este tipo de encontro está acontecendo pela primeira vez na história’, felicitou-se e felicitou-os Lula da Silva, simulando ter acabado de saber da singularidade. Parabéns, presidente. Parabéns, jornalistas. Os cumprimentos não se limitam aos líderes sindicais: participaram do evento também profissionais no momento a serviço do governo e da nação.

Lá estava também, ao lado de Lula e comandando a festa, o ministro Luiz Gushiken, chefe da Secom. Parece nome de remédio. É o apelido de infância da poderosa Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica. Emprega multidões de jornalistas. Administra emissoras de rádio e televisão. Sobretudo, decide de que modo distribuir as verbas federais. (Oficialmente, baseia-se em ‘critérios técnicos’. A vida real tem mostrado que as coisas não são bem assim. Mas esta é outra história. Voltemos à estrada principal.)

Até recentemente considerado um exemplo de discrição, Gushiken se tornou bastante loquaz nos últimos tempos. Como nestas paragens quem fala é também falado, têm sido expostas facetas interessantes do ministro. Agora se conhece o apreço por práticas esotéricas, ou o interesse por novidades no inventivo universo da auto-ajuda. Gushiken vem dizendo o que pensa com desconcertante desenvoltura. Discursos recentes já permitem imaginá-lo levitando no saguão do Palácio do Planalto. Ou internado num grotão do Brasil Central, fantasiado de sacerdote-maior de alguma seita.

Na solenidade do dia 6, por exemplo, Gushiken avisou que, como ‘a imprensa é uma janela para o mundo’, apresentaria alguns pontos de vista sobre ‘nossa querida comunicação’. Viajou bonito, como atestam três trechos pinçados do pronunciamento. Foram corrigidos os numerosos equívocos ortográficos ou gramaticais.

Primeiro: ‘A imprensa opera com o raciocínio segundo o qual se deve explorar o contraditório. E eu penso que a exploração do contraditório, muitas vezes, pode fomentar discórdia, fomentar conflitos ampliados pelo ego. Na verdade, são apenas disputas de idéias, normais no processo de debate’.

Exemplo: os jornais não deveriam ter informado que, bravo com o ministro do Planejamento, Guido Mantega, o colega da Agricultura, Roberto Rodrigues, resolvera mandá-lo à puta que o pariu, conforme revelou a um grupo de deputados. Para Gushiken, a imprensa deveria descrever apenas o episódio da reconciliação, tão comovente que Rodrigues acabou chamando Mantega de ‘bom companheiro’.

Segundo: ‘No estágio brasileiro, um critério importante é o da agenda positiva. Acho que o povo brasileiro precisa ver um lado positivo das coisas. E acho que os leitores, os telespectadores, os ouvintes estão ansiosos para saber aquilo que germina em termos de coisas boas’. A tradução é singela: falem bem do governo, companheiros.

O terceiro trecho trata da emoção de Gushiken ao topar com a expressão ‘informação jornalisticamente trabalhada’. Ele contou, numa sopa de letras que não merece retoques nem correções. Vai em estado bruto: ‘Quando ouvi essa palavra, me agarrei nela, porque acho que este é o melhor conceito que você pode ver entre o fenômeno e o cidadão que observa o fenômeno, mediado pela imprensa. Porque, se a informação tem vários olhares, o melhor olhar é a informação jornalisticamente trabalhada’.

Nosso herói está é doidão.’



Daniel Lima

‘‘Folha e Estadão em choque por causa de Celso Daniel’’, copyright Capital Social, Edição 1.812 – Nº 1130, Ano III, 19/04/04

‘O requentamento do caso Celso Daniel patrocinado na quinta-feira passada pelos irmãos João Francisco e Bruno José levou o Estadão e a Folha de S. Paulo a explicitarem diferenças aparentemente irrecuperáveis entre competidores historicamente acirrados. Se até então os dois jornais pareciam irmanados em aceitar acriticamente a tese de crime encomendado, desprezando, como se sabe, todo o apanhado do inquérito da Polícia Civil e da Policia Federal, agora a situação parece diferente. Ótimo, a se confirmar essa bifurcação. Haverá mais contraditórios a clarear as exigências dos leitores. Outros jornais poderiam trilhar o mesmo caminho.

A origem das escaramuças editoriais dos dois principais jornais paulistanos no caso Celso Daniel está na exaltação do Estadão de sexta-feira passada. O jornal dos Mesquitas tentou transformar em furo de reportagem uma velha e batida cantilena de João Francisco: a de que havia um ineditismo na entrevista que o jornalista Fausto Macedo fez com o primeiro-irmão, João Francisco, na qual se reafirmava que Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente Lula da Silva, lhe teria dito que tinha a incumbência de levar dinheiro de suposta propina de Santo André para o PT e que esse dinheiro era entregue ao então presidente do partido, José Dirceu.

A Folha de S. Paulo da mesma sexta-feira do ‘furo’ do Estadão, preferiu o viés de ‘Família de Daniel vê falhas em inquérito’, a repetir a velha ladainha de João Francisco. Aliás, a eventual confissão de Gilberto Carvalho e também de Miriam Belchior ao primeiro-irmão nem foi mencionada pela Folha, provavelmente porque se compreendeu que se tratava de algo já desgastado demais.

Na edição seguinte dos dois jornais, sábado último, é que se caracterizam as hostilidades. Enquanto o Estadão optou pela repercussão da entrevista com João Francisco em manchete de página sob o título ‘Dirceu vai à Justiça contra irmão de Daniel’ e dedicou a uma retranca (texto auxiliar) ‘É certeza que houve tortura, diz promotor’, a Folha foi mais competente: optou por jogar como retranca a reação do governo petista sob o título ‘Dirceu decide ir à Justiça contra irmão de Daniel’ e lançou para a manchete de página ‘Laudos não elucidam tortura de Daniel’. Convém ressaltar que o verbete ‘tortura’ está entre aspas no título da Folha. Optamos pelo itálico nesta transcrição porque aspeamos o conjunto do título.

A diferença entre a Folha e o Estadão sobre a questão da tortura é abissal. Uma leitura apurada, cuidadosa, certamente levará o leitor mais sensato a, no mínimo, julgar precipitada a tese dos irmãos João Francisco e Bruno José.

Primeiro, vamos aos principais trechos da matéria do Estadão, assinada por Fausto Macedo, sob o título ‘É certeza que houve tortura, diz promotor’:

Os promotores criminais de Justiça que investigam suposto esquema de corrupção na administração Celso Daniel (PT) afirmaram ontem que o prefeito de Santo André ‘foi torturado’ nas horas que antecederam sua execução em janeiro de 2002. ‘Não é mais uma tese, é uma certeza material que consta de laudo pericial: Celso Daniel foi torturado’, declarou o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro, que integra o Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção ao Crime Organizado (Gaerco). ‘Quem o torturou queria arrancar alguma informação dele’, acredita o promotor.

Ontem à tarde, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) reafirmou ter acompanhado a autópsia do corpo de Celso Daniel. ‘Não vi tortura, declarou Greenhalgh. Ele considera ‘um vexame’ o fato de a polícia de São Paulo não permitir entrevistas dos delegados que investigaram o caso e concluíram pela tese de crime comum. ‘É um caso que pega o PT, por isso a Secretaria de Segurança Pública não deixa os policiais falarem e eu fico o dia inteiro respondendo; isso é um absurdo’.

Agora vamos ao texto da Folha de S. Paulo do mesmo sábado, assinado pelo jornalista Rubens Valente, sob o título ‘Laudos não elucidam tortura de Daniel’:

Os laudos técnicos que tratam das marcas de violência no corpo do prefeito (…) não conseguem esclarecer se houve tortura — dado que poderia derrubar a versão dos sequestradores do prefeito e reforçar a acusação de crime político. Anteontem, os dois irmãos (…) disseram, em entrevista coletiva, que o prefeito foi ‘torturado’ para que revelasse aos sequestradores alguma informação. Mostraram fotos com sinais no peito, costas, perna, mão e cabeça. Para os promotores de Justiça, ‘não há dúvida’ de que Celso Daniel foi torturado.

Há, — segue a matéria da Folha — no conjunto de 700 páginas do processo apresentado anteontem pela família à imprensa, dois laudos que tratam do corpo do prefeito. Um é o exame necroscópico feito pelo IML (Instituto Médico Legal). O outro é um parecer feito com base em fotografias da necropsia e no laudo do IML pelo Centro de Apoio Operacional à Execução do Ministério Público. O IML usa o termo ‘tortura’ em seu laudo de forma diferente do significado mais popular — violência infligida a alguém para obter uma informação, por exemplo. A definição que o laudo dá à tortura é a seguinte: ‘Consideramos como tortura senso geral, os achados descritos no item anterior acrescido da multiplicidade e localização dos tiros, além de sinais compatíveis com contato de cano (boca de cano) da arma aquecida como o contorno posterior do tronco’.

O ‘item anterior’ — prossegue a reportagem da Folha — citado no laudo foi o ‘tempo de agonia’ da vítima, estimado em ‘minutos’. ‘Consideramos tal agonia como intensa, baseados nos mesmos achados e na observação de espasmo cadavérico (‘facie’) e material expelido pelo corpo por vias naturais. O laudo silencia a respeito de um ferimento encontrado na cabeça do prefeito. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh chamou-o de ‘galo’, o que foi ridicularizado pela família, devido à sua extensão (de 7cm a 8cm).

A explicação — vejam só o detalhe da matéria da Folha! — dada no laudo às marcas no corpo do prefeito é o que os legistas chamam de ‘fragmentação’. Uma bala, em contato com o corpo, ossos ou mesmo o chão, após atravessar a vítima, explodiria em vários pedaços, causando os ferimentos em outras partes do corpo. Celso Daniel foi morto com oito tiros.

No parecer técnico — segue a matéria — elaborado pelo Ministério Público, os promotores perguntam que tipo de fenômeno poderia causar a ‘fragmentação do projétil e sua transposição do tecido da calça da vítima para fixação na coxa’. Os peritos responderam: ‘De acordo com o laudo da reconstituição, a vítima ficou ajoelhada, posição que poderia explicar a fragmentação dos projéteis no solo próximo à vítima em alguma superfície dura (pedra)’. A perícia do Ministério Público também não consegue elucidar o ferimento na cabeça do prefeito, dizendo apenas que ele foi causado por ‘objeto contundente’.

Na mesma edição de sábado último, a Folha de S. Paulo chuta o pau da barraca da rivalidade com o Estadão depois de mencionar o fato de que a entrevista de João Francisco, tratada como inédita pelo Estadão do dia anterior, foi publicada pela primeira vez por vários veículos de comunicação no dia 20 de junho de 2002, inclusive pela própria Folha. Diz, complementarmente, a Folha:

Em longa entrevista concedida à Folha em 21 de junho de 2002, João Francisco reafirmou as acusações (do dia anterior do Estadão, sábado último). ‘Foi quando Gilberto (Carvalho) chegou a me dizer que entregou R$ 1,2 milhão para o José Dirceu de uma vez só’, disse João Francisco naquela entrevista — escreveu a Folha de sábado.

A disputa entre Folha e Estadão fica evidente no penúltimo parágrafo da matéria de sábado:

Ontem, em entrevista concedida ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’, após a entrevista coletiva convocada pela família para cobrar omissões nas investigações da Polícia Civil sobre o assassinato, João Francisco voltou a fazer as mesmas acusações contra Dirceu e Carvalho’ — escreveu a Folha.

A guerrinha entre os dois grandes jornais estendeu-se no dia seguinte para a página de editorais do Estadão. Sob o título ‘CPI para o caso Celso Daniel’, há hostilidade cortante ao concorrente. Leiam com atenção:

A extrema gravidade do assunto deste editorial — as causas do assassinato do então prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel, em 20 de janeiro de 2002 — nos obriga, antes de mais nada, a chamar a atenção dos nossos leitores para a forma como o Estado volta a tratar do caso: com o necessário destaque, mas sem o mais remoto intuito de ‘produzir’ informações que amparem essa ou aquela versão dos acontecimentos. Não é da natureza deste jornal instruir os seus repórteres a espiar pelos buracos de fechaduras, por assim dizer, ou utilizar gravadores escondidos para obter ‘furos’ eventualmente sensacionais, quase sempre incompatíveis com a ética jornalística’.

O ataque dos Mesquitas aos Frias não é o primeiro nem será o último. E a recíproca é verdadeira. Quem deve ganhar com isso serão os leitores porque, até agora, salvo num ou noutro aspecto pontual, os dois jornais seguiram a mesma cartilha de radicalização de desconfiança sobre a apuração do caso Celso Daniel, inclusive ao ignorarem contrapontos importantes. Como, por exemplo, o depoimento do então delegado titular do DHPP — que reproduzimos nesta newsletter na última sexta-feira — ao juiz da 1ª Vara Criminal de Itapecerica da Serra, a promotores públicos e ao advogado de defesa. Aquelas declarações prestadas em maio do ano passado ratificam as conclusões da Polícia Civil e da Polícia Federal e não estão acondicionadas num cesto de achismos de parentes arrependidos por não terem descoberto em tempo a grandeza intelectual de Celso Daniel e agora travestem-se de especialistas em searas extremamente técnicas.

Pelo menos até a edição de domingo, a Folha estava levando considerável vantagem nessa disputa com o Estadão. O jornal dos Mesquitas errou ao atribuir-se um furo de reportagem em forma de entrevista, errou de novo ao ouvir apenas os promotores públicos para elucidar os exames relativos à suposta tortura de Celso Daniel e errou mais uma vez quando se atribuem, em editorial, neutralidade que todos sabem não existir nesse caso. A ordem geral e irrestrita — e escreve quem não tem filiação partidária e está cansado de se opor a questões petistas, como a bobagem de priorizar uma universidade púbica federal para o Grande ABC — é para fazer dos Daniel que estão na praça heróis da resistência de um inquérito que a Polícia Civil de um governo do Estado dirigido pelo PSDB e uma Polícia Federal dirigida à época também pelo governo do PSDB consideraram crime comum.

Só voltamos a esse assunto — e retornaremos sempre que possível – porque os jornais continuam desperdiçando uma grande oportunidade de aprofundar-se para valer nos aspectos eventualmente complexos. Como fez a Folha ao destrinchar os dois laudos reproduzidos aqui. (Colaborou Carla Fornazieri)’



João Ubaldo Ribeiro

‘Eu sou leal’, copyright O Globo, 16/04/04

‘Estava demorando um pouco, mas acabou aparecendo neste governo também. Como se sabe, a imprensa é culpada de tudo o que acontece de ruim. Tem sempre sido assim e não vai mudar. Volta e meia alguém se lembra de que o jornalismo é uma profissão perigosa, mas pouca gente de fato se preocupa com isso, até porque o perigo só é visível para a maioria quando os jornalistas estão cumprindo missões como a cobertura de guerras. Mas o perigo é bem mais amplo e, nesta minha já não tão curta vida, tenho sabido de jornalistas assassinados, agredidos, presos e até obrigados a um tipo de gastronomia peculiar à øprofissão: comer o jornal em que se escreveu alguma coisa que causou o problema denunciado. Comer jornais pode até não ser tão usual hoje em dia, a não ser que o Fome Zero tenha feito mais progressos do que os divulgados, mas, quando comecei a carreira, na Bahia, era corriqueiro, principalmente no interior. Acredito que, com a crescente desvalorização da vida, esse costume vem sendo substituído pelo assassinato mesmo. Sai mais prático e sem tantos problemas, eis que matar ou mandar matar alguém está muito fácil hoje em dia e, segundo me contam, a concorrência é tal que o serviço pode sair por algumas poucas centenas de reais, talvez pagos com cheques pré-datados ou vales-transporte.

Agora mesmo, devemos estar assistindo, no Rio de Janeiro, a uma dessas grotescas armações da imprensa. Por falta de tempo, assisto a pouca televisão, mas, de vez em quando, passo pelo aparelho ligado, dou uma espiadinha e levo algum tempo sem saber se estão mostrando o Iraque, o Afeganistão, o Oriente Médio ou o Rio mesmo. Às vezes, é complicado distinguir, pois não é que a imprensa resolveu inventar que está havendo combates de rua no Rio e que morre mais gente de tiro aqui no Brasil do que em muitos países oficialmente em guerra? É de pasmar. Claro que ninguém tem medo de sair à rua no Rio e que os moradores da Rocinha, por exemplo, estão inventando coisas, querendo aparecer. Mais um dos males da imprensa, dar espaço a quem quer simplesmente seus quinze minutos de fama.

Não sei aonde é que tudo isso vai chegar, mas já se comenta amplamente a idéia de construir muros no Rio de Janeiro, para segregar áreas perigosas. Vejam vocês que absurdo, nós aqui na mesma situação de Berlim no tempo da Guerra Fria ou de Gaza, nos tempos de hoje. Com certeza foram as ondas irracionais inventadas pela imprensa que fizeram praticamente todos os edifícios do Rio se cercarem de grades, transformando moradores e trabalhadores em prisioneiros. Agora vem esse negócio de muros. Ninguém duvide de que eles serão erguidos e a providência seguinte vai ser a instituição de postos de fiscalização, onde os transeuntes terão de mostrar passaportes para poder entrar ou sair de áreas muradas, além de outras medidas, certamente a serem mais tarde sugeridas, como a identificação e fichamento da cada cidadão morador de área murada. Aliás, já que é a imprensa mesmo que tem e acaba por fazer implantar essas idéias, sugiro logo que, doravante, só se possa circular com crachás contendo dados básicos sobre os portadores. Ou melhor, crachás não, porque as falsificações virão logo. Tatuagens, tatuagens devem ser a solução. São indeléveis e a Casa da Moeda poderia criar modelos de difícil alteração. A idéia não é nova, até porque usada pelos nazistas em campos de concentração, mas tem seus méritos e a exponho aqui como modesta achega. O lugar para as tatuagens é que podia mudar, porque os nazistas as faziam nos braços das vítimas e aqui podemos inovar, aplicando-as logo nas testas. Com um pouco de marketing e, naturalmente, a famosa vontade política, isso podia até virar moda em outras partes do mundo.

Falo neste assunto porque me tocou fundo a exortação de nossos líderes, notadamente o presidente da República (se não foi ele quem falou, trata-se de mais uma mentira da imprensa; a imprensa mente que não se sente, como falava minha avó), quanto à lealdade da imprensa. Pela parte que me toca, fiquei meio chateado, porque nunca me imaginei desleal. É difícil julgar nosso próprio comportamento, mas creio que tenho sido leal. Posso citar logo um exemplo que considero irretocável. Como muita gente, jornalistas ou não, há bastante tempo acho que o presidente, por falta de prática, não trabalha. Por favor, não me entendam mal. Claro que, num certo sentido, ele trabalha. Faz discursos, faz viagens, faz promessas, faz reuniões, usa bonés de qualquer extração, faz uma porção de coisas. Mas não é o tipo do trabalho que agora se esperaria dele, as necessidades são outras. Com certeza, em seus tempos sindicalistas, trabalhou muito em reuniões, concentrações e ações correlatas. Mas agora essa experiência não vem servindo, tanto assim que a percepção geral (claro que em grande medida por culpa da imprensa também) é de que o governo não faz nada e o presidente- digo isto com toda a lealdade – não trabalha. Deve até ficar exausto de tanta coisa que faz, mas trabalhar mesmo, não trabalha. E, agora que o dr. Dirceu anda com problemas, a coisa se vê com mais clareza.

E pronto, vou abandonar o assunto, insisto em preservar minha lealdade. E digo mais, não vou nem ficar dizendo que ele não trabalha. Serei leal, vou procurar não discordar de mais nada e aplaudir tudo o que ele faz – ou não faz, para não deixar de lado o principal. O Dia das Mães vem aí e vocês vão ver com que discurso supimpa ele nos vai brindar (‘ser mãe é brincar nas onze na pelada da vida’) e colaboraremos para seu sucesso em tudo o que pudermos. Existe algum boné especial para Dia das Mães?’



Daniel Castro

‘Após os Suplicy, TV satiriza ministros’, copyright Folha de S. Paulo, 15/04/04

‘Depois da prefeita Marta Suplicy e do senador Eduardo Suplicy, o humorístico ‘Casseta & Planeta’ vai satirizar ministros do governo Lula. José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Gilberto Gil (Cultura) serão Dirceuzinho, Paloccinho e Gilzinho em ‘Os Ministros Superpoderosos’, tira que deve estrear em maio no programa da Globo e satiriza o desenho ‘As Meninas Superpoderosas’, do canal Cartoon.

O ‘Casseta’ exibiu anteontem as primeiras tiras de ‘Os Suplicympsons’, sátira de ‘Os Simpsons’. O desenho tem o traço do original, mas com personagens inspirados em Marta e Eduardo Suplicy, Luis Favre (marido de Marta) e o roqueiro Supla, filho dos dois políticos.

A estrela da estréia de ‘Os Suplicympsons’, que não tem periodicidade regular e só deve voltar ao ar no dia 27, foi a prefeita, presente nas três tiras. Na segunda, ela ouviu de Supla o pedido de tachas para sua jaqueta. A prefeita o atendeu criando taxas, como a do lixo.

Na terceira tira, Suplicy pediu à ex-mulher para resolver o problema das enchentes. Ele demorou tanto a falar que, ao terminar, a água já cobria sua cabeça.’