Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Aumentam casos criminais contra jornalistas

Líderes de grupos de defesa dos direitos humanos denunciam que vários jornalistas russos vêm enfrentando uma campanha de intimidação por parte do governo do presidente Vladimir Putin. O número de casos criminais contra jornalistas, acusados de calúnia e de insultar oficiais da polícia, cresce de maneira exorbitante. A cada ano, são arquivados de seis a oito mil casos por difamação nos quais a obrigação de se trazer provas é do acusado. Oleg Panfilov, chefe do Centro de Jornalismo em Situações Extremas, sediado em Moscou, afirma que no governo de Putin o código criminal é usado freqüentemente, em uma média de 35 casos por ano. ‘A Rússia é, provavelmente, o único país onde casos criminais contra jornalistas são abertos com tanta freqüência’, afirmou Panfilov.

O jornalista Yuri Bagrov é um dos que estão sendo acusados criminalmente. Ele conta que seus problemas começaram depois de ter escrito uma série de matérias sobre contrabando e corrupção. O mais grave teria sido um artigo para a Associated Press descrevendo o desaparecimento de um advogado local que investigava possíveis associações entre o Federal Security Force (FSB), serviço secreto russo, e o desaparecimento de dezenas de jovens na república da Ingushetia. Logo depois da publicação dos artigos, 10 agentes fizeram uma busca em sua casa, carro e escritório pela manhã e, poucas horas depois, ele havia sido levado ao FSB.

Bagrov nasceu em Tbilisi, que se tornou a capital da Geórgia depois do colapso da União Soviética. Ele ainda tinha o antigo passaporte soviético quando se mudou para a cidade de sua mãe, Vladikavkaz, em 1992. Em 2003, ele trocou seu antigo passaporte por um russo, mas as autoridades alegaram que não havia registros sobre a troca e o multaram em US$ 526, além de o ameaçarem de deportação. Bagrov afirma que sua esposa, que estava grávida, começou a receber ligações de pessoas que pediam para falar com a ‘viúva do Sr. Bagrov’. Sem documentos de identificação, ele não podia deixar Vladikavkaz nem requisitar uma nova credencial de imprensa para trabalhar. Desta forma, não pôde cobrir o que poderia ser a história mais importante da sua carreira: o ataque à escola de Beslan, no ano passado, a apenas 10 milhas de distância do local onde ele estava. No início deste mês, jornalistas de todo o mundo foram a Beslan, no aniversário de um ano do massacre. Bagrov não conseguiu novamente a credencial de jornalista e foi preso ao tentar chegar a Beslan.

Desde 2000, 12 jornalistas foram assassinados na Rússia. O caso mais recente foi o de Magomedzagid Varisov, escritor e analista político morto em junho na cidade de Daguestão. Pavel Makeev, repórter da televisão estatal Puls, foi encontrado morto perto da cidade de Azov em maio, depois de ter anunciado que filmaria uma competição ilegal de carros no local, e sua câmera não foi localizada. Informações de Kim Murphy, do Los Angeles Times [12/9/05].