Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Barreira quebrada entre o comercial e a redação

Um usuário do site do Washington Post está lendo uma matéria sobre um livro e se interessa por comprá-lo. Basta clicar em um link que levará à página da livraria virtual Amazon. Muito conveniente, mas será que a proximidade entre o conteúdo jornalístico e a possibilidade de se comprar o produto tratado jornalisticamente afeta a credibilidade do jornal? A questão foi levantada pelo ombudsman Andrew Alexander em sua coluna de domingo [24/10/10].

O debate surgiu após um recente acordo do diário com a Amazon, sob o qual ambos compartilharão lucros oriundos de links inseridos em críticas, colunas e matérias que mencionam produtos vendidos na loja, como livros a aparelhos eletrônicos. Dois pontos são preocupantes para os jornalistas do Post. Os links estão sendo colocados diretamente no conteúdo das notícias, em vez de em outro lugar na página, onde em geral ficam os anúncios. Além disso, os editores receberam ordens de inseri-los. Para muitos, isto ameaça a tradicional barreira entres as notícias e os negócios do Post. Os profissionais temem estar sendo solicitados a dar um passo além do jornalismo para criar oportunidades comerciais – o que poderia estar contribuindo, portanto, com a queda desta barreira.

Normas de proteção

Depois de meses examinando possíveis questões éticas, o Post estabeleceu normas em relação ao tema, que determinam, por exemplo, que os produtos devem ser mencionados no conteúdo noticioso ‘somente quando há um motivo editorial para isso’. Além disso, os links para os produtos na Amazon devem ser colocados não importa se o Post está escrevendo a favor ou não deles. Não devem ser inseridos links em matérias de crime ou obituários. E, por fim, editores devem colocar links para a opção mais barata de múltiplas versões de um produto, para não parecer que o Post está querendo ganhar mais em cima de cada compra.

Há um ano, o acordo com a Amazon já havia sido anunciado e vinha sendo feito sob testes. Antes, o jornal havia informado que os departamentos de notícias e editorial não estariam envolvidos na colocação de links. No entanto, segundo o editor-executivo Marcus W. Brauchli, isto mudou porque as regras criadas protegeriam as normas editoriais e simplificariam a experiência do usuário. No mês passado, a redação assumiu a tarefa de inserir links em matérias porque é mais eficiente para editores fazer isto ao mesmo tempo em que estão preparando o conteúdo para ser colocado no site do Post. ‘O principal benefício é que simplificamos o processo’, explicou.

Para Alexander, há preocupações sobre se o envolvimento da redação atrapalharia a autonomia dos jornalistas. Segundo alguns funcionários do Post, que não se identificaram, os lucros com o acordo são modestos. ‘Se for verdade, vale a pena o risco?’, indaga o ombudsman.