Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bia Abramo

‘É sábado à tarde e a TV está lá, desligada. E melhor seria se assim permanecesse, porque a programação da TV nesse horário é uma verdadeira terra de ninguém. O tempo não vale nada, os programas não apenas são excessivamente longos como esticam suas ‘atrações’ ao máximo, até uma espécie de paroxismo da enrolação.

Um quadro qualquer de um programa qualquer de qualquer uma das emissoras da TV aberta dura, pelo menos, mais 50% do que seria o necessário; segundos que se tornam minutos são gastos em falação sobre tudo e sobre nada; entrevistas extensas com quem absolutamente não tem o que dizer; repetição de cenas em tudo semelhantes com ligeiras, imperceptíveis e nada significativas variações etc. Famosos de terceira e quarta linha, corpos mais ou menos despidos e músicas que você já se cansou de ouvir completam as alternativas possíveis para encher o tempo.

É um tempo barato, baratíssimo, o da TV aos sábados à tarde -e, por conta disso, as emissoras barateiam o tempo do espectador de maneira quase (quase?) desrespeitosa. Os apresentadores, estes ganham lá seu dinheirinho fazendo propaganda dentro dos programas, com um cinismo que borra completamente as fronteiras entre o editorial e o comercial, a ponto de se ligar a TV e não se saber o que exatamente está acontecendo, se é programa ou anúncio.

Não dá nem para falar em entretenimento, uma vez que o empenho em meramente divertir, nada além disso, é por demais anêmico. Trata-se mais de preencher o tempo com gritaria, animação genérica e, cá e lá, um toque de mundo bizarro. E tudo isso em câmera muito lenta -o que torna a lembrança do precursor de todos eles, o Chacrinha, mais aguda, por contraste.

Numa dada tarde, em sábado recente, as alternativas eram eletrizantes: concurso de mulatas, na Globo; reportagem sobre a entrega de um aparelho de surdez, no SBT; cantores mirins fazendo playback de sucessos radiofônicos, na Record; e a visita à casa de uma ex-namorada de Chitãozinho, na Bandeirantes.

OK, vá lá que um programa desses exista e faça sentido, o mundo é diverso etc., mas por que o horário é tomado por programas do mesmo tipo? Claro, há algumas diferenças, a produção lá é mais profissional do que a de cá, o apresentador X é um tantinho mais carismático ou menos cínico do que o apresentador Y.

Pode-se argumentar que ‘Caldeirão do Huck’ é mais rico do que o ‘Sabadaço’ e, portanto, as celebridades de um são mais célebres do que as do outro, a exploração da ‘benemerência’ em ‘Falando Francamente’ talvez seja mais imoral do que a dos pequenos cantantes no programa do Raul Gil, mas, no fundo, no fundo, eles fazem mais ou menos a mesma coisa: exibem, com toques de perversidade, um mundo tolo, vazio e, sobretudo, muito modorrento.’



FUTEBOL NA TV
Paulo Cobos

‘Estaduais migram para tela alternativa’, copyright Folha de S. Paulo, 15/02/04

‘Sem acerto com Globo e suas afiliadas, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia exibem seus jogos em redes de TV ‘nanicas’

A Globo não fez muita questão, e as imagens de alguns dos mais tradicionais campeonatos estaduais do país foram parar em telas bem menos famosas.

No Rio Grande do Sul, uma emissora local e com programação própria toca o negócio. Na Bahia, um canal estatal tem a exclusividade. No Paraná, a federação montou uma equipe de TV, gera as transmissões e busca nichos alternativos da TV paga.

Todos os torneios estaduais citados foram vítimas do desinteresse que esse tipo de competição disperta. Com ofertas baixas da TV Globo e de outras grandes emissoras nacionais, tiveram que negociar para não ficar fora da principal vitrine da mídia e sem os anunciantes e a principal fonte de receita do futebol atualmente.

O destino das imagens do Gaúcho foi negociado por uma licitação, com as ofertas feitas por carta. A RBS, empresa que retransmite a imagem da Globo no Sul e quase sempre exibiu o torneio, ofereceu R$ 400 mil.

A Guaíba, que não é afiliada a uma emissora nacional, fez um lance de R$ 660 mil e ganhou o direito de exibir 40 jogos, todos ao vivo, até o fim do campeonato.

‘Dá perfeitamente para fazer futebol na TV sem ser na Globo’, diz Luiz Carlos Reche, um dos chefes de esporte do grupo de que a Guaíba faz parte.

Os clubes gaúchos, especialmente os pequenos, tiveram um aumento substancial nas suas cotas -cerca de 50%.

Outro órfão de uma grande emissora, o Campeonato Baiano é exibido em um canal sem fins lucrativos. Com dinheiro do governo estadual, seu controlador, a TVE (Educativa da Bahia) adquiriu os direitos exclusivos de transmissão do certame.

‘Estamos cumprindo a orientação de aproximar a TVE cada vez mais do povo baiano, e o futebol baiano é uma expressão muito forte da cultura de nosso Estado’, justifica José Américo Moreira da Silva, diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia.

Depois de anos de parceria com a emissora que reproduz a Globo no Estado, o futebol paranaense traçou um caminho inusitado para não sair das telas.

A federação local resolveu ela mesma produzir o futebol no Estado. Contratou narradores, comentaristas e uma produtora de vídeo. Assim, ela é quem faz a geração dos jogos para, depois, vender diretamente aos interessados.

Em Curitiba, uma empresa de TV a cabo cobra R$ 40 pelos jogos dos grandes. Fora do Estado, as imagens vão ao ar por um novo canal de esportes por assinatura.

Para as emissoras, o investimento no futebol é comemorado.

A TVE baiana, com a exibição do jogo Camaçari x Vitória, teve seu recorde dominical de audiência. Foram 100 mil telespectadores só em Salvador -a média do canal no horário é de 25 mil.

Buscando o lucro, ao contrário da emissora nordestina, a Guaíba celebra a venda de cotas de patrocínio para o futebol -três grandes empresas com atuação nacional já acertaram com o canal.

No Paraná, os cartolas apostam em um lucro maior. ‘Nossa expectativa é vender cada jogo para 10 mil residências’, diz Onaireves Moura, o presidente da Federação Paranaense de Futebol.’



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‘Rio e SP ficam na maior emissora, mas mais baratos’, copyright O Estado de S. Paulo, 15/02/04

‘Os dois mais importantes campeonatos estaduais do país continuam em tela nobre, mas os clubes de São Paulo e do Rio não têm o mesmo faturamento da época das copas regionais.

Pelos dois campeonatos, a Globo está pagando R$ 23 milhões, ou menos de um quarto do que gastou no Torneio Rio-São Paulo de 2002.

Além de menos dinheiro, o bolo é agora dividido por mais gente. No interestadual, banido do calendário para a adoção do primeiro Campeonato Brasileiro de pontos corridos, eram apenas 16 times dos dois Estados. Agora, são mais de 30 equipes jogando o Paulista e o Estadual do Rio.

Na TV paga, a exibição das duas competições, especialmente a de São Paulo, também sofreu forte baque.

Até o ano passado, o Paulista era exibido por ESPN Brasil e Sportv. Em 2004, só a segunda está na parada -e exibindo somente uma partida por semana. São Paulo não tem mais também os confrontos de seu campeonato mostrados no sistema ‘pay-per-view’.

Além disso, até agora a Globo não está transmitindo para as cidades de São Paulo e do Rio os clássicos realizados nessas próprias localidades.’





Daniel Castro

‘Fã de futebol na TV não vai a estádio’, copyright Folha de S. Paulo, 14/02/04

‘Pesquisa recente do instituto Datafolha para a programadora de canais pagos Globosat revela que os compradores de pacotes de futebol em ‘pay-per-view’, que custam em média R$ 300 (no caso do Campeonato Brasileiro), não vão aos estádios.

De acordo com a pesquisa, 81% dos clientes de ‘pay-per-view’, sistema que bem batendo recordes de vendas, não costumam freqüentar os campos. Entre os 19% que costumam freqüentar, apenas 3% o fazem uma vez por mês.

Os motivos não são apenas segurança e comodidade. ‘O público do ‘pay-per-view’ é mais velho do que aquele que vai ao estádio e tem compromisso familiar aos domingos. Quem vai ao estádio tem de 15 a 30 anos.’ O segundo fator é geográfico. Sessenta por cento dos compradores do Carioca-04 [48 mil pacotes até agora] moram fora da região metropolitana do Rio, e 45%, fora do Estado do RJ’, diz Elton Simões, diretor de ‘pay-per-view’ da Globosat.

As pesquisas mostram que os clientes de ‘pay-per-view’ vêem os jogos em família _36% dos acompanhantes são mulheres. Entre os que assistem sozinhos (25% do total), 11% são mulheres.

Corinthians (16%) e Flamengo (14%) têm as maiores torcidas entre os potenciais compradores de ‘pay-per-view’, mas, proporcionalmente ao tamanho da torcida, Grêmio (RS) e os quatro grandes cariocas são os que mais geram receita no sistema à Globosat.

OUTRO CANAL

Social Apresentador da Record, onde negocia uma ‘sitcom’, Netinho de Paula apareceu anteontem à noite na casa de Marcelo Parada, vice-presidente da Band, onde ocorria um churrasco com publicitários. Conversou muito com Marlene Mattos. O ex-Globo Carlos Nascimento, que estréia na Band em março, também foi.

Trapalhada O SBT já encomendou a dublagem da versão mexicana da novela ‘A Outra’, cuja edição nacional, com Mel Lisboa, não será mais realizada. A emissora também pediu à parceira Televisa novos textos para escolher a próxima produção. A Record, que estréia novela nacional em março, está adorando.

Rugido 1 Carlos Massa, o Ratinho, ficou uma fera porque perdeu para a Globo o melhor do teste de DNA de seus sonhos, o que irá revelar se um mecânico de Bauru é ou não o famoso menino Carlinhos, seqüestrado no Rio nos anos 70.

Rugido 2 A Globo fez um cerco quase intransponível aos personagens envolvidos. Glória Maria viajou para Bauru no mesmo avião que a mãe de Carlinhos. Na cidade, o suposto Carlinhos driblou o SBT andando em carros da polícia, com escolta.

Vem aí ‘Alias’, série de sucesso no canal pago AXN, é a primeira novidade da temporada que estréia em março no Sony.’