Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Blogs conservadores criticam mídia liberal nos EUA

Um caso de estupro e assassinato no estado americano do Tennessee se transformou em mais um exemplo do crescente poder da internet sobre a imprensa tradicional, segundo artigo de Duncan Mansfield para a Associated Press [18/5/07]. Em 2004, blogueiros denunciaram a reportagem apresentada pelo veterano âncora Dan Rather na emissora CBS sobre a participação do presidente George Bush na Guarda Nacional, cavando provas de que os documentos apresentados no programa eram forjados. No ano seguinte, foram blogueiros que pressionaram o então diretor da CNN Eason Jordan a deixar o canal de notícias por ter dito que soldados americanos teriam matado alguns jornalistas no Iraque intencionalmente. Em 2006, blogueiros descobriram que uma foto da Reuters que mostrava Beirute após um ataque aéreo israelense havia sido modificada digitalmente.

Desta vez, blogueiros conservadores acusam a chamada ‘imprensa liberal’ americana de ignorar o caso do estupro e assassinato de um jovem casal da cidade de Knoxville. O motivo? As vítimas eram brancas, os supostos assassinos, negros. Críticos comparam o caso do Tennessee com uma acusação de estupro envolvendo estudantes da Universidade Duke, em Durham, em que a vítima era negra e os acusados, brancos – e que recebeu ampla cobertura midiática.

Crime brutal

Channon Christian, de 21 anos, e seu namorado Christopher Newsom, de 23, foram vistos pela última vez em 6/1. Os dois foram levados de carro quando deixavam o apartamento de um amigo. O corpo de Newsom foi encontrado no dia seguinte, com marcas de tiros e queimado, junto ao trilho do trem. O cadáver de Channon foi achado dois dias depois, em uma lixeira de uma casa alugada por um dos acusados. Os dois jovens haviam sofrido abuso sexual. Algum tipo de desinfetante foi jogado na boca de Channon para ocultar provas, de acordo com os registros do tribunal.

A imprensa local cobriu o caso desde que os corpos foram encontrados, e a Associated Press divulgou matérias que foram distribuídas nacionalmente. Ainda assim, o brutal assassinato recebeu pouca atenção de outros veículos de mídia.

Lugar errado, hora errada

Alguns internautas chegaram a sugerir que o caso deveria ser tratado como um crime de ódio. Mas o chefe de polícia que cuidou da investigação diz que não há provas que sustentem a alegação de que tenha sido um crime com motivação racial. ‘Nós o vemos como um assassinato a sangue frio’, afirmou. Os cinco acusados variam entre 18 e 34 anos, e as vítimas não os conheciam, completou John Gill, assessor especial do procurador do estado. Channon e Newsom estariam apenas, segundo ele, ‘no local errado na hora errada’.

Segundo Ted Gest, presidente do grupo Criminal Justice Journalists, uma organização nacional de repórteres que cobrem assuntos policiais, crimes inter-raciais costumam receber mais cobertura do que quando o criminoso e a vítima são da mesma raça. ‘Mas eu não posso dizer se este caso teria ganhado mais destaque se cinco brancos fossem acusados de matar dois negros, sem motivação racial’, diz ele. ‘Por pior que seja este crime, a ausência aparente do envolvimento de grupos de interesse ou de algum outro ‘ângulo’ pode explicar a falta de cobertura’.