Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Bush, esqueça as memórias!

Em menos de três meses, o presidente eleito Barack Obama assumirá a Casa Branca e a administração de George W. Bush entrará para a História. O período de transição não é uma boa hora para que o republicano lance suas memórias, alertam as editoras americanas. ‘Se eu fosse aconselhar o presidente Bush, devido a como o público o vê hoje, diria para ele ter paciência’, afirma Paul Bogaards, diretor-executivo de publicidade da editora Alfred A. Knopf, que publicou o livro de Bill Clinton, My Life (Minha Vida), em 2004.

Marji Ross, presidente e publisher da conservadora Regnery Publishing, concorda. ‘Certamente, quanto mais ele esperar, melhor. Há muita frustração entre conservadores e isto fará com que muitos comprem livros sobre Barack Obama’, opina, lembrando que sua editora deve, nos próximos anos, lançar livros anti-Obama, e não publicações elogiosas a Bush.

Além da popularidade em baixa do presidente, a crise financeira global também prejudica a venda de livros. O índice de aprovação de Bush está na faixa de 20% dos americanos. A vitória do democrata Obama e a expansão da maioria democrata no Congresso também não têm feito nada bem para o ego republicano.

Paciência

O ex-presidente Harry Truman deixou a Casa Branca com altos índices de desaprovação, em 1953. Hoje, ele é um ícone na política americana – foram necessários, entretanto, muitos anos para esta mudança de imagem. Suas memórias publicadas nos anos 50 são menos lembradas que o livro publicado nos anos 90, escrito por David McCullough. ‘Só a História vai dizer se Bush será lembrado como um bom presidente que sacrificou a presidência por aquilo que acreditava ou se fracassou como presidente’, sentencia Marji.

Bill Clinton assinou seu contrato milionário com a Knopf meses antes de deixar o cargo, mas seu índice de aprovação, mesmo com o escândalo Monica Lewinsky, era mais alto que o de Bush. George Bush pai, derrotado na reeleição de 1992 por Clinton, nunca escreveu um livro de memórias. Em vez disso, publicou uma obra sobre política externa em parceria com Brent Scowcroft, amigo e membro de seu governo.

Conteúdo duvidoso

Além do baixo índice de aprovação de Bush filho, muitos desconfiam da qualidade que um livro seu teria – o presidente tem fama de não gostar muito de ler. ‘Ronald Reagan era um presidente muito popular, mas suas memórias transformaram-se em um livro muito entediante. Não refletia em nada o charme, inteligência e sabedoria que Reagan mostrava em público’, diz Peter Osnos, fundador da PublicAffairs, que publicou o livro do ex-porta-voz da Casa Branca Scott McLellan, intitulado What Happened: Inside the Bush White House and Washington’s Culture of Deception (O que aconteceu: por dentro da Casa Branca de Bush e da cultura da enganação de Washington, tradução livre). Editores acham, no entanto, que o público pode se interessar em livros sobre a secretária de Estado, Condoleezza Rice, ou até mesmo sobre a primeira-dama, Laura Bush. Informações de Hillel Italie [AP, 5/11/08].