Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Canal misterioso homenageia Saddam Hussein

Estreou na sexta-feira [27/11] passada, em países árabes, um misterioso canal em homenagem ao ditador iraquiano Saddam Hussein, morto há três anos. Com o nome oficial alternando entre al-Lafeta (A Bandeira) e al-Arabi (O Árabe), a estação foi apelidada de ‘Canal Saddam’, e mostrou, em seus primeiros dias de exibição, centenas de imagens do ex-líder e de seus filhos.

Saddam aparece em fotos vestindo uniforme militar, terno e em um cavalo branco. Em uma das imagens, os filhos Udai e Qusai sorriem com o pai; em outra, são mostrados seus corpos e o do neto de Saddam, Mustafa. Os três foram mortos por soldados americanos em julho de 2003. Uma cena mostra um homem queimando uma bandeira americana; outra, túmulos cobertos por bandeiras iraquianas. Todas as imagens têm como som de fundo discursos e poesias recitadas por Saddam ou músicas patriotas com frases como ‘liberte o seu país’.

Yassin Majid, assessor do primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, disse em entrevista que não havia visto o canal mas ouviu falar dele. Majid classificou a estação como uma ‘tentativa do extinto partido Baath [liderado por Saddam] para voltar à política iraquiana’. Desde a queda do ditador, membros do partido fugiram para outros países, principalmente Síria e Jordânia, mas também foram para o Iêmen e outras nações do Golfo. O assessor não comentou se o governo irá tentar fechar o canal.

Segredos

A emissora é misteriosa porque não se sabe de onde é transmitida ou de onde vem o dinheiro para financiá-la. A Associated Press conseguiu encontrar um homem em Damasco, na Síria, que diz ser o presidente do Canal Saddam. Em entrevista por telefone à agência americana, Mohammed Jarboua afirmou que não recebeu dinheiro algum de membros do Baath, dizendo apenas que o financiamento vem de ‘pessoas que nos amam’. Segundo ele, a estação foi criada para os iraquianos e outros árabes que têm saudades do governo do ditador.

Jarboua conta que é argelino e que o canal é transmitido da Europa, mas não revela o país, citando preocupação com a segurança de seus funcionários. Ele diz que deu início ao projeto há nove meses, no Líbano, e que trabalha com pessoas da Síria, Líbano, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Para não ser descoberto, o canal usa diferentes serviços de satélite, como o Noorsat, com sede no Barein, e o egípcio NileSat, que é coordenado pelo consórcio europeu Eutelsat. Informações de Lara Jakes [AP, 29/11/09].