Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Compra da AOL coloca futuro do Huffington Post em xeque

Arianna Huffington: aparente otimismo (Foto: Reuters)

Arianna Huffington: aparente otimismo (Foto: Reuters)

O futuro do portal de notícias Huffington Post pode ser abalado com a compra da AOL pela operadora de telecomunicações Verizon, por cerca de 4,4 bilhões de dólares. De acordo com executivos da Verizon, a negociação tem como objetivo expandir sua atuação no setor de publicidade digital, que atualmente é liderado pela AOL.

O Huffington Post, co-fundado pela ex-socialite grega Arianna Huffington em 2005, foi comprado pela AOL em 2011, por 315 milhões de dólares. Agora, analistas de mídia avaliam as possibilidades do portal, já que, além de o jornalismo não ser o produto final da Verizon, não se sabe se a nova relação pode prejudicar a cobertura reconhecidamente independente do Huffington Post.

“Nada vai mudar”

Muito embora a Verizon insista que nada mudará no quadro da AOL e de suas ramificações – Tim Armstrong, inclusive, será mantido como presidente do grupo –, alguns fatores explicam a insegurança.

É sabido que a Verizon e o Huffington Post discordam em diversos pontos: enquanto a primeira tem um viés conservador, o segundo é assumidamente liberal; ao passo que aquela é contra a neutralidade da rede, este é a favor; a Verizon tem apoiado ordens judiciais do governo americano que exigem quebra de sigilo telefônico, já o Huffington Post fez campanha contra a coleta de dados em massa feita pela Agência de Segurança Nacional.

Até a conclusão das negociações com a Verizon, Arianna Huffington tinha se mostrado otimista com o futuro do portal, chegando a anunciar mais planos de expansão global – além dos EUA, já existem versões em 12 países, incluindo o Brasil – e em suas operações na área de vídeo, aumentando sua rede de blogueiros não remunerados, publicando mais reportagens originais e ampliando as ofertas de matérias de humor e estilo de vida. De acordo com fontes próximas a Arianna, no entanto, não se sabe mais se a entrada da Verizon pode afetar estes planos.

Embora os executivos da Verizon tenham se esforçado para tranquilizar o Huffington Post de que ele manterá sua independência editorial, o histórico da operadora de telecomunicações nesse sentido não é dos melhores. Em 2014, a Verizon investiu em criação de conteúdo através de um site chamado SugarString. Pouco tempo depois, as atividades do site foram encerradas entre queixas de seus repórteres e editores de que diretores da Verizon haviam proibido terminantemente a publicação de textos sobre espionagem e neutralidade na rede.

Negócio rentável

Por outro lado, pode ser que o prestígio e o bom desempenho do Huffington Post representem mais um modelo de negócios rentável nesta nova aquisição. Não se pode esquecer que o portal é um dos líderes do estabelecimento de uma nova mídia – aquela composta por startups digitais bem-sucedidas como BuzzFeed e Vice. Nesse caso, a Verizon pode estar mais concentrada na possibilidade de um bom negócio do que preocupada com questões editoriais.

O Huffington Post cresceu, na última década, a partir de um trabalho muito bem construído no aproveitamento do sistema de search engine optimization (basicamente o processo que assegura que ele apareça sempre no topo dos sites de buscas) e na agregação de conteúdo. Seu sucesso o levou a ser comprado pela AOL. Em 2012, o Huffington Post ganhou um Pulitzer pela primeira vez na categoria Reportagem Nacional, pela série “Além do campo de batalha”, de David Wood, sobre veteranos de guerra feridos. Estima-se que o portal valha um bilhão de dólares.

Em entrevista ao próprio Huffington Post, Tim Armstrong afirmou estar confiante de que a transação com a Verizon seria promissora para a expansão global do portal, e reforçou que não haveria qualquer impacto na liberdade editorial. “Se você vai entrar no ramo da imprensa, se vai ser dono ou investidor de um veículo, precisa concordar com a independência editorial, e a Verizon compreende isso”, disse. “Você está lidando com duas grandes corporações que acreditam no futuro do conteúdo e na independência editorial. Eu não creio que teríamos fechado negócio se não fosse este o caso”.

Armstrong foi vago, no entanto, ao ser perguntando sobre questões delicadas, como a postura da Verizon no que diz respeito à neutralidade da rede. Político, ele se limitou a dizer que alguns assuntos “ainda não haviam sido discutidos com a Verizon”.