Depois que o polêmico apresentador americano Howard Stern virou um dos principais alvos da cruzada contra a indecência da Comissão Federal de Comunicações (FCC, sigla em inglês), o interesse por seu programa de rádio aumentou consideravelmente. Nos últimos três meses, o talk show ganhou 22% a mais de ouvintes em Nova York, e virou o mais ouvido em Los Angeles. Depois que foi tirado do ar em seis estações da maior rede de rádio dos EUA, a Clear Channel, por conta de multas da FCC, Stern passou a atacar o governo. ‘Conclamo todos os fãs do programa a votarem contra Bush. Vamos entregar a Casa Branca a John Kerry’, disse no ar, recentemente.
Apesar de ter deixado clara sua opção política atual, Stern não ganhou o apoio dos democratas. Eles parecem temer que, aproximando-se dele, desagradariam a uma fatia mais conservadora de seu eleitorado. Nenhum senador democrata se manifestou em favor do radialista, tampouco o fez o candidato Kerry. O apresentador comandará um especial no canal de televisão ABC e o presidenciável se negou a participar, mesmo sendo a ABC uma das maiores redes de TV dos EUA. Ser entrevistado por Stern, além disso, não é fácil para quem está numa corrida eleitoral. Em 1993, por exemplo, ele sugeriu à então candidata ao governo do estado de Nova Jersey, Christine Todd, que, se havia ligado ao seu programa para se promover, que divulgasse sua candidatura desfilando de biquíni fio dental. Ela ganhou a eleição – mesmo sem acatar a sugestão do radialista.
Como mostra matéria de Joe Hagan [The New York Observer 10/5/04], uma das poucas vozes de peso que se levantaram em favor de Stern no cenário político foi a de Rudolph Giuliani, republicano e ex-prefeito de Nova York. ‘Todos sabem como o Howard é. As pessoas ouvem seu programa e decidiram que gostam de seu gênero de humor. Acho que a FCC e as agências reguladoras têm coisas melhores com que se preocupar. E penso que isso está próximo de inibir o livre discurso’, argumenta Giuliani, que já participou de seu programa três vezes. Republicanos nova-iorquinos já tiveram o apoio de Stern em algumas ocasiões, o que explica a posição contraditória do ex-prefeito. Quanto ao silêncio dos democratas, não está claro por quanto tempo eles ainda desprezarão os cerca de 8,5 milhões de ouvintes do apresentador.