Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Deonísio da Silva

‘‘Dá uma preguiça desgramada’, disse o presidente Lula sobre o ato de ler, ao inaugurar a Bienal do Livro, em São Paulo, semana passada. Os jornais repercutiram a declaração no dia seguinte, dedicado ao índio. Ler seria, então, entretenimento de silvícola, mais conhecido como programa de índio? Não, o presidente usou outra de suas célebres metáforas e comparou a leitura a indispensáveis caminhadas de adultos sedentários.

Ano passado, no primeiro semestre, havia excessiva indulgência com as gafes do presidente, motivada pela inédita chegada de um ex-operário à Presidência da República. Naqueles primeiros dias, nem isso se poderia dizer, ex-operário, sem que olhares à sorrelfa, telefonemas repreensivos e outras duras mensagens corretivas tentassem reeducar a quem ousasse vituperar qualquer declaração de Lula. Era vigilância exagerada sobre quem tem o direito e o dever de escrever com liberdade.

O dever da liberdade? Isto mesmo! Quem escreve, tem, não apenas o direito à liberdade, mas também o dever de exercê-la em seu ofício. O cineasta Luís Buñuel tratou da questão com ironia num filme desconcertante, intitulado justamente O fantasma da liberdade.

A chegada de Lula à Presidência da República deixou tão desarrumados os modos clássicos de criticar, que somente os mais preparados garantiram a sobrevivência do requisito básico de quem escreve: a liberdade.

Somos, porém, um povo ciclotímico, que alterna generosidade e clemência, maldade e insensatez. Às vezes, é proibido elogiar. Outras vezes, é proibido reprovar. Ora, a crítica isenta pressupõe endossos e recusas. Os recentes eventos da Rocinha, a execução de prisioneiros em Rondônia e a chacina de garimpeiros na Amazônia oferecem contrapontos problemáticos aos defensores de nossa proclamada cordialidade.

Chico Buarque e Ruy Guerra resumiram a alma brasileira nestes versos de Fado tropical: ‘Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar,/ Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora…’ (…) ‘E se a sentença se anuncia bruta,/ Mais que depressa a mão cega executa,/ Pois que senão o coração perdoa’.

Este contraditório espírito nacional baixou sobre nossa imprensa, antes compassiva com as gafes presidenciais e agora rigorosa com o presidente Lula. E, no caso, ocupando-se de seu português, alguns jornalistas tacharam como gafe a expressão que ele utilizou ao comparar o ato de ler com o de fazer ginástica.

Outra vez perderam a medida. Lula não cometeu gafe. Ao contrário, utilizou um eufemismo para evitar uma palavra mais pesada. O eufemismo consiste em suavizar a dureza de palavra ou expressão. Foi o que o presidente fez. Em vez de dizer que ‘dá uma preguiça desgraçada de ler’, disse que ‘dá uma preguiça desgramada’.

Invocações a eufemismos ocorrem em outras esferas do poder, inclusive no Legislativo, onde ele um dia enxergou, sem eufemismo nenhum, ‘trezentos picaretas’. Ali, as ilustres personalidades utilizam abundantes eufemismos. Com efeito, não mentem; faltam com a verdade. Não caluniam; exageram nas acusações. Não corrompem; pedem favores a parentes, amigos e conhecidos. Não perseguem subordinados; apenas extrapolam ou exorbitam de suas funções. Não são tampouco arapongas. Ao bisbilhotar a vida alheia, atendem ao interesse nacional.

O uso de metáforas e eufemismos não substitui o conhecimento da língua. Em vez de ‘ele morreu’, diz-se que ‘esticou as canelas’. Mas depende do contexto e dos envolvidos. De um político não se diz isso, nem que ‘abotoou o paletó’. Recomenda-se: ‘ele deixou a vida para entrar na História’.

Atos e falas do presidente Lula, muito repetitivo em suas metáforas, indicam que ele ouve muito, mas lê pouco.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Miss Brasil 2004’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/04/04

‘Diretor de nossa sucursal no Planalto, de cuja sede é possível flagrar as ações de muita gente boa, Roldão Simas Filho lia o Correio Braziliense de 10 de abril quando deparou com uma surpreendente notícia publicada na coluna 360 Graus, de Jane Godoy:

Sob o título O Resgate do Glamour, lia-se: ‘(…) Na quarta-feira (7/4), sem alarde, o Hotel Nacional teve sua noite de glamour. Moças de todos os estados fizeram jurados e convidados reviverem os tempos das paradas de beleza (…) A nova miss Brasil é Renata Ribeiro (Rio de Janeiro), que vai concorrer em Istambul, no Miss Globo Internacional(…)’.

Roldão, que via o Jornal da Band, no qual anunciava-se, para o dia 15/4, o Miss Brasil 2004, não entendeu patavina – eram dois concursos, duas misses ou dois brasis? Avisado do estranho acontecimento, Janistraquis correu à Internet e ali encontrou:

Como tradicionalmente acontece todos os anos, o Concurso Miss Brasil 2004 foi realizado na capital federal, Brasília, no dia 7 de abril (…)

Meu secretário matutou e matutou, depois telefonou pra Roldão: ‘Considerado, se o tal concurso acontece todos os anos e somente a 360 graus desconfia de sua existência, a explicação está na própria coluna; afinal, o evento ocorre ‘sem alarde’. Então, é isso: o concurso de Brasília entra com a tradição e o da Rede Bandeirantes com a indispensável bazófia…’.

Sexo oral

Giulio Sanmartini, escritor e historiador ítalo-brasileiro, vive em Belluno, na região do Vêneto; leitor compulsivo dos jornais daqui, considera o título da coluna do nosso compadre Deonísio da Silva no Jornal do Brasil, Língua Viva, uma arretada alusão ao sexo oral e ali detectou, esta semana, marcas de uma ligeira mordida na intimidade de nossa História:

‘A coluna diz, referindo-se à chegada do príncipe regente João, na Bahia, em 21 de janeiro de 1808:

A cidade de Salvador, então capital, estava iluminada e o rei comentou que aquela recepção festiva demonstrava aos ingleses, aliados e protetores dos portugueses, que os brasileiros recebiam-no calorosamente.

Claro que Salvador não era mais a capital do Brasil; o fora desde sua fundação em 1549, até a transferência para o Rio de Janeiro em 1763.’

Janistraquis pediu emprestado o caminhão de panos quentes que vive estacionado defronte à casa de José Sarney e proclamou a paz: ‘Considerado, Deonísio é professor de português; Sanmartini é que é historiador!!!’

Bandido Imortal

Nosso considerado Paulo Gustavo Sampaio Andrade estava de olho no Jornal da Band, com Carlos Nascimento, no dia 14 de abril, às 19h45, acompanhando atentamente a matéria sobre o ‘poder paralelo’ do narcotráfico no Rio de Janeiro. Eis o seu relato:

‘A repórter, muito didática, explicava quais são os líderes das três maiores organizações criminosas da cidade, o Comando Vermelho, o Terceiro Comando e os Amigos dos Amigos. A certa altura, tascou esta:

O Comando Vermelho é liderado por Marcinho VP, que, embora preso, controla o tráfico nas favelas do Rio…

Assim mesmo, no tempo presente.

Ora, Marcinho VP não é aquele mesmo que, embora com outra alcunha, é o personagem principal do excelente livro do Caco Barcellos, Abusado? E, sem querer entregar o posfácio trágico do best-seller da não-ficção, não é o mesmo que foi assassinado em julho de 2003 num presídio carioca e foi despejado numa lata de lixo pelos rivais?

Se for o mesmo, a coisa está bem pior do que se pensava. Depois de morto, o homem continua mandando no Rio de Janeiro e aprontando o diabo!’

Não é brinquedo, não, Paulo Gustavo! Janistraquis, que costuma visitar o Rio de vez em quando, ficou apavorado com a liderança do falecido marginal, porém achou o caso tão esquisito, mas tão esquisito, que o submeteu à avaliação da carioca Karla Siqueira, nossa considerada aqui do Comunique-se, pois a moça está mais habituada aos tiroteios do que nós, né verdade?

Pois tome nota da assustadora verdade: aquele Marcinho VP morreu mesmo, continua morto e se chamava Márcio Amaro de Oliveira; o da notícia da Band, também conhecido como Marcinho VP, é outro abusado, Márcio dos Santos Nepomuceno, que está tão vivo quanto o secretário Garotinho. Com o pé atrás, barba de molho e duas pulgas atrás da orelha, meu secretário suspirou: ‘Considerado, agora só precisamos saber que diabo é VP…’.

Arrouba.com

Celsinho Neto, diretor de nossa sucursal cearense, lia O Povo e concluiu que alguns jornalistas se enrolam mais do que cipó de embira-branca quando se metem com o chamado linguajar cibernético. Vejam o exemplo desta leve croniquinha que o jornal publicou:

Não envio e-mail para qualquer um(a). Sequer tenho lista de endereços. Meus e-mails de carinho, tenho todos arquivados. Sei os endereços de memória. Vez ou outra, apelo para o arquivo. Mas não abro mão de digitá-los. Gosto de escrever palavra por palavra, arrouba por arrouba.

Mais perplexo do que o presidente da Funai, Celsinho exclamou: ‘Arrouba’??? Arriégua!!! Então, se a autora da tal crônica enviar mensagem para aquele velho político, conhecido por estar sempre envolvido em denúncias de desvio de dinheiro público, certamente escreverá assim: Fulano de Tal arrouba mas faz. com.br…’

De antas e veados

Deu no jornal, sob o título Índios ocupam plenário da Câmara para protestar contra o governo:

(…) Uma comissão de índios será recebida hoje, às 9h, pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e pelo chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Eles entregarão uma pauta de reivindicações com nove itens. Além da demarcação da Raposa Serra do Sol, exigem a retirada de todos os garimpeiros da reserva dos cintas-largas em Rondônia, onde foram encontrados os corpos de garimpeiros.

No dia seguinte, aliviado, Janistraquis desabafou: ‘Considerado, ainda bem que acabou tudo em paz, porém o ministro não deve facilitar; é que os índios andam muito violentos e folgados e, numa dessas, podem atirar, digamos, uma anta sobre Sua Excelência, num intolerável desrespeito à democracia!’

É bem pensado. Acontece que bárbaros já despejaram uma galinha sobre a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e naquela ocasião o próprio Thomaz Bastos se referiu ao perigo de a turba jogar um veado sobre alguma autoridade masculina. Ora, se estamos a falar de ignomínia, galinhas, veados, antas e demais bichos se equivalem.

Retrato do velho

Deu na coluna de Ancelmo Góis, este que bate com as duas e brinca nas onze:

Retrato do velho

O BNDES abre hoje a exposição ‘Bota o retrato do velho outra vez’ (este era o refrão da marchinha que Francisco Alves gravou em 1951, pedindo a volta de Getúlio Vargas ao poder).

Um leitor que recebeu o convite notou no envelope um selo de R$ 0,74 com a efígie de… FH!

Como se sabe, tem gente querendo botar o retrato de FH outra vez, por achar que ‘o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar’.

Janistraquis achou legal, porém requesta licença para esclarecer: a marchinha Retrato do Velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, sucesso do Carnaval de 1951, não ‘pedia a volta’ de Getúlio; comemorava-a, pois o ‘velho’ tinha sido eleito no ano anterior.

Buraco aberto

Janistraquis leu na excelente coluna Caixotins, do Observatório da Imprensa, assinada por um dos pesos-pesados do jornalismo, nosso considerado Carlinhos Brickmann:

‘(…) Em 1990, o presidente Fernando Collor mandou tapar um imenso poço cavado na Serra do Cachimbo, no Pará, aberto por ordem militar em absoluto segredo. O poço foi tapado, mas o segredo nunca foi inteiramente revelado – por exemplo, de onde saíram as verbas para construí-lo? O pessoal que conhece as coisas diz que um poço como aquele é perfeito para testes subterrâneos de bombas nucleares(…).’

Ora, sempre pensei que buracos, mesmo os de tatu, fossem abertos ou furados, porém Janistraquis alertou-me: ‘Considerado, isso foi invenção do Fernando Collor; afinal, dizer que houve ‘construção’ do buraco abre caminho para o mais profundo superfaturamento…’.

Nota dez

O melhor texto da semana pertence à indignada lavra de Arnaldo Jabor, em sua coluna de O Globo:

O crime no Rio vive do nariz dos otários

(…) A verdade é que o Brasil sempre teve a ‘cultura do desrespeito’ à lei. Nossa sociedade foi montada na transgressão à ordem, no horror à coisa pública, aos direitos da maioria; somos uma sociedade de contraventores, de sonegadores, de pequenos psicopatas light , uma sociedade de malandros cariocas. Agora é tarde. Isso que está acontecendo é a realidade previsível, não é uma anomalia(…)

Errei, sim!

‘CANA BRAVA – Título da primeira página do Jornal do Brasil: Cólera chega ao Rio com soldado. Janistraquis ficou entusiasmado: ‘Considerado, a coisa tem que ser tratada assim, no pau!’, gritou. E escreveu longa carta à direção do jornal, tecendo loas à disposição do soldado que botou o cólera em cana…’ (abril de 1992)’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘Boas iniciativas’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/04/04

‘A área editorial felizmente tem sido sacudida por algumas boas iniciativas, em que pese estarmos ainda diante de um cenário de indefinições, do ponto de vista econômico, e de situações embaraçosas como as que continuam a afligir as centenas de colegas que trabalham ou trabalharam na Gazeta Mercantil (basta vermos esse recente episódio da decretação da falência do jornal, que só não foi concluída graças a uma liminar que a própria Justiça deu à empresa permitindo-lhe continuar a operar).

A primeira

Uma dessas boas iniciativas é a Abraji, entidade criada há alguns meses por dezenas de colegas que militam no chamado jornalismo investigativo e que efetivamente já deu mostras de que veio para ficar e, melhor do que isso, que está mesmo disposta a ser um instrumento de aperfeiçoamento do jornalismo investigativo e uma arma na intransigente defesa das liberdades democráticas, no País.

A Abraji vai realizar nos dias 28, 29 e 30 de abril, no Rio de Janeiro, o seminário Orçamento e Eleições Municipais, em parceria com o Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. O evento será no auditório do Ibase (Av. Rio Branco 124, 8º; fone. 21-2509.0660) e o objetivo é preparar repórteres, redatores e editores para a cobertura das eleições deste ano com ênfase no uso dos recursos do jornalismo investigativo. O programa prevê palestras sobre Orçamentos Públicos (como ler e analisar, onde localizar), Lei de Responsabilidade Fiscal, Políticas Públicas e Legislação.

Na quarta-feira (28/4), o programa contempla os tópicos Administração Municipal, Orçamento e Políticas Públicas; Orçamentos municipal, estadual e federal (conceitos e leitura); Lei de Responsabilidade Fiscal; Siafi, Siafen e outros sistemas de acompanhamento e controle público; montagem de banco de dados com informações públicas. Os convidados são os especialistas João Sucupira, coordenador de Transparência e Responsabilidade Social do Ibase, e Luiz Mário Behnken, economista e coordenador do Fórum Popular do Orçamento do Rio de Janeiro.

Na quinta-feira (29/4) serão debatidas questões envolvendo Cobertura Jornalística; Investigação dos candidatos (bens, evolução do patrimônio, pesquisas em arquivos, documentação); financiamento das campanhas (contribuição de empresas, grupos econômicos, setores da economia, lobbies, formação de bancadas); pesquisas eleitorais (como ler e interpretar pesquisas quantitativas e qualitativas); marketing eleitoral (a formação e destruição de imagem pública); bons casos de cobertura municipal; e dicas de cobertura. Vão estar presentes neste dia os colegas Marcelo Beraba, Fernando Rodrigues e Chico Otavio.

Na sexta-feira (30/4) o seminário vai se debruçar sobre Legislação eleitoral (o que os candidatos e partidos podem e não podem fazer; publicidade, horário gratuito e panfletos; direito de resposta; pesquisa eleitoral; financiamento de campanha). Vão estar presentes o juiz Antônio Jayme Boente, coordenador estadual da Propaganda Eleitoral; juiz Luiz Márcio Alves Pereira, encarregado da Propaganda Eleitoral na cidade do Rio de Janeiro; e Alessandra Aldé, doutora em Ciência Política do Iuperj, professora do programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação Social da UERJ e integrante do Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública (DOXA).

As atividades serão realizadas sempre das 9h30 às 13h, mas são apenas 30 vagas e os interessados devem mandar e-mail para angelina@oglobo.com.br .

A segunda

Outra dessas boas iniciativas está sendo protagonizada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que lança nesta 4ª.feira (21/4), às 19h, na Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes), os primeiros volumes da coleção Aplauso, coordenada pelo jornalista, escritor e crítico de arte Rubens Ewald Filho, que retrata atores, diretores (televisão, cinema e teatro), roteiros e registro das emissoras de tevê que fazem parte da nossa memória cultural.

O objetivo é resgatar essas histórias, por meio de biografias, pesquisa iconográfica ou textos documentais, contando fatos de interesse da vida pessoal ou profissional dos entrevistados. Para os leitores, um saboroso pacote de emoções e passagens interessantes dos biografados famosos. Para estudantes, verdadeiras aulas do fazer artístico.

Os livros são biografias com uma apresentação dos autores, a maioria em formato pocket. Serão vendidos em bancas, no site da Imprensa Oficial (www.imprensaoficial.com.br/livraria), livrarias e na videolocadora 2001.

A idéia partiu de Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial do Estado, que convidou Rubens para escolher os jornalistas e os entrevistados: ‘A proposta é lançar livros com informações que corriam o risco de se perderem por falta de recursos, falta de interesse ou inexistência de uma política para valorizar e trazer para o presente grandes nomes das artes’.

Entre os primeiros depoimentos estão Irene Ravache (por Tânia Carvalho), Ruth de Souza (Maria Ângela de Jesus) e Cleyde Yáconis (por Vilmar Ledesma). Para a segunda leva já estão em andamento livros sobre Paulo José, Walderez de Barros, Sérgio Viotti, Beatriz Segall, John Herbert, Paulo Goulart e Nicette Bruno, Lima Duarte, Ney Latorraca, Etty Fraser e Rubens de Falco.

No mesmo formato, a coleção voltada para os diretores de cinema terá biografias de Anselmo Duarte (por Luiz Carlos Merten), Carlos Reichenbach (por Marcelo Lyra), Ugo Giorgetti (por Rosane Pavam) e João Batista de Andrade (por Maria do Rosário Caetano) nos primeiros lançamentos. Depois virão Carlos Coimbra, Alain Fresnot, Carlos Manga, Eduardo Escorel, Reginaldo Faria, Carla Camuratti, Guillherme de Almeida Prado e Fernando Meirelles, entre outros.

A coleção terá, ainda, alguns projetos especiais, com livros de pesquisa iconográfica. O primeiro será Sérgio Cardoso – Imagens de sua arte, um roteiro com muitas fotos organizado e comentado por Nydia Licia, reunindo imagens e facetas do ator nunca antes divulgadas. Outro volume, em produção, será sobre Maria Della Costa, desenvolvido a partir de uma tese de mestrado feita na USP.

Destaca-se também o volume que conta a história da tevê Excelsior de São Paulo, o canal que mudou o jeito de se fazer tevê no Brasil. Álvaro de Moya, um dos criadores da emissora, é o protagonista que conta como foi que, em menos de uma década, a emissora foi o maior sucesso e o maior fracasso da tevê brasileira. Ele apresenta depoimentos de outros envolvidos no processo de criação do Canal 9, entre eles Carlos Manga, Lauro Cesar Muniz, Manoel Carlos, Daniel Filho, Cyro Del Nero e o criador da CNN Internacional, Sidney Pike. O próximo volume desta área – já em fase de finalização – é sobre a Tupi de São Paulo, o primeiro canal de tevê brasileiro. A autora é Vida Alves, uma das pioneiras de nossa tevê.

Na divulgação feita sobre o projeto, a colega Ivani Cardoso, do Escritório de Comunicação Lu Fernandes, mostra um pouco dos bastidores de algumas das entrevistas realizadas, o que valoriza ainda mais a iniciativa. Acompanhe:

Irene Ravache – A jornalista carioca Tania Carvalho preparou a biografia de Irene Ravache, que ela define assim na apresentação: ‘Irene é intensa, sem ser chata; emocional, mas não melosa: racional, quando necessário, mas mais fria. E, principalmente é engraçadíssima.’ Tania conta que marcou vários encontros com Irene para preparar o livro, durante a temporada carioca de ‘ Intimidade Indecente’. Há espaço para a Irene carioca (o que para muitos é uma surpresa), superfamília, que abre o coração para falar de amor, de filhos, da carreira e de suas lembranças. Jornalista desde a década de 70, Tania começou a trabalhar na revista Manchete. Nestes 30 anos de profissão passou por diversas publicações: Última Hora, Revista do Rock, Mais, Cláudia, Criativa, Desfile sempre fazendo perfis de artistas, sua maior especialidade. Durante 14 anos trabalhou na Rede Globo, na Central Globo de Comunicação. É autora, ao lado do piloto e coordenador Isio Bacaleinick e do fotógrafo Lalo de Almeida, do livro Nas Asas do Correio Aéreo. A biografia de Irene é fascinante e ela desvenda para Tania recordações fortes de sua vida, triste e alegres. Ela diz: ‘Não sei se escolhi um caminho mais difícil. Sei que é uma trilha diferente. Mas o teatro me deixa envelhecer com mais conforto que a televisão e não preciso ficar obcecada com a forma física o tempo todo’.

Ruth de Souza – A jornalista Maria Ângela de Jesus estréia na literatura nesta coleção com o livro ‘Ruth de Souza – Estrela Negra’. Gerente de Produção da HBO Brasil e responsável pela cobertura de festivais internacionais de cinema, ela explica que Ruth só não gosta de falar da vida íntima e não revela a idade por nada: ‘Isso não deixa suas histórias menos interessantes. Ao contrário. Seu talento e sua seriedade profissional são suficientes para garantir relatos comoventes, divertidos e exemplares’. Na obra, Ruth confessa que em sua carreira aconteceram vários milagres, contrariando aqueles que diziam que não havia futuro para uma menina negra que sonhava ser artista. Além da preocupação em estar sempre bem vestida e elegante, há outra herança mais importante que veio da mãe. Com ela descobriu o teatro, com os ingressos que a mãe ganhava das patroas para quem lavava roupa. ‘Lembro-me até hoje. Minha mãe me arrumava toda bonitinha, colocava meu melhor vestido e íamos ao Municipal’. São momentos de suas mais de sete décadas de vida intensa que Maria Angela ressaltou no livro, mesclando lembranças da infância com suas participações em cinema, teatro e tevê.

Anselmo Duarte – O jornalista Luiz Carlos Merten conheceu Anselmo Duarte no começo dos anos 70, quando trabalhava no Correio do Povo, em Porto Alegre, e foi visitá-lo no set de ‘Um Certo Capitão Rodrigo’. Merten é um dos mais respeitados críticos de cinema do Brasil e trabalha atualmente no jornal O Estado de S.Paulo. Agora, no livro ‘O Homem da Palma de Ouro’, Merten comenta que trabalhos como ‘O Tempo e o Vento’, ‘Quelé do Pajeú, ‘Vereda da Salvação’ e o clássico ‘O Pagador de Promessas’ , entre tantos outros, não obtiveram a repercussão que ele sempre esperou. Merten está complementando para breve a biografia de Carlos Coimbra. ‘O próprio Anselmo tem lutado, ao longe do tempo, para continuar firme na sela. São inúmeras as tentativas de derrubá-lo do cavalo da história. Sua fama sempre foi de amargurado e ressentido e ele a credita ao pavio curto’, explica Merten. Outra curiosidade sobre o ator e diretor, que começou a vida trabalhando como engraxate, é que o temperamento explosivo incentiva o falar sempre demais, sem pensar nas conseqüências, ao mesmo tempo que tem um lado divertido, de um grande contador de casos. Segundo Merten, não existe hoje, em cinema, teatro ou novela, astro cuja celebridade se compare à de Anselmo Duarte, ontem. No livro, o leitor poderá acompanhar sua carreira, a vitória com a Palma de Ouro, os fracassos, os problemas com o cinema novo e outros fatos marcantes de sua vida. ‘O que ele fez de bom lhe garante um lugar de honra na história do cinema do País’, garante o jornalista.

Cleyde Yaconis – ‘Discreta Dama’ é o livro-depoimento de Cleyde Yaconis, do jornalista gaúcho Vilmar Ledesma, que foi assistente de Rubens Ewald , jornalista de O Estado de S. Paulo e HBO Brasil. O depoimento foi escrito a partir de várias entrevistas com a atriz, que se mantém ativa aos 80 anos de idade, 53 deles dedicados ao teatro. Discreta e reservada, Cleyde se mantém distante de badalações, entre as árvores e flores de sua chácara em Jordanésia, a 40 quilômetros do centro de São Paulo. Neste livro, ela conta todos os passos da carreira e valoriza a infância cheia de dificuldades, além de falar com extremo carinho da mãe Alzira e das duas irmãs, Dirce e a atriz Cacilda Becker, dos diretores com quem trabalhou, dos colegas e de seus espetáculos, até o mais recente ‘Longa Jornada de Um Dia Noite Adentro’.

As dificuldades passadas na infância, a vida na favela, tudo foi encarado como um grande aprendizado, conforme ela conta: ‘Era fantástico, porque nada disso, a pobreza, a fome, nos massacrava. Ao contrário, cada dor era um elemento a mais para nos dar energia e luta. Foi maravilhosa a minha infância’.

Carlos Reichenbach – Carlos Reichenbach é um dos diretores mais interessantes do cinema brasileiro e nos últimos 30 anos participou dos principais movimentos do cinema paulista (Boca do Lixo, cinema marginal, pornochanchada e outros). Para o jornalista Marcelo Lyra, autor da biografia ‘O Cinema Como Razão de Viver’, Reichenbach sobreviveu aos períodos mais difíceis do cinema: ‘Procurei retratar este esforço em buscar condições de filmar, mostrando sua concepção de cinema e a gênese de sua obra, sem deixar de lado o professor e a pessoa generosa, sempre disposta a ajudar qualquer um que se interesse por cinema’. Marcelo, que é crítico e repórter especializado em cinema brasileiro (atuou nos jornais O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Valor Econômico e Revista de Cinema, entre outros), diz que espera despertar o interesse dos leitores para a obra do diretor, para que procurem seus filmes em locadoras ou em mostras e retrospectivas.

João Batista de Andrade – ‘Alguma Solidão e Muitas Histórias’ é o título do livro sobre João Batista de Andrade, escrito pela jornalista Maria do Rosário Caetano. Ela conta a trajetória do mineiro que hoje é uma das mais sólidas referências do cinema paulista e brasileiro, atuando em documentários e ficção. Batista dirigiu 11 longas-metragens e um episódio (‘O Filho da Televisão’) no longa ‘Em Cada Coração um Punhal’. Dirigiu, também, 49 curtas e médias-metragens (para cinema e tevê). Cineasta e professor de cinema na USP, tem a política como matéria-prima para seus filmes. Nesta biografia Batista conta seus tempos de juventude, sua militância comunista e seus ideais. Ele mesmo admite que sempre foi um sonhador: ‘Fui crescendo interiorizado, como um bobo encantado diante de um mundo inexplicável. Uma adolescência carregada de dúvidas, de rebeliões juvenis como o ateísmo, o espiritismo que substituía o catolicismo de minha mãe, o agnosticismo, o materialismo, tudo carregado de emoções incontroláveis. De certa forma, a universidade me possibilitou reencontrar a vida’.

Ugo Giorgetti – A jornalista Rosane Pavam é a autora do livro ‘Um Sonho Intacto’, com a biografia de Ugo Giorgetti. Para ela, o mistério da incompreensão ronda Giorgetti: ‘O cineasta se destaca aos olhos públicos por uma faceta de humor total que lhe cabe com pouca justiça. Seus filmes não se apresentam de todo hilariantes, nem de todo tristes. Antes, são grandes películas que aspiram à completude do romance, obras refletidas pela mentalidade de escritor, rara nos horizontes do Brasil, ainda mais quando aplicada a uma filmografia banhada em profissionalismo’. Embora tenha feito comerciais, Giorgetti não é um diretor publicitário. Seus filmes, um a um, formam esse romance extensivo sobre São Paulo, sem se referir unicamente à cidade. Na apresentação da obra, Rosane ressalta: ‘Ugo Giorgetti é um artista que transformou a paisagem paulistana em paisagem íntima.

O Caçador de Diamantes – Máximo Barro apresenta a obra ‘O Caçador de Diamantes’, o primeiro roteiro editado em livro na Coleção Aplauso. Historicamente ele é o segundo roteiro completo escrito para ser filmado no Brasil. O primeiro, ‘Ouro Branco’, editado em Manaus, não era realmente um roteiro, mas um relato jornalístico sobre a extração do látex, cultivo e colheita da castanha. Segundo o autor, O Caçador surgiu em uma época ingrata do país, anos conturbados do impacto da crise econômica americana (1929) e revolução getulista. Capellaro nasceu em Mobrano, Turim, em 1877, convivendo na infância e juventude com o sentimento nacionalista daquilo que passou para a história italiana com o nome de Rissorgimento. Visitou duas vezes o Brasil antes de transferir-se para cá, em 1915, para distanciar-se da Guerra.

A terceira

Uma terceira boa iniciativa está em gestação no Grupo Segmento, sob o comando do vice-presidente Roberto Müller Filho. É o lançamento da Razão Contábil, publicação voltada para os mercados de contabilidade, auditoria, área tributária e afins, que são atualmente integrados por cerca de 350 mil profissionais e 82 mil escritórios, espalhados por todo o País. A publicação será lançada no dia 7, na Fiesp, na solenidade de posse do empresário Antoninho Marmo Trevisan como presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis. A revista terá periodicidade mensal e tiragem de 50 mil exemplares. Será vendida em bancas, além de circular por assinatura paga. Terá ainda um site de apoio, o www.revistarazao.com.br, atualmente em construção. O editor será Bob Jungmann, com reportagem de Jussara Goyano e direção de arte de Débora de Bem. A diretora do Grupo é Míriam Cordeiro (ex-Burson Marsteller, Gazeta Mercantil e Panorama Brasil).’