Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Depois da China, mídia se volta para a Índia

Após anos de atenções concentradas nas possibilidades da economia chinesa, empresas de mídia americanas estão voltando os olhos para a Índia. Executivos ainda acreditam no potencial do mercado chinês e na receptividade do público local à cultura Ocidental, mas muitas companhias têm desistido de investir no país por conta de um senso de frustração com a censura, a pirataria, as severas restrições a investimentos estrangeiros e à lentidão burocrática.

Recentemente, a America Online fechou suas operações – pela segunda vez – na China. Há três anos, o estúdio de cinema Warner Brothers tinha planos de abrir mais de 200 lojas com um parceiro local. Hoje, não há mais projetos deste tipo. ‘Ninguém tem uma presença significativa lá, e ninguém parece saber como conseguir isso’, resume Michael Del Nin, vice-presidente sênior para estratégia corporativa da Time Warner. ‘Em termos de prioridades, o foco está em outro lugar agora’.

Muito desta mudança de foco se deu por causa do pouco acesso dos produtos estrangeiros ao público chinês. O Partido Comunista limita o número de filmes produzidos em outros países a no máximo 20 longas. Canais de notícias como a CNN International estão disponíveis apenas em grandes redes de hotéis, que recebem hóspedes estrangeiros, e em embaixadas. A Viacom tem uma MTV chinesa, mas que atinge apenas 14 milhões de lares na província de Guangdong.

Além disso, para conseguir funcionar em território chinês, algumas companhias, como Yahoo e Google, tiveram que passar a cooperar com os censores do governo, o que gerou pesadas críticas no Ocidente. Para se ter uma idéia do temor, quando um comentarista da CNN insultou a China, no ano passado, ao chamar os produtos locais de ‘lixo’ e seus líderes de ‘estúpidos’, a Time Warner foi rápida em pedir desculpas oficialmente.

Mais fácil

A Índia passou a atrair os executivos de mídia pelo rápido crescimento de sua economia e pelos impedimentos menores do governo com relação a companhias estrangeiras. Em março, a Motion Picture Association of America, órgão responsável pela classificação do cinema americano, abriu pela primeira vez um escritório no país, em Mumbai.

Com menos restrições, emissoras americanas podem atrair audiências maiores. A Time Warner lançou um canal em inglês e outro em hindi. ‘Nós estamos certamente focando na Índia’, diz Louise Sams, vice-presidente executiva da Turner Broadcasting, unidade da Time Warner. ‘Houve um grande crescimento no número de emissoras no país nos últimos anos’. A Viacom também fez um grande investimento no mercado indiano com o Colors, que se tornou, nas últimas semanas, o mais popular canal de entretenimento da Índia. Seu principal programa, Balika Vadhu, é um drama sobre uma menina que se casa aos oito anos de idade. O MTV India atinge 30 milhões de lares.

Mas executivos estrangeiros ainda têm uma ponta de esperança no mercado chinês. Quando o longa Quem quer ser um milionário?, filmado na Índia, ganhou o Oscar de melhor filme este ano, gerou certo movimento na comunidade cinematográfica chinesa e ampliou a possibilidade de que a China, impulsionada por rivalidade regional e inveja, torne-se mais aberta às empresas americanas. Informações de Tim Arango [New York Times, 4/5/09].