Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Disputa de jornais esquenta ilha americana

O presidente Barack Obama não imaginava que sua primeira escapada de férias com a família, para a ilha de Martha’s Vineyard, no litoral de Massachusetts, pudesse causar tanto alvoroço. Os dois principais jornais da ilha, que já vivem em pé de guerra, resolveram partir para o ataque direto com a chegada da primeira-família. O Vineyard Gazette preparou uma edição especial de 16 páginas de ‘boas-vindas’ ao líder, com o título ‘Da nossa ilha para nosso presidente’. ‘Há uma promessa, senhor presidente, de que o senhor terá tempo com sua família na área rural de Chilmark, que ainda conta seus votos em uma caixa de madeira feita à mão. Um local que votou em peso no senhor’, escreveu, em carta aberta a Obama, a editora Julia Well.

O tablóide Vineyard Times, por sua vez, não foi tão receptivo. O chefe de redação, Nelson Sigelman, publicou uma provocação direta a Julia, alegando que ‘a imprensa adotou um tom de uma ilha habitada por felizes proletários’ e que a editora estava agindo como se a cidade fosse o centro do universo. Como o Times concentra suas notícias em temas locais, não deu tanta atenção à visita presidencial como o Gazette, explicou Sigelman.

Conflito

Na realidade, os dois pontos de vista refletem um conflito que já existe há um bom tempo na ilha, que serve de refúgio de veraneio para famílias ricas e onde os visitantes sazonais têm renda pelo menos duas vezes maior que a de seus habitantes permanentes, que fazem seu sustento do movimento gerado pelo turismo. Os jornais costumam tomar posições contrárias em relação aos mais variados temas. Os moradores, por sua vez, colocam lenha na fogueira, escrevendo para um jornal para reclamar da cobertura do outro. ‘Nunca vi nada igual. Cresci em Boston’, diz Tim Walsh, executivo-chefe de um hospital da ilha, que publica anúncios em ambos os diários. ‘Se sair uma boa matéria sobre o hospital no Times, já sei que o Gazette vai vir contra mim’.

O Gazette nasceu há mais de um século. Seu proprietário, Richard Reston, afirma vender de 12 mil a 14 mil cópias diárias no verão e 10 mil no inverno e ressalta que o diário preocupa-se em manter a qualidade de vida da cidade. Já o Times foi aberto trinta anos atrás por um grupo de empresários da ilha, com o objetivo de dar destaque às notícias locais. Suas 18 mil cópias distribuídas gratuitamente por semana vão, em sua maioria, para as caixas de correio dos moradores. Desde que a ‘guerra’ entre os dois começou, notícias que ganham destaque em um não são publicadas no outro, o que faz com que as coberturas pareçam tratar de duas ilhas diferentes. Informações de Elizabeth Williamson [Wall Street Journal, 29/8/09].