Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quando todo mundo é especialista

A natureza da expertise é algo incerto. É fascinante observar como e por que as pessoas passam a ser vistas como comentaristas legítimos de determinados temas, quando, por vezes, demonstram ter pouca e rasa compreensão destes mesmos assuntos.

É claro, a tendência é sempre presente em democracias midiáticas onde ter uma opinião é por vezes confundido com estar bem informado. Mas a tendência certamente está em alta nos últimos tempos. Jornais que tentavam checar todos os fatos ao estilo New York Times estão desaparecendo à medida que a Internet assume uma nova hegemonia midiática. Os jornais que sobrevivem parecem se tornar, cada vez mais, depósitos de comentários e notícias.

Os padrões de busca na internet tendem a ser bastante limitados e a confirmar opiniões, mais do que confrontá-las. Todo tipo de celebridade parece ter recebido carta branca para se manifestar sobre o que bem entender, normalmente em tempo real através do Twitter (no Reino Unido, humoristas de stand-up – uma praga moderna se houvesse uma – parecem estar monopolizando o mercado). E por aí vai.

Mais confiança

As universidades dificilmente ficam imunes a esta tendência. Aqueles acadêmicos que alcançam um pouco de fama costumam ficar tentados a se mover para fora de sua área de conhecimento: com que frequência não ouvimos vencedores do Prêmio Nobel repentinamente vestindo o manto da sabedoria de muitas outras coisas além da área pela qual ganharam o prêmio, às vezes com resultados bastante embaraçosos?

Assim, alguns acadêmicos começam a se envolver com a imprensa de forma que suas opiniões passam a ser requisitadas em uma vasta gama de assuntos, alguns deles fora de suas áreas, para ser educado. Finalmente, muitos acadêmicos, em sua busca por impacto na mídia, parecem seguir ativamente casos peculiares, como pode ser visto em algumas áreas da psicologia e da economia.

Parte do motivo para este estado das coisas é claramente a competição. Não ocorre apenas que as universidades foram desafiadas como fontes de conhecimento por algumas das tendências que eu já esbocei, mas também que outras fontes de conhecimento cresceram: como as organizações como consultorias e ONGs, que distribuem conhecimento de forma diferente das universidades mas ainda assim fazem, da mesma maneira, alegações de verdades.

Como o público não é fragmentado em públicos diversos, todos podendo acreditar exatamente naquilo que querem e capazes de encontrar múltiplas maneiras de confirmar suas verdades, então algum tipo de recuo é preciso. E é estimulante ver os sinais começando. Não apenas existe hoje todo tipo de site de verificação de informações, voltados a fornecer dados com a maior precisão possível diante das sombrias alegações feitas por políticos e afins, como as universidades também estão se envolvendo. Por exemplo, o projeto universitário australiano The Conversation tem como objetivo fornecer informações confiáveis baseadas em pesquisas acadêmicas, mas editadas por jornalistas profissionais. Universidades individuais também estão se tornando ativas (veja, por exemplo, o Knowledge Centre da Universidade Warwick).

Em outras palavras, um contra-ataque começou e já não era sem tempo. Nós podemos apenas esperar que este contra-ataque não dê às universidades apenas mais confiança em seu próprio valor em um momento em que enfrentam pressão, mas também alimente novas práticas de uma democracia bem informada.

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[Nigel Thrift é professor e vice-reitor da Universidade de Warwick]