Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Atletas se assustam com críticas e ofensas na internet

A relação ia bem enquanto celebridades do esporte usavam o Twitter para compartilhar atualizações amigáveis e informações de seu cotidiano com fãs de todo o mundo. Mas azedou já nos primeiros dias dos Jogos Olímpicos em Londres. Os atletas não esperavam se tornar alvos de mensagens ofensivas, e vários deles deixaram a rede social ao não conseguir lidar com tanta interatividade.

Uma das vítimas de cyberbullying foi o saltador britânico Tom Daley, que ficou em quarto lugar no nado sincronizado nos Jogos. Um internauta escreveu: “Você decepcionou seu pai, espero que você saiba disso”. O pai de Daley morreu de câncer no ano passado e o atleta respondeu: “Depois de dar o meu melhor, um idiota me manda isto”. A halterofilista britânica Zoe Smith, de 18 anos, vingou-se das críticas sofridas no Twitter ao quebrar o recorde de 121 kg levantados. Ela chegou a rebater críticos que haviam escrito que todas as halterofilistas são “provavelmente lésbicas e se parecem com homens”. “Amo usar o Twitter. Sou conhecida por ser uma atleta que senta e tuíta. Mas algumas pessoas abusam. Talvez por estarmos competindo, elas pensam que somos figuras públicas e que podem ficar anônimas e dizer o que querem”, disse.

A nadadora Rebecca Adlington, que ganhou a medalha de bronze na modalidade 400m estilo livre, também foi insultada no Twitter – e não apenas pelo comediante Frankie Boyle, que a chamou de “cara de golfinho”. Uma série de jogadores de futebol, como Micah Richards, do Manchester City, e Darron Gibson, do Manchester United, abandonou a rede depois de terem sido ofendidos.

O ginasta britânico Louis Smith, que ganhou a medalha de bronze, disse que evita olhar o Twitter antes de competir. “Há sempre algumas [mensagens] que você não quer ver”, afirmou. “Você pode receber 100 boas, mas há uma que incomoda. E por isso eu decidi parar de tuitar”. A judoca brasileira Rafaela Silva, desclassificada dos Jogos por realizar um golpe ilegal, foi criticada por usuários da rede social e reagiu com palavrões. A Confederação Brasileira de Judô considerou que seria sensato bloquear sua conta. Posteriormente, ela pediu desculpas pela atitude. Mas o caso de Rafaela foi ainda mais grave, já que, diante da fúria da atleta, internautas partiram para ofensas racistas. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, avisou que ordenaria uma investigação, mas o Comitê Olímpico Brasileiro – que disse lamentar o episódio – acabou desistindo de entrar na Justiça.

Crescimento exponencial

O número de usuários do Twitter cresceu exponencialmente desde as Olimpíadas de Pequim, em 2008: de 2 milhões de membros registrados para mais de 140 milhões nos dias de hoje. O Twitter afirma que não monitora ativamente sua rede – são enviados cerca de 400 milhões de tuítes por dia. Legalmente, isto o absolve da responsabilidade de material difamatório.

A rede tornou-se parte indispensável das Olimpíadas, na medida em que fãs e atletas usam a ferramenta para compartilhar informações. Mas o vício nos 140 caracteres pode causar problemas. A nadadora australiana Emily Seebohm, por exemplo, confessou que o uso exagerado da rede social pode ter atrapalhado sua vitória na modalidade costas 100m. Ela havia quebrado o recorde na eliminatória e ficou muito autoconfiante com as mensagens positivas que recebeu. Além disso, ficou muito empolgada vendo os tuítes e não descansou o suficiente. Para o bem ou para o mal, o Twitter já bateu sua marca nos Jogos Olímpicos de 2012. Informações de Josh Halliday [The Guardian, 31/7/12].