Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lições dos primeiros Jogos na era das redes sociais

Os Jogos Olímpicos espelham, de certo modo, o que acontece com a informação em um mundo vivo e conectado. Um pequeno número de eventos atrai uma quantidade enorme de atenção, mas esta atenção é dividida por diferentes tipos de consumo. E talvez não haja evento mais adequado para a internet: uma enormidade de estatísticas espalhadas por dezenas de modalidades esportivas diante de um público disposto a debater em tempo real estas informações. Assim, a previsibilidade dos Jogos – e, ao mesmo tempo, suas surpresas – faz com que eles sejam o evento ideal para se investir toneladas de dinheiro, recrutar milhares de jornalistas e anunciar inovações como se não houvesse amanhã; ou, pelo menos, como se não existissem outras notícias a serem cobertas, afirma Emily Bell em artigo no jornal britânico Guardian [5/8/12].

E diante de tanto estímulo, as grandes redes de televisão que detêm os direitos de transmissão das Olimpíadas de Londres investiram pesado na cobertura – e apostaram alto na interatividade na internet. O público, por sua vez, responde bem quando tudo vai bem; mas não perdoa quando algo dá errado. A rede americana NBC, que pagou 1,2 bilhão de dólares pelos direitos nos EUA e enviou equipe de 2.800 pessoas ao Reino Unido, tornou-se alvo de críticas pesadas na primeira semana dos Jogos. Um detalhe: agora, com as redes sociais, as críticas chegam muito mais rápido e em maior número.

A NBC errou ao impedir que sua audiência tivesse acesso a competições ao vivo – quis guardar os melhores momentos para o horário nobre. As queixas foram grandes. Hoje, uma emissora basear sua programação na premissa de que a internet não existe é burrice, diz Emily Bell. Àqueles que perguntavam quem era o responsável pela decisão da NBC de não transmitir ao vivo a cerimônia de abertura e competições importantes, o jornalista Guy Adams, correspondente do britânico Independent em Los Angeles, informou, via Twitter, o email corporativo de Gary Zenkel, que chefia a cobertura dos Jogos na rede americana. Resultado: Adams teve sua conta no microblog suspensa. O Twitter justificou a ação afirmando que o jornalista havia violado uma regra do site ao divulgar informações privadas e confidenciais de outros.

A força da web

O site oficial do evento disponibilizou imagens ao vivo das competições, e perfis no Twitter (como o da câmera dentro da piscina que fotografava os atletas da natação) ganharam milhares de seguidores. A rede britânica BBC teve crescimento de 100% no tráfego de sua cobertura de esportes – em todos os seus serviços. O guia interativo da rede foi usado por 20 milhões de pessoas nos primeiros dias do evento.

Assim, a tendência é que Londres 2012 não seja só a primeira “Olimpíada das mídias sociais”; deve ser também a última em que a cobertura é ditada mais pelos horários da televisão do que pela demanda real do espectador.

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