Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os riscos enfrentados pelas mulheres que cobrem conflitos

“É tentador pensar que as mulheres podem fazer tudo o que os homens fazem. E então você ouve sobre Lara Logan, que sofreu um ataque sexual no Egito durante um protesto, depois que [o líder Hosni] Mubarak foi deposto e enquanto ela estava com sua equipe de TV.” A frase é da jornalista Anne Sebba, ex-correspondente internacional da Reuters em Roma e autora de Battling for News, livro sobre jornalistas mulheres em zonas de guerra, escrito em 1994 e cuja edição atualizada, com uma conclusão mais pessimista, será publicada no Reino Unido em abril. A conclusão de Anne é que, hoje, é cada vez mais difícil para as mulheres atuar como repórteres de guerra. A repórter sul-africana Lara Logan, que foi atacada no meio da famosa Praça Tahrir, no Cairo, em 2011, quando reportava para a rede americana CBS, agora mantém um diário para, caso lhe aconteça algo, seus dois filhos saibam por que ela é jornalista.

Anne observa que, de muitas maneiras, é mais fácil que as mulheres atuem no campo de batalha hoje do que nos dias da jornalista e escritora Martha Gellhorn, considerada uma das maiores correspondentes de guerra do século 20, que tinha que se vestir como enfermeira para divulgar informações sobre o Dia D. Ainda que reconheça muitas mudanças positivas ao longo das décadas, novidades na tecnologia e nas táticas de combate ampliaram os perigos físicos enfrentados pelas mulheres.

Alvos

Quando a primeira edição do livro foi publicada, parecia que as mulheres haviam quebrado todas as barreiras, mas, passados 20 anos, Anne nota que elas se tornaram alvos, como aconteceu com Lara. “Não há tempo para desenvolver uma ideia; você deve atualizar constantemente as matérias sem ter tempo para trabalhar no que a verdadeira matéria é. Isso coloca mulheres e homens sob pressão. Mas as mulheres tornam-se alvos maiores, porque muitos desses conflitos ocorrem em países de maioria muçulmana, que consideram o modo de vestir das mulheres ocidentais provocativo e, muitas vezes, sentem que o Ocidente deve aprender uma lição”.

Além disso, na opinião da autora, editores homens – em especial, os de TV – exploram as mulheres, porque elas vestidas com colete de guerra é “quase entretenimento”. Ainda assim, ela acredita que não existe mais a cultura machista nas redações.