Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Premiação reconhece impacto de reportagens na China

Mesmo com o forte assédio do governo, repórteres ambientais e jornalistas-cidadãos da China continuam a documentar a indignação pública sobre poluição, e a influência da mídia social está começando a se tornar cada vez mais significativa. Wu Zhu, voluntário ambiental da província de Zhejiang, recebeu o prêmio Jornalismo Ambiental da China 2013 de melhor jornalista-cidadão depois de ajudar a criar e promover uma campanha que pedia que funcionários do governo nadassem nas águas poluídas dos rios locais. O prêmio, concedido pela primeira vez em 2010, foi organizado em conjunto pelo site ChinaDialogue,o jornal britânico Guardian e pelo Sina, portal líder do país. Os vencedores cobriram os maiores desafios ambientais enfrentados pela China atualmente: poluição da água potável, terra e ar, além de fauna em extinção.

A campanha de Zhu rapidamente tornou-se um assunto de destaque nacional e um empresário ofereceu mais de 60 mil reais para o chefe de proteção ambiental da cidade dar um mergulho de 20 minutos no rio. Ele negou a proposta. O ativista também ajudou a chamar atenção pública quando Liu Futang, vencedor do prêmio em 2012, foi condenado por “atividades empresariais ilegais” depois de ter escrito sobre um protesto contra uma usina elétrica de carvão que estava sendo construída na ilha de Hainan, no sul da China. Os juízes disseram que sua campanha energética ajudou a evitar que Liu fosse para a prisão; ele foi multado e recebeu uma sentença de suspensão de três anos.

O segundo lugar na categoria jornalismo-cidadão foi para Pan Qi, repórter de entretenimento que ganhou fama nacional depois de investigar funcionários do governo sobre um programa controverso de plantio de árvores em sua cidade natal, Qingdao, e Chen Yuqian, fazendeiro de uma pequena cidade perto de Hangzhou, que sofre de poluição de empresas de papel e galvanoplastia. A fiha de Chen criou uma conta no weibo (plataforma chinesa semelhante ao Twitter) em seu nome, falando sobre sua vida e trabalho. Mesmo com assédio do governo, os dois continuam com suas reportagens.

O vencedor da melhor investigação do ano foi Gao Shengke, jornalista da revista Caijing, por sua reportagem sobre grandes áreas de terra contaminada nas cidades chinesas que estão se transformando em distritos residenciais.

O prêmio de jornalista do ano foi para Gong Jing, do New Century Weekly, por uma denúncia sobre a água poluída que estava sendo distribuída para consumo. Ele é um dos melhores jornalistas ambientais da China atualmente e ganhou, no ano passado, o prêmio por uma reportagem sobre arroz contaminado. Neste ano, ele descobriu que uma pesquisa não publicada sobre a qualidade da água encanada em mais de quatro mil cidades na China revelou que quase metade dos municípios estava fora do padrão. Um mês depois de o artigo de Gong ser publicado, o Ministério da Habitação foi forçado a divulgar mais informações e funcionários anunciaram que estavam investindo em torno de 100 bilhões de reais para melhorar a qualidade da água em áreas urbanas até 2016.

O prêmio para melhor investigação aprofundada foi para três jornalistas que escreveram um artigo sobre animais em extinção, incluindo pangolim, salamandra gigante, cobras selvagens e corujas. Eles descreveram como os hábitos de alimentação desses animais eram prejudicados por leis frouxas e a crença em benefícios medicinais.

Um relatório separado de caça ilegal de pássaros migratórios ganhou o prêmio de matéria com maior impacto. O fotojornalista Li Feng e a repórter Wen Ju, do Changsha Evening, disfarçaram-se de compradores e vendedores de pássaros para revelar o massacre chocante de pássaros migratórios. A proteção desses animais rapidamente tornou-se um tema debatido na mídia chinesa e levou a uma campanha nacional. As províncias de Xinhua, Xinshao e Longhui assinaram um acordo para proteger os pássaros e foram lançadas medidas de segurança em diversas cidades. A administração florestal enviou um time de trabalho emergencial a Hunan para investigar a caça.

Mesmo com o sucesso da campanha, Gao disse que as mudanças sobre a reportagem ambiental eram ainda limitadas. “Jornalistas investigativos são como uma criança que conta ao público que o rei está nu, mas essas palavras dependem de como o governo liga para a sua imagem”, afirmou.

Diante da indignação pública e dos protestos contra a poluição, a nova geração de líderes do país, chefiada pelo presidente Xi Jinping, prometeu “construir uma civilização ecológica”, termo primeiramente lançado em 2007 e amplamente visto como uma tentativa de redefinir o modelo de crescimento que a China deveria seguir.