Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Emissora condenada por todos os lados

Um dia antes de ser ferido por tiros no Iraque, o jornalista Jawad Kadhem, repórter da emissora al-Arabiya, confidenciou a amigos que se sentia um homem caçado e estava preocupado com sua segurança. Esta não é uma sensação isolada: atinge a grande maioria dos jornalistas que trabalha no país.

Segundo informações do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York, 27 dos 47 jornalistas mortos enquanto cobriam a guerra eram iraquianos. A al-Arabiya, segundo canal mais assistido no Oriente Médio, atrás apenas da al-Jazira, foi a organização de notícias mais atingida no país, embora seja menosprezada por militares americanos e oficiais do governo iraquiano.

Desde a invasão americana, em 2003, oito funcionários da emissora morreram no Iraque – três por soldados americanos e cinco por prováveis militantes na explosão de um carro-bomba, em outubro do ano passado. Um grupo sunita assumiu a autoria do atentado contra Kadhem, que atualmente se recupera na Jordânia, afastado dos atiradores que o acusaram de ser solidário aos interesses americanos.

Saco de pancadas

No começo da guerra, o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, classificou a emissora como ‘violentamente anti-coalisão’; certa vez, o governo iraquiano proibiu o canal de cobrir as atividades oficiais por duas semanas. Ironicamente, nos últimos meses, rebeldes vêm qualificando a emissora como porta-voz dos americanos e do governo iraquiano. Representantes do canal, porém, afirmam não ter planos de cessar o trabalho no Iraque.

A al-Arabiya foi inaugurada logo após o início da guerra com o objetivo de transmitir vídeos fornecidos pela resistência. Hoje, os repórteres do canal tomam algumas precauções em suas matérias: a palavra ‘ocupante’, em referência às forças americanas, foi substituída pela expressão ‘força multinacional’; e a palavra ‘rebelde’, usada pela mídia ocidental, trocada por ‘lutadores’ ou ‘atiradores’. O diretor da emissora, El-Hage, diz que ela tem feito um grande esforço para se tornar imparcial e alega que não é contra nem a favor de ninguém, apenas transmite as notícias. Informações de Aamer Madhani [Chicago Tribune, 27/6/05].