Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Emissoras adotam cautela para anunciar vencedor

Se a esperança venceu o preconceito nas urnas americanas, a prudência venceu a euforia nas emissoras de TV dos EUA. Com os nomes dos democratas Al Gore e John Kerry ainda frescos na memória, elas preferiram adotar a cautela como lema da histórica noite de terça-feira (4/11), quando Barack Obama se tornou o primeiro presidente negro do país. As eleições de 2000 e 2004, ambas vencidas pelo republicano George W. Bush, tiveram algo de traumático para os canais de notícias, que chegaram a sugerir a vitória dos democratas Gore e Kerry. Desta vez, todas as indicações de que Obama ganharia a disputa não conseguiram atrapalhar a cobertura contida.


Os sítios de internet foram mais ousados, anunciando o democrata como o novo presidente dos EUA uma hora e meia antes que a TV o fizesse. ‘Obama ganha a presidência’, estampou a revista online Slate. ‘As emissoras não dirão a você, mas The Page dirá: Barack Obama será o 44º presidente dos EUA’, seguiu o The Page, sítio político da Time. Ainda assim, a ousadia teve uma pitada de prudência: ao anunciar que publicaria os números das pesquisas de boca de urna ‘não falados na TV’, a Slate lembrou que eles não deviam ser confundidos com números reais de votação.


Tom de alerta


Uma hora antes, o âncora Charles Gibson, da ABC News, anunciava a vitória de Obama na Pensilvânia, mas lembrava aos telespectadores que a emissora não anunciaria um vencedor das eleições até que um dos candidatos obtivesse 270 votos no colégio eleitoral, mínimo necessário para se eleger um presidente.


Ao mesmo tempo, a âncora Katie Couric, da CBS, noticiava a falta de novidades. ‘Ainda não há resultado em muitos dos estados decisivos’, afirmou. Algum tempo depois, quando a CBS e outras emissoras indicavam vitória democrata em Ohio, Katie completou: ‘esta é uma perda devastadora para John McCain’. Ohio é tido como um estado obrigatório para a vitória republicana. Ao lado de Katie, o jornalista Bob Schieffer não se agüentou. ‘Não vejo como John McCain possa ganhar agora’, disse. ‘Eu acho que Barack Obama será o presidente dos EUA. Só isso que posso dizer’. A emissora só viria a anunciar oficialmente a vitória de Obama quase duas horas depois.


Na conservadora Fox News, bastou a correspondente Megyn Kelly falar das pesquisas de boca de urna favoráveis a Obama, no início da noite, para o âncora Brit Hume ativar o tom de alerta. ‘Nós todos passamos por 2004. E, a esta mesma hora, pensávamos ter [eleito] o ‘presidente Kerry’. Sabemos como terminou’, afirmou. Há quatro anos, pesquisas de boca de urna apontavam, já no fim da tarde, o democrata John Kerry como vencedor da disputa. Os números não chegaram a ser anunciados pelas grandes emissoras, mas elas acabaram planejando o tom da cobertura com base neles. Em 2000, a situação foi ainda pior: com base nas pesquisas de boca de urna, as emissoras indicaram vitória do democrata Al Gore na Flórida pouco antes das oito horas da noite, para poucas horas depois voltar atrás na informação.


Na CNN, ao anunciar os estados de Vermont e Kentucky para Obama e McCain, respectivamente, o âncora Wolf Blitzer afirmou que a emissora não faria, naquele momento, previsões para Virgínia, Carolina do Sul, Georgia e Indiana, onde a apuração ainda estava muito no início. ‘Não vamos nos basear simplesmente na boca de urna que chegou aqui. Estes números são bons, mas não são sempre perfeitos. Então, iremos esperar’, disse o jornalista.


Crianças na Casa Branca


Já passava das 23 horas quando o anúncio da vitória de Obama foi feito, depois da contagem da Califórnia e de outros estados da Costa Oeste. ‘Haverá crianças na Casa Branca pela primeira vez desde a geração Kennedy’, afirmou então o âncora Brian Williams, na NBC. ‘Um afro-americano rompeu uma barreira tão antiga quanto a própria República’, completou, para depois mostrar a festa dos partidários do democrata. Informações de Jacques Steinberg [The New York Times, 5/11/08].