Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Família de documentarista é indenizada por Israel

O governo de Israel pagou mais de US$ 2 milhões em danos à família de James Miller, jornalista e documentarista britânico morto por um soldado israelense quando filmava um documentário para a HBO, em Gaza, em 2003. A indenização é considerada a maior já paga pelo Exército de Israel a um cidadão estrangeiro.


Declaração assinada pela família Miller confirma que os pais de James aceitaram ‘um acordo com o governo de Israel em relação à morte de seu filho. Após cinco anos e meio, eles consideram que é o mais perto que podem chegar de uma admissão de culpa da parte dos israelenses’. Em abril do ano passado, o governo chegou a oferecer mais de US$ 2,5 milhões, mas a família recusou a oferta por achar que seria um artifício para que o caso não fosse levado ao tribunal.


As forças de segurança de Israel alegam que os soldados atiraram em defesa própria, depois de serem atacados enquanto procuravam por túneis em Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito. O Exército chegou a afirmar que Miller poderia ter sido morto por um palestino armado, mas testes de balística revelaram que ele foi atingido por um projétil de uma arma de Israel, a menos de 200 metros. Registros em áudio revelam que, na ocasião, não houve tiros vindos da Palestina e que todos os disparos vieram de um blindado israelense. Relatórios independentes mostram que havia uma ‘relativa calma’ na área.


Último adeus


Em um vídeo do incidente, Miller é visto deixando a casa de uma família palestina em um campo de refugiados de Rafah, durante a noite, balançando uma bandeira branca. É possível ouvir um tiro e gritos de seus colegas. ‘Somos jornalistas britânicos’, dizem eles. Um segundo tiro, que atingiu o jornalista no pescoço, é ouvido.


Israel encerrou a investigação sobre o caso em março de 2005, concluindo que não havia evidência suficiente para emitir acusações criminais. Uma perícia havia comprovado que o tenente encarregado da unidade das forças de defesa de Israel teria ‘disparado sua arma violando as regras de combate’. No entanto, a investigação do Exército afirmou que era impossível relacionar o tiro do tenente com a morte de Miller. Segundo autoridades militares, o tenente passaria por treinamento disciplinar por quebrar as regras e também por mudar o relato do incidente, mas acabou sendo exonerado posteriormente.


O documentário Death in Gaza (Morte em Gaza), dirigido e produzido por Miller, recebeu três prêmios Emmy e um Bafta em 2005. A morte dele é mostrada no filme, cuja idéia inicial era acompanhar a rotina de três crianças que convivem com o conflito palestino-israelense. Com informações de Toni O’Loughlin e Julian Borger [The Guardian, 2/2/09].