Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO
Laura Mattos e Rodrigo Russo

Levaram o público

‘Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!, que se digladiam por ibope, enfrentam um inimigo comum que explodiu em audiência de 2005 para cá.

Dados do Ibope obtidos pela Folha revelam que o número de domicílios no país com televisores sintonizados em DVDs, videogames e outros aparelhos cresceu 125% no período. A explosão se refere à faixa noturna (das 18h à 0h), a mais importante para os anunciantes.

Em 2005, a audiência dos DVDs, games etc. foi de 1,6 ponto. Em 2009, saltou para 3,6, o equivalente a 1,92 milhão de domicílios. É mais do que obtiveram Band (3,4) e Rede TV! (2,1) e mais da metade do SBT (6,3), a terceira maior em 2009.

De 2001 a 2009, o número de telespectadores de canais fechados e emissoras menores (como públicas, MTV e Record News) também cresceu e passou de 4,9 para 5,6 pontos.

Nesse período, as cinco grandes redes juntas perderam 4,3 pontos de audiência. É importante ressaltar que o número de televisores ligados no país sofreu pouca alteração -de 58,8 pontos em 2001 para 57,7 em 2009. A oscilação entre cada ano mostra que os brasileiros não estão desligando os televisores no horário nobre -em 2005 e 2006 houve até aumento do número de ligados. Estão, sim, mudando a forma de uso.

Questionado sobre o levantamento realizado pela Folha, Antonio Ricardo Ferreira, diretor executivo do Ibope, comentou que as mudanças são ‘características de uma sociedade que busca novidades’.

A economia do país (especialmente o crescimento da classe C e seu aumento de renda) está diretamente relacionada ao novo cenário. ‘Hoje mais brasileiros têm acesso a bens de consumo que, até pouco tempo atrás, eram acessíveis só às classes mais altas’, analisa o publicitário Adrian Ferguson, vice-presidente de mídia da agência Fischer+Fala!.

O hábito de se sentar no sofá e trocar de canais à mercê da programação das emissoras caminha para a extinção, na opinião de Alexandre Annenberg, presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura.

‘O telespectador deixa de ser passivo. Na TV aberta, apesar da TV digital, não houve aumento da interação com o público. A nova geração nasceu com o mouse na mão e quer escolher o quê e quando ver.’

É o paraíso para o mercado de DVDs, legal e pirata. ‘O público prefere o conforto de ver filmes quando e quantas vezes quiser’, diz Tânia Lima, diretora-executiva da União Brasileira de Vídeo, segundo a qual foram vendidas 25,4 milhões de unidades de DVD e Blu-ray em 2009, contra 5,9 milhões de DVDs e VHSs em 2001.

Renata Gomes, professora e pesquisadora de novas mídias do Senac, cujo doutorado na PUC-SP é sobre videogames, diz que o levantamento da Folha confirma sua percepção. ‘Os games são a matriz principal do que essa geração entende como imagem e narrativa.’

Ela ressalta, contudo, que por mais que ‘a hegemonia da TV aberta esteja em xeque’, seu alcance ainda impressiona. ‘Pelas mensagens que recebi na internet e no celular na última terça, parecia ser a única no país que não estava vendo a votação do ‘Big Brother’, ilustra.

Na mesma linha, Eugênio Bucci, professor de jornalismo da USP, destaca que os jovens, apesar de utilizarem cada vez mais o computador, consomem na internet principalmente o conteúdo produzido pelas redes de TV. ‘Essa resistência dos canais abertos no Brasil é o dado mais chamativo’, avalia.

O que as redes dizem

Sobre o levantamento da Folha, a Globo afirmou que ‘não se pode dizer que os telespectadores estão deixando a emissora para migrar para outros aparelhos ou TV paga e canais menores’. A Record disse que está atenta à tendência e por isso exibe programas da TV paga, como ‘House’ e ‘Aprendiz’.

A Rede TV! declarou querer ‘crescer entendendo a mudança e não a reprimindo’, a Band, que está ‘atenta, mas é preciso esperar para observar melhor’ e o SBT não comentou.’

 

Migração de ibope para a TV fechada é menor

‘Dos 4,3 pontos que as grandes redes de TV perderam de 2001 para 2009 na faixa noturna, aproximadamente um terço migrou para TVs fechadas e dois terços, para DVDs, games e outros aparelhos, de acordo com Antonio Ricardo Ferreira, diretor-executivo do Ibope.

Apesar disso, o mercado de TV paga tem dados a comemorar. Na última quarta-feira, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou que o total de assinantes do país chegou a 7,6 milhões em janeiro deste ano (cerca de 25,2 milhões de telespectadores).

A base vem crescendo, turbinada pela entrada das empresas de telefonia no setor, que passou a oferecer TV paga com banda larga e telefone -eram 4,6 milhões em 2006; 5,3 milhões em 2007; 6,3 milhões em 2008 e 7,5 milhões em 2009.

Presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura, Alexandre Annenberg admite que os DVDs, principalmente os piratas, são concorrentes, mas tenta amenizar a disputa: ‘A TV paga oferece uma sinergia muito grande como o DVD, que são os serviços de PVR [que servem para pausar e gravar a programação]. É claro que a concorrência com qualquer tipo de pirataria é danosa e que o preço da TV paga ainda é um obstáculo para o crescimento’, diz Annenberg.

Internet

Os números do Ibope não elucidam a disputa entre televisão e internet.

De acordo com Ferreira, não há até agora nenhum televisor na base do Ibope [nos quais são instalados ‘people meter’ para registrar a audiência] que sirva de monitor para a internet.

O instituto e as redes de TV têm o desafio de renovar o modelo de medição de audiência, hoje restrito ao movimento do telespectador entre os canais do televisor. O novo passo é mensurar o acesso ao conteúdo, que pode ser feito no celular, no computador etc., como a Nielsen começa a testar neste ano nos Estados Unidos.

Os números evidenciam essa demanda. Em dezembro de 2001, eram 6 milhões de brasileiros utilizando internet em casa. Já em outubro de 2009, o número chegava a 28,5 milhões, um aumento de 375% (dados do Ibope/NetRatings).

‘Hoje há pluralidade no consumo de mídias’, resume o publicitário Adrian Ferguson.’

 

Brian Stelter, NYT

TVs começam a ver internet como ‘amiga’

‘Alguém se lembra de quando se imaginava que a internet fosse acabar com a televisão? Pois isso não vem acontecendo, a julgar pelos números de audiência das transmissões de grandes eventos na TV.

Tudo indica que os Jogos de Vancouver serão a Olimpíada de Inverno fora dos EUA mais assistidas na TV americana desde 1994; o Super Bowl deste ano foi o programa de maior audiência na história do país; e premiações como o Grammy vem atraindo grande público.

Muitos executivos da TV atribuem o ressurgimento da audiência, em parte, à internet. Blogs e sites sociais como Facebook e Twitter possibilitam a troca informal de ideias on-line, incentivando as pessoas a dividir o tempo entre a tela do computador e a maior, da TV.

A Nielsen Company, que mede a audiência de televisão e o tráfego na internet, observou que uma em cada sete pessoas que assistiram ao Super Bowl e à cerimônia de abertura da Olimpíada estavam navegando na web ao mesmo tempo.

‘A internet é nossa amiga, não inimiga’, disse Leslie Moonves, executivo-chefe da CBS Corporation. ‘As pessoas querem ficar interligadas.’

Às vezes o efeito funciona mesmo quando o programa não é ao vivo. Rachel Velonza, 23, de Seattle, sabia que Johnny Weir tinha perdido na patinação artística antes de ligar a TV, mas ficou acordada até tarde, tolerando o atraso da NBC, pois queria ver com os próprios olhos o porquê do patinador acabar em sexto lugar.

Ela sabia que todos os seus amigos faziam o mesmo, já que falavam disso no Twitter (que diz ter 50 milhões de posts diários) e no Facebook (que diz ter tido 400 milhões neste mês).

A NBC diz que os hábitos de pessoas como Velonza podem explicar em parte a razão de a audiência das Olimpíadas ter subido perceptivelmente. ‘Elas querem ter algo a compartilhar’, disse Alan Wurtzel, chefe de pesquisas da emissora.

Se os espectadores não podem assistir à TV na mesma sala, a segunda melhor opção é estarem juntos em um bate-papo, ou algo assim, na internet.

Foi o que a MTV constatou durante o último Video Music Awards: os twitteiros ficaram eletrizados quando Kanye West tirou o microfone de Taylor Swift durante discurso que ela fazia ao ser premiada. A transmissão alcançou a média de 9 milhões de espectadores, maior audiência em seis anos.

Neste ano, a Academia de Gravação, que entrega o Grammy, preparou uma campanha digital para divulgar o evento de premiação. Não à toa, segundo a Academia, tiveram audiência 35% maior que no ano passado.

O efeito evidentemente não se limita à televisão. Papos on-line podem beneficiar ou prejudicar estreias de filmes e a aprovação de políticos. Estudos atuais sobre redes on-line afirmam o que pesquisadores admitem há tempos: as pessoas procuram companhia de quem pensa como elas, de quem se dispõem a serem influenciadas.

Outros fatores contribuem para o aumento da audiência na TV, como o crescimento demográfico e a contração econômica -que leva pessoas a passarem mais tempo em casa. Mas o uso crescente de mídias sociais está sendo um grande impulso.

Para Wurtzel, a Olimpíada de Inverno está sendo um laboratório. Até agora, afirmou, está constatando que as pessoas que acompanham o evento na TV e também on-line acabam ‘assistindo a mais TV’.

Empresas de mídia começam a analisar como aproveitar melhor o efeito ‘ponto de encontro informal’. No caso da Olimpíada, a NBC promove algo chamado ‘Você é o jurado’, no qual espectadores podem dar escores aos patinadores, através da web, e compará-los com os de outros espectadores.

Nas palavras de Chloe Sladden, do Twitter: ‘Não consigo imaginar um grande evento no futuro no qual o público não seja participante integral’, disse.

Tradução de CLARA ALLAIN

A íntegra deste texto saiu no ‘New York Times’’

 

Andréa Michael

No SBT, Richard terá programa de 1 h e quadro em estúdio

‘Para aliviar a tensão da estreia, humor. Com essa fórmula, o biólogo Richard Rasmussen, 40, pretende inaugurar o ‘Aventura Selvagem’ no sábado, no SBT, depois de cinco anos apresentando quadros na Record. ‘Ninguém quer ver um super-herói. O público gosta do cara comum, que tropeça, cai na lama e dá risada.’

Entre as atrações do programa de uma hora, no qual apresentará curiosidades da vida selvagem, está a ‘Competição Animal’, que traz a principal novidade: será gravado em estúdio, em um cenário-acampamento -cena inédita para os telespectadores, acostumados a vê-lo no meio mato.

Desde outubro, Richard já passou pela região amazônica, pelo Pará, por Minas Gerais e por Goiás. Agora, viaja para a RepúblicaDominicana e planeja ir ao México, ao parque Yellowstone, nos EUA, e voltar ao Peru e à Patagônia. Tudo para chegar perto de animais exóticos, pegá-los e até beijá-los.

‘A mesma surpresa que algumas pessoas sentem quando beijo um sapo eu sinto quando sobem na cadeira com medo de perereca’, diz, referindo-se àqueles que estranham sua intimidade com a fauna. ‘Para mim, é natural’, afirma o biólogo, que começou a viajar aos 12 anos,na companhia do avô.

No Brasil, garante que até hoje só o tatu-canastra escapou de suas lentes de cinegrafista. Enquanto ele não dá as caras, Richard se diverte com seus animais de estimação: 12 cachorros, cinco quatis, duas antas, um cavalo e uma serpente.

‘Tô passada!’

Vestidos, joias, trejeitos e até o mix inglês-português d aapresentadora Luciana Gimenez, do ‘Superpop’ (RedeTV!). É a cover Luciana do Paraguai. Ou melhor, Tiago Barnabé, 25 anos, 1,82m de altura, sapatos 40 e ‘homem, por favor’. Animador de plateia, ele se prepara, agora, para um novo momento, como apoio da patroa, que o ‘adora’ e diz: ‘Foi descoberta minha e ninguém pega!’. Terá aulas de teatro e um quadro no ‘Superpop’. Convincente com jeito de diva e o bordão da original, o ‘eu tô passada’, já ganhou até selinho de Hebe Camargo.

CASCÃO

Nadja Haddad prepara uma surpresa para os mal-educados em seu ‘Vídeo News’ (Band). Hoje, às 21h, estreia o quadro ‘Este Lixo É Teu’, em que as câmeras do programa vão flagrar quem joga lixo nas ruas.

SHERLOCK

Um detetive ajudará a localizar o responsável para devolver o que ele deixou na calçada. A intenção, diz a emissora, não é dar lição de moral, mas conscientizar na brincadeira.

PICADEIRO

Serginho Groisman gravará o ‘Altas Horas’ (Globo), na próxima terça, na tenda do Cirque du Soleil, armada no parque Villa-Lobos, em São Paulo. Vai ao ar no sábado.

SAUDADE

Às terças, às 21h, o ESPN exibirá 15 clássicos das Copas (1970 a 2006). O primeiro é afinal de 1970, com Brasil x Itália.

com CLARICE CARDOSO’

 

Rafael Cariello

Moralismo migra das novelas para telejornais

‘Há algo de radicalmente novo, não sei se intencional, nas novelas de Manoel Carlos.

A ausência de moralismo em suas tramas parece se conjugar com uma sensação de vazio para o telespectador, de falta de sentido no enredo, de que nada acontece.

Em ‘Viver a Vida’, atual folhetim das oito na TV Globo, mesmo um clássico recurso do melodrama, em que um par de gêmeos encarna a dualidade bem/mal, foi subvertido. Entre Jorge e Miguel, quem é o mocinho? E quem é o bandido?

O próprio ato da traição, motivo de frisson e suspense nos dramas do passado, tornou-se leve e superficial passatempo da elite carioca. Maridos e mulheres se distraem com seus respectivos amantes, embalados na paisagem solar por canções românticas que celebram o amor verdadeiro.

A novidade tem a ver com o melodrama, uma forma narrativa típica da modernidade. Sob diversos disfarces, seu esquema marcou presença na Europa do século 19, em Hollywood e na Globo.

Com seu maniqueísmo moral bem marcado, oferecia uma ordem reconfortante, segura, para uma sociedade que vê antigos valores serem questionados sem que uma nova hierarquia moral, estável, venha substituí-los.

Enquanto o Brasil se urbanizava rapidamente, as telenovelas cumpriram essa função. Os valores privados, da família rural ou da cidade do interior, foram postos à prova na grande metrópole. Era sobre esse pano de fundo que se desenrolavam os dilemas das personagens.

De maneira bastante criativa, as melhores novelas dessa época não negavam o esquema do melodrama, mas tendiam a invertê-lo, tomando o partido da mudança, em detrimento da estabilidade anterior.

Ocorre que o processo de ‘modernização’ da sociedade brasileira, visto sob a perspectiva da família, já terminou. Não há mais conflito possível, nesses termos, na esfera privada retratada por Manoel Carlos. Vem daí, talvez, o sentimento de que nada acontece nas obras desse autor.

O curioso é que, enquanto o melodrama bate em retirada das novelas, o moralismo é cada vez mais presente nos telejornais. Comentaristas e apresentadores de jornal se tornaram professores de moral e cívica.

Para o bem ou para o mal, dão testemunho de um outro processo em marcha no país, que tem a ver desta vez com a política e com a esfera pública. Faz pouco tempo, afinal, que o voto foi de fato universalizado no Brasil.’

 

Lúcia Valentim Rodrigues

Desenho ‘Uma Família da Pesada’ irrita Sarah Palin

‘A animação tem um novo provocador no pedaço. Com ‘Uma Família da Pesada’, Seth MacFarlane, 36, quer tomar o lugar de ‘Os Simpsons’ na longevidade e nas polêmicas.

A política Sarah Palin foi a sua vítima mais recente. No episódio exibido nos EUA no dia 14, o seriado colocou uma garota com síndrome de Down na escola de Chris, o filho mais abobalhado da família Griffin.

‘Ela não é especial?’, pergunta o jovem, apaixonado por ela e ‘seus olhos arredondados’. Saem para jantar e ela se revela abusivamente mandona. Sem mencionar nomes, fala sobre sua vida: o pai é contador; a mãe, ex-governadora do Alasca.

‘Bem legal’, responde Chris. Já Palin não achou tão divertido. Ela deixou o cargo no Alasca no ano passado e também tem um filho com síndrome de Down, Trig, de quase dois anos. No site Facebook, descreveu sua decepção: ‘Foi um chute no estômago’.

Ela pediu à sua filha Bristol que comentasse o assunto: ‘Quando se é filho de uma figura pública, você tem de desenvolver uma casca grossa. Eu e meus irmãos temos isso, mas insultos dirigidos a nosso irmão mais novo nos machucaram muito para ficarmos quietos. Pessoas com necessidades especiais enfrentam desafios com os quais muitos de nós nunca vão se confrontar (…).

Por que alguém ia querer dificultar ainda mais as coisas ao caçoar delas?’. ‘Se os roteiristas de um desenho particularmente patético pensaram que estavam sendo inteligentes ao zombar do meu irmão e da minha família, eles falharam. Tudo o que eles provaram é que são uns idiotas sem coração.’

Ao jornal ‘Los Angeles Times’, o criador, Seth MacFarlane, disse que ‘a sátira é a base do humor do programa’.

Andrea Fay Friedman, 39, que também tem síndrome de Down e dubla a personagem no episódio, saiu em defesa do seriado. ‘Acho que Sarah Palin não tem senso de humor. Achei a piada boa. Na minha família, achamos que rir é bom. Meus pais me criaram para ter senso de humor e viver normalmente’, disse ao ‘New York Times’.

O rancor de Palin pode ter origens mais profundas. Afinal, não foi a primeira vez que ela foi o alvo das piadas. Na temporada passada, o caçula Stewie e o cão Brian se disfarçam de nazistas. Incrédulos, olham para um uniforme da SS com um broche da campanha de John McCain e Palin à Presidência.

A Globo exibe a animação (atualmente na oitava temporada) de madrugada, após o ‘Altas Horas’. Na TV paga, o FX estreia a nona temporada, com este episódio, em abril.

A ex-governadora que se cuide. Com citações que vão desde o filósofo anarquista Henry David Thoreau até o filme ‘De Volta para o Futuro’, MacFarlane não vai parar por aí. Ainda mais após ser respaldado pela crítica americana, que indicou a série para o Emmy. O vencedor sai em setembro. Já o contrato de MacFarlane vai ao menos até 2012.’

 

André Barcinski

Personagem com deficiência é o mais interessante e inteligente do episódio

‘Sarah Palin, candidata a vice-presidente na chapa republicana derrotada por Barack Obama, diz que um recente episódio de ‘Família da Pesada’ insultou os portadores de síndrome de Down. Palin, famosa, entre outras coisas, por dizer que a África é um país, não deve ter assistido ao desenho animado ou saberia que a menina com síndrome de Down é a personagem mais interessante e inteligente do episódio.

‘Família da Pesada’, como o nome diz, pega pesado. A série, uma cópia descarada de ‘Os Simpsons’, só que mais agressiva em seu humor, já ofendeu muita gente e foi acusada de antissemitismo e homofobia, entre outras coisas. Grupos de direita perseguem o desenho desde sua estreia, em 1999.

No recente episódio ‘Extra Large Medium’, o adolescente Chris Griffin cai de amores por Ellen, sua amiga da escola, que é portadora de síndrome de Down. ‘Ela não é especial?’, diz Chris ao irmão, Stewie. Chris vence sua timidez e acaba convidando Ellen para um jantar romântico. Na sequência mais engraçada do episódio, Stewie ajuda Chris a se vestir para o encontro, ao som de um número musical chamado ‘Garota da Síndrome de Down’.

O tema, claro, é polêmico, mas em nenhum momento a personagem Ellen é ridicularizada. Pelo contrário: é uma menina totalmente integrada à escola, com uma verve ácida e frases engraçadas. Parece que o simples fato de a síndrome de Down ser mencionada em uma série cômica já incomoda muita gente.

O mais curioso nessa história toda é que a mesma Fox que produz ‘Família da Pesada’ contratou Sarah Palin como comentarista de seu canal jornalístico, o conservador Fox News. Democracia é isso aí.’

 

INTERNET
Marcelo Leite

Revolução pelo Google

‘Qual a importância real da liberdade política para o desenvolvimento da pessoa, do espírito humano e do próprio capitalismo? Essa é a pergunta do século 21 e, se tiver resposta, ela virá da China.

Em 12 de janeiro, a empresa Google ameaçou abandonar a potência oriental depois que seu serviço de buscas foi alvo de vários ataques de hackers. Seria uma intimidação disfarçada do governo chinês, interessado em manter controle total sobre a internet.

Em resposta, a Google disse que queria negociar uma maneira de operar sem censura no país, ou sairia fora. Desde 2006, quando começou a funcionar ali, o Google tolerava a censura por meio de filtros que barravam pesquisas como ‘Tiananmen’. Foi muito criticada, com justiça, mas pelo menos agora o gigante cyber criou coragem para enfrentar o gigante censor.

A ditadura chinesa, maior aplicadora de penas de morte do planeta, conta com tolerância interessada no mundo todo -inclusive das democracias na Europa, nos EUA e no Brasil. Ninguém quer ficar fora daquele mercado fantástico. Já há 380 milhões de internautas na China (umas cinco vezes mais que no Brasil).

Com tais atributos, existe até gente argumentando que a democracia talvez não seja tão essencial ao desenvolvimento do capital, como pensava até aqui a nossa vã filosofia iluminista. Em tempos de hiperderivação financeira, indisciplina fiscal congênita e bolhas incontroláveis de crédito, um pouco de autoritarismo teria suas vantagens profiláticas.

A autocracia também é um anestesiante efetivo para controle social, ainda que sua eficácia diminua com o tempo. O corpo social, fortalecido pela circulação de ideias e meios, desenvolve intolerância contra ela.

Incorporar centenas de milhões de camponeses ao milagre chinês não se faz da noite para o dia, sem margem para revolta. Nem remediar o desastre ambiental patente já antes de o país crescer a taxas de 10% ao ano. Para não falar de condições de trabalho análogas à escravidão…

A censura ao Google e à internet, diante disso, parece fichinha. Talvez não seja. A China vive uma explosão de produção científica, fomentada por um governo consciente da relevância da pesquisa para o dinamismo da economia. O incentivo para publicar estudos é tamanho que as fraudes científicas estão se multiplicando.

Como em qualquer outro lugar, o Google tornou-se na China uma ferramenta de primeira mão para buscar conhecimento. A fim de descobrir se isso também vale para pesquisadores chineses, jornalistas do periódico científico ‘Nature’ fizeram um levantamento por e-mail sobre o mecanismo de busca e publicaram os seus resultados (www.go.nature.com/ FJ6QTm) na quinta-feira.

A ‘Nature’ obteve 784 respostas. Não é muito, numa comunidade de 1,5 milhão de pesquisadores. Ainda assim, trata-se de número respeitável para um levantamento jornalístico.

A consulta revelou que 80% dos que responderam usam o Google (ou seus serviços especiais, como o Google Acadêmico ou Google Scholar) como primeiro recurso para localizar artigos científicos. Outros 60% o empregam para informar-se sobre descobertas e programas de pesquisa.

Mais importante, 84% afirmaram que sua atividade científica seria ‘um tanto’ ou ‘significativamente’ prejudicada pela perda do Google. E 78% consideraram que haveria dano para as colaborações internacionais.

‘Pesquisar sem o Google seria como viver sem eletricidade’, resumiu à ‘Nature’ Xiong Zhenqin, da Universidade Agrícola de Nanquim.’

 

REFORMA GRÁFICA
Novo projeto deixa Folha mais fácil de ler

‘A Folha circulará com visual diferente a partir de maio. Está em fase final de ajustes uma reforma gráfica do jornal que tem entre seus objetivos apresentar um produto mais legível e agradável ao público.

As mudanças, que serão acompanhadas por novidades também no âmbito do conteúdo, estão sendo pensadas como um instrumento para caminhar rumo a um jornal que seja mais sintético na sua forma e mais analítico no seu conteúdo -mais ágil e mais necessário, mais leve e mais sofisticado.

Segundo Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, ‘ser mais legível, interessante e útil se tornou um imperativo’ num ambiente marcado pela oferta cada vez maior e caótica de informações.

A equipe envolvida na reforma gráfica começou a trabalhar há seis meses, em setembro de 2009, sob a direção da designer Eliane Stephan. Ela conta com a colaboração do designer da Folha Jair de Oliveira e do coordenador editorial da reforma, jornalista Naief Haddad, além de outros 16 profissionais de arte subordinados ao editor da área, Fábio Marra.

Stephan foi responsável pela reforma realizada em 1996, quando a impressão do jornal passou a ser feita totalmente em cores. Ela destaca que o conforto na leitura e a legibilidade do jornal estão intimamente associados ao cuidado com a tipografia. ‘No Brasil, a Folha foi a grande precursora da onda de desenho de fontes para jornal e a primeira a usar typedesigners e novas tecnologias no início dos anos 90’, diz.

Na reforma atual, o designer holandês Lucas de Groot está redesenhando a fonte de títulos criada por ele especialmente para a Folha em 96. A fonte de texto e uma terceira família tipográfica foram desenhadas pelos designers Erik Spiekermann, de Berlim, e Christian Schwartz, de Nova York.

História

Na reforma gráfica que realizou em 2000, o jornal pretendeu organizar de maneira mais nítida a hierarquia das notícias. Tratava-se de enfatizar visualmente o que é mais importante e o que é menos fundamental, o substantivo e o acessório.

O projeto foi elaborado pelo designer Vincenzo Scarpellini, que havia sido responsável pelo desenho do jornal ‘Il Manifesto’ e lecionara em universidades de Roma. Scarpellini mudou-se para o Brasil em 1996. Morreu em 2006, aos 41 anos, vítima de câncer.

A consultoria do projeto gráfico de 2006 ficou a cargo do designer norte-americano de origem cubana Mario García, que redesenhou jornais como ‘The Wall Street Journal’ (dos EUA), ‘Libération’ (francês) e ‘Die Zeit’ (alemão).

A elaboração do projeto foi coordenada pelo jornalista Melchiades Filho, atual diretor da Sucursal de Brasília.

A reforma buscava contemplar as mudanças nos hábitos de leitura, derivadas da expansão da internet e da multiplicação de ofertas de veículos e plataformas de informação.

O projeto atual incorpora aspectos das duas reformas anteriores e aponta para um jornal mais limpo, visualmente econômico, retilíneo, características marcantes da reforma conduzida por Stephan em 1996. Há também a preocupação de diminuir a diversidade entre os cadernos e em cada um deles, dando ao jornal um perfil mais homogêneo e unitário.’

 

NOTÍCIAS
Carlos Heitor Cony

Informar é preciso

‘RIO DE JANEIRO – Com a redundância de informações, via jornais, TVs, rádios e agora a internet, busco em folhas antigas alguma coisa que não seja sucessão presidencial e crise no DF. Dou de cara com uma nota que veio de Bombaim: Suicidou-se na tarde de ontem um faquir aposentado que abandonara a família para se dedicar à adoração do Sol, do Boi e da Cebola. Tantas fez que descolou um discípulo, Amaro das Vinhas, natural do Crato, a quem o faquir ensinou um modo de preparar carne de boi ao sol com bastante cebola. Amaro morreu de indigestão, mas feliz, pois descobrira que praticara a teofagia, ou seja, comera seus deuses.

Em Rangoon, o mais famoso poeta de Burma espantou seus admiradores quando saiu de casa completamente nu. Impelido pela multidão para o interior de um templo, o poeta começou a bradar em altas vozes: ‘A poesia morreu, deixem-me morrer também!’. A polícia tentou negociar, dizendo que o poeta podia morrer, mas tinha de se vestir primeiro. Em sinal de protesto, o poeta preferiu continuar vivo e nu. Sacerdotes do templo pediram aos fiéis que orassem pelo bardo em desespero.

No largo dos Pilares, no Rio, o menor Francisco Clementino, de 11 anos, foi preso em flagrante quando seduzia uma senhora de 65 anos. Chamado a intervir no caso, o juiz de menores pediu em edital que alguém tomasse conta do garoto. Apresentou-se uma senhora de 65 anos, que o juiz suspeita ter sido a mesma que fora seduzida pelo menor.

No Tibete, voltou ao principal convento da maior cidade local um monge budista que fora preso na Via Veneto, em Roma, em atitude de exibicionismo sexual. Repatriado ao Tibete, o monge organizou uma expedição de outros monges para conhecer os perigos daquela cidade cristã e pecaminosa.’

 

HISTÓRIA
Pierre Le Hir

A bisavó da Wikipédia

‘Na entrevista abaixo, publicada originalmente no jornal ‘Le Monde’, o historiador da cultura Roger Chartier fala sobre a importância da ‘Enciclopédia’ iluminista.

Dirigida por Denis Diderot (1713-84) e Jean d’Alembert (1717-83), ela reuniu cerca de 72 mil artigos de mais de 140 autores, tornando-se um marco não apenas pelo ideal de catalogar ‘as ciências, as artes e os ofícios’, mas por sua forma colaborativa e sua influência na cultura revolucionária.

Professor no Collège de France e diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris), Chartier discute o caráter subversivo da ‘Enciclopédia’, disponível on-line (em francês) no site da Universidade de Chicago (http://encyclopedie.uchicago.edu).

PERGUNTA – O sr. leu toda a ‘Enciclopédia’?

ROGER CHARTIER – Quem a leu na íntegra? Talvez duas pessoas: Diderot e o editor Le Breton, que estava na origem do projeto. A pergunta é interessante porque remete à própria estrutura da obra, ou seja, ao sistema pelo qual um artigo remetia a outro, utilizado por Diderot para as ideias mais audazes. Como o artigo ‘antropofagia’ remetendo a ‘eucaristia’. Quando estamos na presença dos 17 volumes de textos, completados por 11 volumes de ilustrações, cuja publicação foi feita gradativamente entre 1751 e 1772, a utilização das remissões se torna problemática.

Paradoxalmente, é a versão eletrônica da primeira edição da ‘Enciclopédia’, colocada on-line pela Universidade de Chicago, que torna eficaz hoje um artifício concebido por Diderot como um dos mais filosóficos -ou seja, subversivos- possíveis.

PERGUNTA – De que maneira é subversivo esse sistema de remissões?

CHARTIER – A ‘Enciclopédia’ foi publicada numa época de censura, de que foi vítima duas vezes. Em 1752, após a publicação dos dois primeiros volumes, por decisão do Conselho de Estado, que enxergou nela uma semente de erros, de irreligião e de corrupção dos costumes. Depois, em 1759, atendendo a pedido do Parlamento, que conduz à perseguição aos livros ditos ‘filosóficos’ e os queima.

Em ambas as vezes, foi Malesherbes, diretor da Biblioteca [cargo responsável por zelar pela censura], que salvou o empreendimento. Dentro desse contexto, em que o privilégio da publicação enfrentava a ameaça constante de ser revogado, o jogo das remissões permitia contornar a censura.

Muitos artigos cujos títulos poderiam levar a imaginar que estivessem entre os mais causticantes, como o artigo ‘censura’, seguem, na realidade, um tom muito moderado, de viés puramente histórico. Já outros, de aparência mais anódina, abrigam as intenções mais filosóficas e as críticas mais ásperas às autoridades.

PERGUNTA – A ‘Enciclopédia’ de Diderot e D’Alembert não foi a primeira. Por que ela é tão singular?

CHARTIER – Inicialmente, seria uma simples tradução da ‘Cyclopaedia’, de Ephraim Chambers, publicada na Inglaterra em 1728 [na qual já se encontrava a remissão a eucaristia no artigo sobre os antropófagos]. Pouco depois, porém, o projeto mudou radicalmente.

A ‘Enciclopédia’ francesa tornou-se uma produção coletiva, de um grupo de pessoas de letras cuja ambição era dar voz à filosofia das luzes e cobrir todos os campos do saber. Apesar de a obra seguir uma ordem alfabética, o ‘Discurso Preliminar’ de D’Alembert organizou esses conhecimentos de maneira sistemática em torno das três grandes faculdades do espírito humano: memória, razão e imaginação.

Assim, ocorrem aproximações inesperadas, por exemplo entre ‘religião’ e ‘superstição’, ‘teologia’ e ‘adivinhação’, como fazendo parte da mesma família temática. Essa abordagem também rompe com uma ordenação hierárquica em que a teologia vinha sempre em primeiro lugar.

PERGUNTA – Em que medida esse manifesto das luzes solapou os valores do Antigo Regime [que cairia em 1789, com a Revolução Francesa]?

CHARTIER – Além do artigo dedicado à ‘tolerância’, muitos outros giram em torno da ideia de tolerância: não se deve perseguir os indivíduos em razão de suas crenças. Assim, condenou-se a repressão exercida contra os protestantes. Trata-se de uma ideia muito forte, em uma França na qual existiam uma só religião -o catolicismo- e uma só autoridade -a faculdade de teologia. Outro questionamento dos conceitos dominantes na época: a crítica à violência e à submissão impostas aos povos da África ou da América. Com relação ao campo político, a obra é mais prudente. Mas lemos nela que ‘o fim da soberania é a felicidade do povo’, o que não é exatamente a linguagem do absolutismo.

PERGUNTA – Podemos enxergar nela os primórdios de 1789?

CHARTIER – Ela tornou possível uma ruptura -ou melhor, a tornou imaginável. Não há nada de revolucionário ou mesmo de pré-revolucionário na ‘Enciclopédia’, que se mantém muito distante da virulência dos libelos, panfletos e outras sátiras sediciosas que aparecem na mesma época.

Mas ela ajudou a instilar, difundir, disseminar uma maneira de pensar que se distancia das autoridades -da autoridade política e, mais ainda, da religiosa. Foi preciso uma adesão ao processo revolucionário ou, ao menos, uma aceitação. Os leitores da ‘Enciclopédia’ certamente não eram o povo: como mostrou o historiador americano Robert Darnton, eles pertenciam à aristocracia esclarecida, às profissões liberais, ao mundo dos negociantes -em suma, aos meios mais tradicionais do Antigo Regime.

Nesses círculos, a ‘Enciclopédia’, juntamente com outros escritos, impôs ideias e representações coletivas que não provocaram 1789, mas, sim, o permitiram.

PERGUNTA – O sonho enciclopédico não teria se desfeito depois, com a fragmentação dos conhecimentos?

CHARTIER – A virada aconteceu no final do século 18, com a ‘Enciclopédia Metódica’, do livreiro e editor Panckoucke, que refundou a ‘Enciclopédia’ de Diderot e D’Alembert, adotando uma organização por campos do saber. A partir desse momento, perdeu-se a vivacidade de provocação da obra inicial: ela se ateve, em parte, a sua organização ‘racional’, que atrapalhava as classificações antigas.

Isso acabou com o esforço magnífico de Diderot e D’Alembert para produzir um livro de livros, uma soma dos conhecimentos na qual o homem honesto pudesse circular sem enclausuramentos. A fragmentação dos conhecimentos é sem dúvida o preço a pagar por seu aprofundamento. A erudição sai ganhando, mas conduz à antinomia das culturas -de um lado, a científica; de outro, a literária-, presente em todos os debates atuais sobre os programas escolares.

PERGUNTA – A Wikipédia não seria fruto do projeto de Diderot e D’Alembert?

CHARTIER – Em certo sentido, sim, na medida em que se baseia nas contribuições múltiplas de uma espécie de associação de intelectuais invisíveis. Mas Diderot com certeza não teria aceito a simples justaposição de artigos, sem árvore de conhecimentos nem ordem arrazoada, que caracteriza a Wikipédia. É um empreendimento democrático, aberto e ao mesmo tempo extremamente vulnerável, muito exposto a erros e falsificações. Assim, fica visível a tensão entre o desejo de constituição de um saber coletivo e a profissionalização dos conhecimentos.

PERGUNTA – Olhando à distância, a ‘Enciclopédia’ mudou o mundo?

CHARTIER – Pode um livro mudar a face do mundo? Os autores gostariam de pensar que sim. Eu prefiro dizer que um livro pode -em um lugar e um tempo dados e, depois, por sua trajetória por outros lugares e outros tempos- mudar as representações e a relação com os dogmas, com as autoridades. A ‘Enciclopédia’ exerceu esse papel, além das fronteiras do reino da França. Mas o que faz com que um livro possa ter um impacto são as apropriações, múltiplas e às vezes contraditórias, de que é objeto. A ‘Enciclopédia’ talvez tenha sido um dos germes da ruptura revolucionária, mas, ao mesmo tempo, foi rejeitada pelos revolucionários mais radicais.’

 

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