Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Fotógrafa francesa que cobria conflito sectário é encontrada morta

Uma fotojornalista de 26 anos foi encontrada morta na República Centro-Africana na terça-feira [13/5], no primeiro caso de assassinato de um profissional de imprensa ocidental no país desde dezembro, quando a França enviou tropas para sua ex-colônia, que há mais de um ano vive um cenário completo de caos por conta da luta sectária.

O corpo da francesa Camille Lepage, que trabalhava como freelancer, foi encontrado por soldados em um veículo que era dirigido por membros das milícias Anti-Balaka, junto com os corpos de outras quatro pessoas. De maioria cristã, as milícias Anti-Balaka foram criadas para combater o grupo rebelde Seleka, de maioria muçulmana, que tomou o poder em março do ano passado.

Não ficou claro quem teria matado a jornalista, mas de acordo com um trabalhador humanitário que atua no oeste do país, milicianos cristãos foram atacados por um grupo armado da minoria muçulmana da etnia Fulani na manhã de terça-feira. Os ataques entre os dois grupos são frequentes, disse ele.

Instabilidade

Em 6/5, Camille publicou uma foto em sua conta no Instagram e escreveu que estava viajando com milicianos Anti-Balaka para Amada-Gaza, próximo à fronteira com Camarões, onde seu corpo foi achado. “Ela foi, provavelmente, vítima de uma emboscada”, declarou o presidente francês, François Hollande. “Nós devemos fazer todo o possível para descobrir por que ela estava naquela região, quem a capturou, como ela morreu, e garantir que seus assassinos não fiquem impunes”.

Desde que se tornou independente da França, na década de 60, a República Centro-Africana sofre com conflitos internos e instabilidade política. Dezenas de milhares de pessoas já abandonaram o país, passando pela fronteira com Camarões, para fugir da violência.

Camille, que já fez trabalhos para veículos como Reuters, Le Monde, New York Times e BBC, tinha o Sudão do Sul como base desde julho de 2012. No ano passado, em uma entrevista para um site de fotografia, ela afirmou que sempre quis viver em lugares para onde ninguém mais quer ir, e cobrir seus conflitos. “Eu quero que o público veja o que as pessoas estão enfrentando, gostaria que ele as sentisse como seres humanos, em vez de vê-las como mais um grupo de africanos sofrendo com a guerra em algum canto deste continente sombrio”, disse a fotógrafa na ocasião.