Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Fox News não afeta eleições

A parcela de americanos que acredita que organizações de mídia são parciais em sua cobertura política subiu para 60% em 2005, de acordo com dados do Centro de Pesquisas Pew. Há 20 anos, este índice era de 45%. Segundo Alan B. Krueger, em artigo no New York Times [18/8/05], não são poucas as pessoas que também acreditam que uma cobertura parcial influencia o resultado de eleições.

Os economistas Stefano Della Vigna, da Universidade da Califórnia, e Ethan Kaplan, do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Universidade de Estocolmo, realizaram um estudo para descobrir se isso realmente é verdade. Mais especificamente, eles questionaram se a criação da conservadora emissora de TV a cabo Fox News, do magnata Rupert Murdoch, afetou o comportamento dos americanos diante das urnas. Com os resultados nas mãos, os dois pesquisadores afirmam que não, a Fox aparentemente não exerce nenhuma influência direta na escolha do partido dos eleitores, ou mesmo na sua decisão de votar – nos EUA, o voto não é obrigatório.

A Fox News foi inaugurada em outubro de 1996, em uma fatia pequena do mercado de TV a cabo, e teve sua transmissão ampliada em 2000. Della Vigna e Kaplan fizeram listas das cidades que recebiam o canal em 1996 e das que passaram a recebe-lo quatro anos depois, e ligaram esta informação com os registros de votos destas regiões. Foram pesquisadas 8.630 cidades em 24 estados dos EUA.

Como o canal começou a operar logo antes das eleições presidenciais de 1996, sua possibilidade de influência na disputa entre Bob Dole e Bill Clinton é nula. O que foi comparado é o resultado desta eleição com a que veio em 2000, onde disputaram George W. Bush e Al Gore. Desconsiderando candidatos de partidos menores, os professores descobriram que, nas cidades que ofereciam Fox, a parcela de eleitores republicanos subiu 6 pontos percentuais (de 48% para 54%) em quatro anos, enquanto nas regiões sem o canal, este índice aumentou 7% (de 47% para 54%).

Esta mesma tendência apareceu outras vezes no estudo. O lançamento da Fox News não parece ter ajudado a aumentar o número de pessoas votando para o candidato republicano à presidência, e o mesmo acontece com disputas para o Congresso. Em 2000, 17% dos americanos diziam assistir ao canal regularmente, enquanto 28% viam às vezes.

Della Vigna e Kaplan dizem que há algumas explicações para o fenômeno. Uma possibilidade seria a de que as pessoas que assistem a um determinado canal de cobertura política o fazem porque já têm suas inclinações e opiniões formadas. Desta forma, a Fox estaria pregando para os já convertidos. Mas esta opção não parece ser o caso: a parcela de telespectadores da Fox que se declaram democratas é similar a dos republicanos.

Outra explicação seria a de que, ao assistir à Fox, o público confirmaria suas inclinações políticas. Ou seja, a suposta inclinação do canal para o lado republicano energizaria também a base democrata. Mas a teoria preferida dos pesquisadores é a de que o público conseguiria ‘filtrar’ a parcialidade da cobertura política. Os telespectadores acenderiam uma luzinha de alerta diante do formato da programação da Fox, e o mesmo aconteceria com outros canais. A tendência das pessoas em enxergar notícias e comentários políticos na TV como entretenimento provavelmente facilitaria este filtro.