Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Futebol? A noite é da publicidade

Passei a noite de domingo (7/2) em frente à TV aguardando ansiosamente os
comerciais. Não ligo para futebol americano. Até acho divertido ver aquele bando
de homens mastodônticos com ombreiras enormes se jogando – sem medo de possíveis
manchas roxas, vértebras quebradas ou hemorragias cerebrais – uns em cima dos
outros. Mas meu interesse acaba em poucos minutos. Quando me mudei para os EUA,
tentei dar uma chance ao futebol americano. Hoje sei quem são Brett Favre e
Peyton Manning. Sei também, graças ao filme que pode dar um Oscar a Sandra
Bullock, que existe algo chamado blind side – o jogador que está com a
bola deve ser protegido por um colega de time, que tem a função de literalmente
derrubar qualquer jogador do time rival que tente agarrá-lo por trás, em seu
‘ponto cego’. E aí terminam meus conhecimentos do tema. Cada vez que tento
prestar atenção no jogo, menos entendo. Decidi gostar de basquete.


Dito isso, não tive dúvidas de que teria que assistir à final do campeonato
de futebol americano, o Super Bowl. É um dos eventos esportivos mais importantes
do país e um dos dias mais importantes para a televisão dos EUA. Por
curiosidade: a Wikipedia informa que se trata também do dia com o segundo maior
consumo de comida, atrás apenas do Dia de Ação de Graças. Mas, voltando à TV, o
Super Bowl costuma ter audiência na casa das centenas de milhões de pessoas. Uma
inserção publicitária na rede CBS, que exibe o evento, custa algo como 2,8
milhões de dólares. E os comerciais são uma atração em si. Muitas marcas, como a
Coca Cola e a Budweiser, preparam anúncios especialmente para o dia.


O curioso é que estas peças provocam repercussão mesmo antes de sua exibição.
A cervejaria Anheuser-Busch, dona da Budweiser, havia decidido não incluir os
tradicionais cavalos de suas propagandas no comercial que exibiria no intervalo
da partida, mas uma pesquisa com o público, feita via Facebook, revelou que,
para os telespectadores, era importante ver os cavalos. E lá estavam eles na
noite de domingo.



Anúncio imprevisível


Um anúncio patrocinado por uma organização evangélica antiaborto acabou
editado depois de provocar polêmica. Grupos pelos direitos das mulheres entraram
em contato com a CBS para pedir que não aceitasse a peça, que mostrava a
história de um jogador de futebol e sua mãe – por razões de saúde, seu médico
havia sugerido que ela abortasse o bebê, mas ela rejeitou a opção e teve o
filho. No novo anúncio, a mensagem se tornou mais sutil. O comercial é leve e
não se fala em aborto.



Mas o anúncio mais inusitado envolveu os três maiores nomes atuais dos
talk shows americanos. O comercial começa com close no rosto do
apresentador David Letterman, que tem programa na CBS, reclamando que aquela era
a pior festa do Super Bowl a que ele já tinha ido (é tradição as famílias e
amigos se reunirem para assistir ao jogo; daí o grande consumo de comida). A
câmera abre e mostra que a seu lado está ninguém menos que Oprah Winfrey. Do
outro lado de Oprah aparece Jay Leno, concorrente de Letterman na NBC. Os
apresentadores têm um passado de rivalidade – Letterman deixou a NBC há vinte
anos depois que Leno ocupou o lugar deixado por Johnny Carson, que Letterman
acreditava que ocuparia.


No anúncio, Letterman implica com Leno, e Oprah suspira, buscando paciência.
A peça foi gravada em segredo no estúdio do programa de Letterman, em Nova York.
Leno chegou ao local disfarçado com direito a bigode falso para não ser
reconhecido na rua. A idéia foi de Letterman, que já havia gravado um comercial
com Oprah para a partida de 2007. Sem dúvida, o anúncio mais imprevisível da
noite.



O melhor


Admito que foi divertido assistir ao Super Bowl. Do jogo, sei que o
Indianapolis Colts começou na frente e acabou perdendo o título para o Saints,
de New Orleans. Posso dizer também que Peyton Manning, quarterback do
Colts, errou passe decisivo que levou o Saints a fazer o touchdown da
vitória. Mas gostei mesmo foi do anúncio do Google.