Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Governo fecha cerco a jornalistas estrangeiros

Pequenos grupos de jornalistas chegam a postos de controle policial em estradas que levam ao Tibete e são proibidos de continuar viagem. Os profissionais são levados para a capital da província de Sichuan, Chengdu, e recebem um aviso: se voltarem, serão impedidos novamente. A cena virou rotina desde que tiveram início os protestos no Tibete, em março. A região passou a ser território proibido para estrangeiros, com dezenas de postos de controle impedindo a passagem.

O objetivo do governo chinês parece ser evitar a má publicidade que uma cobertura internacional feita de perto poderia causar ao país – especialmente a poucos meses dos Jogos Olímpicos de Pequim. Para evitar acusações de que estariam amordaçando a imprensa, as autoridades negam a existência de uma proibição de viagem – afirmam que estão apenas prezando pela segurança dos repórteres.

Fato é que os jornalistas estão proibidos de transitar livremente por todas as regiões da China – segundo regras anunciadas para as Olimpíadas, a imprensa internacional que visita o país por conta dos Jogos poderia viajar sem precisar de permissão governamental. As autoridades alegam que, no caso do Tibete, a situação atual é ‘especial’.

A situação é, na verdade, estranha. Em alguns casos, para desfazer qualquer mal-estar, os policiais são simpáticos, oferecendo comida, cigarros e apertos de mão. Alguns pedem desculpas pelo inconveniente, afirmando que, quando a situação acalmar, os repórteres podem voltar e terão ‘condições melhores de cobertura’. Outras vezes, agentes de polícia chegam a confiscar passaportes, mostrar armas e ordenar que fotógrafos apaguem de suas câmeras imagens dos postos de controle.

Interferência

Os poucos jornalistas que conseguem passar pelo bloqueio são ‘desmascarados’ quando se registram em hotéis, onde precisam mostrar o passaporte. Policiais à paisana seguem os profissionais de imprensa pelas ruas para monitorar suas atividades. Na semana passada, uma repórter que tentava entrevistar tibetanos foi seguida. Depois de conversar com alguns moradores locais, eles foram parados pela polícia – que queria saber o que a jornalista havia perguntado.

A interferência no trabalho da imprensa parece ter chegado até a áreas que não foram bloqueadas. Uma jornalista que tentava entrevistar alguns professores tibetanos em uma universidade em Chengdu foi barrada por uma mulher que se dizia, ela própria, professora tibetana. Antes de a acompanhar para fora do campus, a mulher tirou fotos dela com um telefone celular – alegando que a jornalista, que é loira, parecia com uma de suas irmãs. Informações de Cara Anna [AP, 5/4/08].