Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Governo suspende al-Jazira e outras nove emissoras de TV

 

O governo do Iraque revogou, no domingo (28/4), as licenças de operação da al-Jazira e de outros nove canais de TV, alegando que eles estavam incitando conflito sectário. O decreto de proibição foi emitido pela Comissão de Mídia do Iraque, que tem autoridade para regular quem pode exercer o jornalismo e que informação é divulgada, e entregue a canais que cobriram agressivamente o movimento de protesto sunita no país, cada vez mais violento.

Nove dos canais estão alinhados com sunitas, que financiam as emissoras, e a iniciativa foi vista como censura a dissidentes pelo governo liderado por xiitas. Apenas um canal é alinhado com a comunidade xiita, o Anwar 2, com sede no Kuwait, mas de propriedade de uma família iraniana. A emissora geralmente dá voz a teorias da conspiração sobre o envolvimento dos países vizinhos sunitas sobre as relações internas do Iraque.

A comissão entregou uma carta às emissoras declarando que elas tinham que interromper suas operações jornalísticas. Como os canais via satélite estão sediados no exterior – a al-Jazira, por exemplo, tem sede no Catar –, eles ficam além do alcance do governo iraquiano. No entanto, seus jornalistas não poderão produzir matérias no país. “É uma boa oportunidade para ir para casa e ver suas mulheres e filhos depois de tanto tempo cobrindo revoltas”, afirmou Riad Barazanji, gerente da Baghdad TV, que tem ligações com o Partido Islâmico Iraquiano e alguns líderes sunitas. “Estamos atônitos com a decisão. Cobrimos todos os lados da história no Iraque e fazemos isso há anos. O fato de tantos canais terem sido atingidos de uma vez só, entretanto, sugere que é uma decisão indiscriminada”, escreveu em seu site a al-Jazira.

Retaliação à cobertura do protesto

Também em declaração, a comissão disse que as redes divulgaram “desinformação, propaganda e exagero” que aprofundaram divisões sectárias no Iraque. É mencionada especificamente a cobertura da semana passada de uma invasão de forças de segurança em um acampamento de protesto sunita em Hawija, cidade perto de Kirkuk, que deixou 50 mortos e mais de 100 feridos, e gerou ataques contra o exército e a polícia. Conflitos entre forças de segurança e homens armados sunitas continuaram ao longo da semana.

Muitos dos canais proibidos dedicaram boa parte da cobertura ao movimento do protesto sunita que começou em dezembro e na semana passada tomou um rumo violento que fez surgir o fantasma de uma nova guerra civil. Uma matéria no ano passado da Sharqiya, em especial, que alegou mau tratamento a prisioneiras sunitas nas prisões iraquianas, tornou-se um grito de guerra para os manifestantes.

As autoridades iraquianas procuraram classificar o movimento, que é dividido em muitas facções, em um plano da al-Qaeda ou do Partido Baath para derrubar o governo xiita no Iraque e os veículos de comunicação estatais buscaram não cobrir o protesto. Na semana passada, quando canais como a Sharqiya exibiam imagens da desordem em Hawija, a Iraqiya, controlada pelo estado, mostrava um festival de poesia em Basra. Alguns dos canais que tiveram a licença revogada exibiram discursos de líderes sunitas pedindo que jovens se armem contra o governo e a Iraqiya colocou no ar programas sobre flores e filmes.