Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Governo encontra o jornalista exemplar

Rui Chenggang é o mais novo rosto midiático do capitalismo chinês. O jornalista de apenas 31 anos – que dirige um Jaguar e veste ternos Hermenegildo Zegna – atrai 13 milhões de telespectadores com seu programa de notícias financeiras exibido na CCTV, maior rede estatal chinesa. Além disso, é autor de um popular e patriótico blog e recentemente publicou um livro onde opina sobre o milagre econômico chinês e dá suas impressões do difícil caminho que o país tem pela frente. Em resumo, Chenggang é jovem, inteligente e extremamente nacionalista.


O destaque em diferentes frentes gerou rapidamente uma enxurrada de elogios e críticas. Ao mesmo tempo em que é visto como enérgico e um modelo para as novas gerações, Chenggang também é acusado de se auto-promover e de ser uma ferramenta de propaganda do Partido Comunista. ‘Odeio a palavra propaganda’, rebate.


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O jornalista diz, entretanto, que seu objetivo não é simplesmente se tornar uma celebridade midiática, e sim usar seu prestígio para construir laços com o Ocidente e ajudar a mudar a opinião do mundo sobre a China – para ele, o país sofre com a cobertura parcial dos veículos estrangeiros e com a falta de treinamento de qualidade para profissionais de comunicação chineses. ‘A China tem um problema de imagem ruim’, resume.


Os admiradores de Chenggang dizem que sua crescente influência, principalmente entre os jovens, reflete o desenvolvimento do país nos últimos 20 anos – desde o Massacre da Praça da Paz Celestial. Não se pode negar, entretanto, que sua atuação se encaixa perfeitamente nos planos do governo de usar a mídia estatal para melhorar a imagem da China no exterior.


O Partido Comunista investe cada vez mais em veículos de mídia – altamente censurados – que operam sob o comando do departamento de propaganda oficial. Há rumores de que está sendo criada uma emissora de notícias no modelo de canais como CNN e BBC para ampliar ainda mais o alcance da imagem positiva do país.


Quase diplomata


O jornalista é fluente em inglês e entende de diplomacia – no último Fórum Econômico Mundial, em Davos, teve entrevistados do quilate do ex-premiê britânico Tony Blair, além de trocar e-mails com o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, e manter contato com Henry Kissinger. Mas, por vezes, Chenggang soa como um ativista, fazendo campanhas em seu blog pela valorização das tradições chinesas e pelo consumo de produtos locais. Em 2007, ele deu início a um movimento para tirar a rede de cafés Starbucks de dentro da Cidade Proibida, em Pequim, por considerar inapropriado ter uma marca americana dentro de um local tão relevante historicamente. Hoje, serve-se chá chinês lá.


Para o professor de jornalismo Zhan Jiang, da Universidade da Juventude Chinesa de Ciência Política, em Pequim, Chenggang é contraditório. ‘Como apresentador de TV ele não é ruim, mas fora do programa é meio insuportável’, diz. ‘Se você protesta do Starbucks no Palácio Imperial, por que não protesta do uso do inglês na China? Isso é ultranacionalismo, e é estreito demais’.


Filho de um escritor e uma dançarina, ele estudou para ser diplomata e diz ter mudado de idéia de carreira depois de uma visita do ex-secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali a sua universidade em Pequim, no fim dos anos 90. Chenggang perguntou ao diplomata que nação escolheria se houvesse um sexto membro no Conselho de Segurança da ONU, e a resposta foi ‘CNN’, já que a influência do canal seria maior que a de muitos países. Logo após se formar, em 1999, conseguiu um emprego na CCTV, e foi ganhando status na emissora – com um programa em inglês. Recentemente, mudou para um dos canais em chinês da CCTV, o que aumentou seu alcance e popularidade dentro do país. Informações de David Barboza [The New York Times, 16/3/09].