Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Hezbollah: a guerra de
relações públicas – 1

O Hezbollah arranjou uma forma simples e eficaz de lidar com jornalistas estrangeiros: deixar que as imagens falem por si só. A cena, segundo Ulrike Putz [Der Spiegel, 28/7/06], é grotesca, com dezenas de jornalistas em pé em meio a prédios devastados, em volta de um porta-voz de imprensa do Hezbollah. Os câmeras filmam os edifícios recém-bombardeados, enquanto os repórteres têm de usar coletes protetores. Nada melhor para trazer ao telespectador a idéia de perigo iminente.


Após passeio organizado pela milícia nas vizinhanças praticamente devastadas de Haret Hreik, ao sul de Beirute, um porta-voz do Hezbollah anunciou que todos iriam se reunir novamente no mesmo lugar, na mesma hora. ‘Gostaria de pedir que a equipe da CNN não se atrase amanhã’, disse. ‘Vocês já se atrasaram nas últimas três vezes.’


Mesmo com um certo senso de rotina após duas semanas de conflito, não há método no trabalho dos relações públicas do Hezbollah. Quando alguns câmeras tentaram filmar em Dahieyeh por conta própria, foram obrigados a sair da região. Como no sul do Líbano, não há imagens de militantes do Hezbollah em Dahieyeh, apenas infindáveis fotos mostrando o horror sofrido pela população civil. As imagens que gritam aos pedestres nas capas dos jornais árabes são tão brutais que falam por si só, sem necessidade de uma temperada extra com palavras apelativas. Uma estratégia eficaz e sagaz do Hezbollah.


Parte dessa estratégia inclui impedir a livre circulação de jornalistas por Dahieyeh, uma vez que a possibilidade de informantes infiltrados entre os jornalistas esteja na mente do Hezbollah. A milícia já prendeu cerca de 140 espiões até agora.