Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

História de Woodward se repete. Desta vez, na Time

Na investigação do vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame, as notícias sempre parecem adquirir proporções maiores do que as apresentadas inicialmente. Intimados a depor, Judith Miller e Matthew Cooper acabaram ameaçados de prisão – no caso dela, a ameaça se tornou real. Recentemente, descobriu-se que o famoso Bob Woodward também está envolvido no caso, e pode ter sido o primeiro jornalista a ter tido conhecimento da identidade de Valerie.

Agora, é a vez da história da repórter da revista Time Viveca Novak crescer. Há algumas semanas, foi noticiado que Viveca teria sido intimada pelo promotor Patrick Fitzgerald a testemunhar sobre uma conversa que teve em 2004 com o advogado do estrategista político da Casa Branca Karl Rove, Robert Luskin. O depoimento da jornalista se deu na quinta-feira (8/12) no escritório de seu advogado, em Washington. No dia seguinte, o redator-chefe Jim Kelly afirmou que a Time publicaria um artigo de Viveca sobre o assunto na semana seguinte.

O artigo foi divulgado no sábado [10/12/05], e nele estava a revelação de que a repórter já havia conversado com Fitzgerald no início de novembro, sem contar nada a seus chefes na Time. Viveca conta que recebeu telefonema de Luskin no final de outubro, na semana em que Lewis Libby foi indiciado. Na tentativa de ajudar Rove, que continua sob investigação, o advogado teria contado ao promotor sobre conversa que teve com ela sobre Valerie Plame. Ele ligou para a repórter para avisá-la que Fitzgerald poderia procurá-la – o que aconteceu uma semana depois.

Troca de papéis

Em uma das conversas de Viveca com Luskin – foram alguns encontros em 2004 –, ele disse que Rove não era a fonte de Matthew Cooper, também da revista Time. Na ocasião, Rove tinha testemunhado diante do grande júri e feito esta mesma afirmação. Viveca afirma que respondeu instintivamente a Luskin, perguntando se ele tinha certeza daquilo que dizia, pois ela tinha ouvido informações diferentes a respeito. O advogado mostrou-se surpreso. ‘Eu não tinha o objetivo de dar dicas a Luskin. Eu é que deveria estar apurando informações. É verdade que repórteres e fontes costumam trocar informações, mas aquele não era o caso. […] Eu gostaria de ter contado a meu chefe sobre isso’, desabafa ela.

Viveca só o fez em 20/11, quando foi chamada para depor pela segunda vez. ‘Na sexta-feira (18/11), quando eu estava escrevendo, ironicamente, sobre o papel de Bob Woodward no caso, meu advogado me ligou e disse que Fitzgerald queria me ver sob juramento. Eu compreendi que agora precisava compartilhar a informação com Jay Carney, nosso chefe da sucursal de Washington.’ Ela conta que Carney ligou para Kelly, ‘e ninguém ficou feliz com a notícia, muito menos eu’.

A repórter cita a desagradável situação enfrentada pelo colega Matt Cooper para justificar sua atitude. ‘Eu sabia pelo que Matt tinha passado – a transformação indesejada em celebridade, as especulações, a exposição de sua vida e carreira’, afirma ela. Mesmo sabendo que não precisava proteger nenhuma fonte e por isso não enfrentava a ameaça de ir para a cadeia, já que foi Luskin quem revelou a Fitzgerald sobre a conversa, Viveca diz que queria evitar se tornar parte da história.

Encontro agradável

A jornalista não precisou testemunhar diante do grande júri. Sobre o segundo encontro com o promotor, ela diz que ele foi muito ‘agradável e profissional’ e que manteve sua promessa – feita ao advogado dela – de se ater a questões sobre as conversas com Luskin.

Se seu depoimento levará à acusação de Rove, Viveca não sabe. Ela afirma que, até pouco tempo, não sabia que seu questionamento a Luskin sobre o estrategista político ser a fonte de Cooper tinha levado o advogado a começar uma intensa busca por provas de que os dois haviam conversado sobre Valerie Plame. Para relembrar: Rove só confirmou em seu segundo testemunho diante do grande júri que havia de fato falado com o repórter da Time. Ele teria recordado a conversa depois de encontrar um e-mail para o então vice-conselheiro de Segurança Nacional Stephen Hadley onde citava o assunto.

Viveca conclui seu artigo dizendo que Luskin não gostou quando soube que ela o escreveria. Ela afirma, no entanto, que se sente no direito de divulgar informações sobre as conversas que teve com o advogado porque partiu unilateralmente dele a iniciativa de divulgá-las para Fitzgerald.

A investigação e o papel da jornalista nela ‘são coisas bastante sérias’, afirmou Kelly. A Time publicou nota em que informa que Viveca está de licença, por uma decisão mútua dela e da revista. Informações de Viveca Novak [Time, 19/12/05 – postado em 10/12], Richard Lacayo [Time, 19/12/05 – postado em 11/12] e Pete Yost [Associated Press, 11/12/05].