Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

História em quadrinhos critica governo na internet

Buscando desesperadamente por seu filho, desaparecido durante os protestos após as polêmicas eleições presidenciais do Irã, em junho do ano passado, uma mulher implora por ajuda a um guarda do lado de fora da penitenciária de Evin, na capital do país. ‘Não tenho mais ninguém para pedir auxílio. Você pode me ajudar a encontrá-lo’, diz Zahra. Diante da recusa do policial, ela olha, sem esperança, para o mar de gente nas ruas de Teerã após o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter declarado vitória. Ao mesmo tempo, lembra-se de uma mulher que tem o mesmo nome que o seu: Zahra Kazemi, fotojornalista canadense-iraniana morta em 2003 depois de ser espancada em Evin.


A cena acima faz parte de Zahra’s Paradise, história em quadrinhos online escrita e ilustrada por dois iranianos que hoje vivem nos EUA. Os autores optaram pelo anonimato por temerem retaliação a seus parentes no Irã. Atualizadas três vezes por semana, as tirinhas mostram, por meio de imagens em preto e branco, a história dos manifestantes iranianos e o horror que eles enfrentam desde as eleições presidenciais de 2009. Milhares de leitores de todo o mundo acompanham cada tirinha, em idiomas que vão do persa ao coreano – há inclusive em português. Quando a história acabar, os autores planejam lançar um livro.


Cemitério


O título – ‘Paraíso de Zahra’, tradução livre – tem um impacto especial nos iranianos, por ser o nome de um cemitério no sul de Teerã. Ao longo dos anos, muitas das vítimas da República Islâmica acabaram sendo enterradas no local; há tantos túmulos que eles só podem ser encontrados por um mapa. Iranianos de todos os tipos estão enterrados no cemitério – do aiatolá Ruhollah Khomeini, pai da revolução iraniana, a Neda Agha Soltan, jovem morta durante um dos protestos do ano passado e que virou símbolo da oposição.


A história de Zahra é familiar à de muitas mães. Centenas de manifestantes estão desaparecidos depois dos protestos. Um grupo de mulheres, chamado Mães de Luto, ainda se encontra nos parques de Teerã para lembrá-los e pedir pela libertação dos presos. Informações da Economist [20/5/10].