Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Inquérito sugere fim de propaganda dos EUA

Uma investigação do Departamento de Defesa americano concluiu que pagar a jornalistas iraquianos para produzirem matérias positivas dos EUA pode prejudicar a credibilidade do país. De acordo com a parte do relatório divulgada publicamente na terça-feira (23/5), os militares receberam recomendação de parar com a campanha de propaganda no Iraque financiada pelo Pentágono.


Revelações, em novembro do ano passado, de que a empresa de relações públicas Lincoln Group havia recebido milhões de dólares do Pentágono para plantar notícias na mídia e produzir propagandas televisivas no Iraque geraram críticas em Washington. Membros do Congresso afirmaram que a prática poderia diminuir a credibilidade dos EUA. Funcionários da Casa Branca e do Exército alegaram, no entanto, que não tinham conhecimento do plano de plantação de notícias.


Desde então, o general George W. Casey Jr., mais alto oficial americano no Iraque, encarregou o almirante Scott Van Buskirk de investigar o caso. Casey afirmou diversas vezes que aprova a campanha agressiva de propaganda para influenciar a opinião pública no Iraque, e que ela continuaria até que fosse determinado que ela teria de acabar.


Mais fiscalização


Embora o documento não mencione o Lincoln Group, Buskirk concluiu que o Exército deveria inspecionar empresas envolvidas em esforços de propaganda mais atentamente ‘para assegurar uma fiscalização mais adequada’. Ele também culpou o Exército por ter falhado em determinar que pagar por artigos plantados poderia ‘diminuir o conceito de uma imprensa livre’ no Iraque.


Na terça-feira (23/5), não ficou claro se o relatório poderia ter algum efeito imediato nas ações militares no Iraque. Em entrevistas ao longo da semana, diversos funcionários do Pentágono afirmaram que o Grupo Lincoln e outras empresas ainda estavam envolvidas com a prática de pagar por matérias em veículos de comunicação iraquianos.


Funcionários do Pentágono afirmaram que o secretário de Defesa, Donald H. Rumsfeld, tem considerado pedir uma revisão das normas existentes no Exército para deixar a comunicação e operações de informação militares mais explícitas ao público.


Prática apropriada


A conclusão do relatório, afirmando que os comandantes americanos no Iraque não violaram regras militares na campanha de propaganda que começou em 2004, também foi divulgada. Entretanto, não foram reveladas partes mais polêmicas do relatório, como a descoberta da criação, em 2004, do Clube de Imprensa de Bagdá, no qual jornalistas iraquianos eram pagos para produzir matérias sobre os esforços de reconstrução americana.


Diversos funcionários do Pentágono reclamaram que a equipe do general demorou a tornar público o resultado das investigações. Ainda que sugira que o programa de propaganda seja encerrado, Buskirk disse considerar que a prática de camuflar a responsabilidade dos EUA pelas matérias plantadas no Iraque foi ‘apropriada’. Ele completou, entretanto, que seria importante a criação de novas normas de propaganda que determinem as circunstâncias propícias para este tipo de programa. Informações de David S. Cloud [The New York Times, 24/5/06].